29 abril 2009

Visita à Cervejaria Wäls


Estando em Belo Horizonte não poderia deixar de escapar a oportunidade de conhecer a cervejaria Wäls, onde são feitas algumas das melhores cervejas artesanais brasileiras. A Wäls surgiu no ano de 1999 em Belo Horizonte e quase que concomintantemente no Rio de Janeiro. Infelizmente, principalmente para os cariocas, o projeto no Rio de Janeiro não vingou e por isso não existe mais. O Sr. Miguel Carneiro Neto era empresário do ramo de alimentação em Belo Horizonte. Ele possuía uma rede de fast-food (Bang-bang) onde era servido chope Kaiser e teve a idéia de fabricar seu próprio chope. Chamou o amigo Tácilo Coutinho para trabalhar na produção das cervejas e iniciou o projeto. O nome Wäls não tinha nenhum significado específico, mas hoje dá nome a uma das mais destacadas microcervejarias brasileiras.

No começo eram fabricados chopes Pilsen, Stout e English Pale Ale. O público mineiro estranhou os novos sabores, então eles tiveram que regredir nos planos de fabricar cervejas "diferentes", mas continuaram fabricando uma pilsen de qualidade. Ainda em 1999, Tiago Carneiro, filho de Miguel, começou a trabalhar na cervejaria na área de administração. O outro filho de Miguel, José Felipe Carneiro, entrou na empresa no ano de 2002, assumindo função na área de marketing e como ajudante de produção de Tácilo Coutinho.

Sala de cozimento da Wäls.

Fermentadores/maturadores contendo o chope Wäls. Observem os barris sendo preenchidos de chope que será distribuído em Belo Horizonte.

Pasteurizador -
Equipamento que recebe as garrafas de cerveja Wäls para realizar a pasteurização.


No ano de 2007, em viagem à São Paulo para visitar a Brasil Brau (feira para produtores de cerveja), Tácilo Coutinho provou uma Dubbel e decidiu que iria produzir uma cerveja do seu estilo preferido. Dessa história surgiu a primeira cerveja especial da Wäls na tentativa de entrar novamente neste mercado. A Wäls Dubbel é uma cerveja deliciosa e que segue o estilo belga de fazer cerveja. Foi tomado todo o cuidado na preparação da cerveja, incluindo uma apresentação com uma das garrafas mais bonitas presentes tanto no mercado brasileiro como mundial. É uma garrafa de 750ml fechada com rolha com uma aparência bem clássica. A cerveja recebe duas fermentações, incluindo uma dentro da garrafa, o que proporciona um amadurecimento dos aromas e sabores da cerveja com o tempo. Também é possível encontrá-la em garrafas long-neck (355ml).

Fomos muito bem recebidos pelo sr. Miguel e por José Felipe.

Em 2008 foram lançadas mais duas cervejas. A Wäls Trippel também segue a escola belga e pode ser encontrada em garrafas de 750 e 355ml, sendo refermentadas na garrafa. A Wäls Pilsen segue o estilo original da República Tcheca, com boa presença de lúpulo. Esta é encontrada somente em garrafas de 355ml. Neste caso a cerveja recebe uma mistura de quatro tipos de lúpulo e tem 43 IBU (International Bitterness Units - unidade de medida de amargor). Uma "paulada" de lúpulo se comparado com as "pilsens" mais comuns nacionais que tem em torno de 12 IBU. Aliás, todas as cervejas da Wäls possuem uma presença marcante de lúpulo, o que não é tão comum em estilos Dubbel ou Trippel mas que me deixa encantado. Adoro lúpulo e esta ousadia da Wäls me dá esperança de que é possível ousar ao fazer cerveja e mesmo assim conseguir ótimos resultados. O mercado americano de cerveja artesanal (Craft Brewing) atual vive de produzir cervejas inusitadas e extremas. Desta forma o próprio José Felipe define o trabalho na Wäls como o de um cientista porque envolve muita experimentação.

Durante a visita pude conhecer as instalações da Wäls e degustar todas as cervejas fabricadas por lá. A oportunidade foi sensacional pois degustei as cervejas em várias etapas do processo de fabricação. Pude degustar uma Trippel ainda fermentando e outra logo depois de iniciar a refermentação na garrafa (nem rótulo tinha ainda). Nestas fases o lúpulo ainda está bem forte e presente. A Pilsen foi degustada na fase maturação e depois de passado um ano a data de fabricação, encerrando o prazo de validade. Como o lúpulo tem propriedades conservantes, a cerveja ainda estava em perfeito estado. Na Pilsen também é impressionante a presença do lúpulo nestas fases. A Dubbel foi degustada logo depois de iniciar a refermentação na garrafa (sem rótulo) e outra garrafa de 750ml do primeiro lote, ou seja, com 2 anos de guarda. É impressionante como a cerveja evolui e fica mais complexa. Não pensei nem duas vezes e trouxe algumas comigo para deixar de guarda aqui em Fortaleza. Vou publicar um post depois com uma descrição melhor das cervejas Wäls, incluindo o perfil sensorial de cada uma.

Degustando cervejas direto dos fermentadores/maturadores (Trippel e Pilsen).

Chope Wäls.

Wäls Pilsen. Uma ótima Bohemia Pilsen carregada de lúpulo (43IBU).

Wäls Dubbel com 2 anos de guarda (750ml) e ainda refermentando na garrafa (sem rótulo - 355ml).

Wäls Trippel ainda refermentando.

Para este ano de 2009 a Wäls promete novidades. Uma delas é a Wäls Quadruppel, mais uma cerveja de estilo belga, só que esta vai receber chips de carvalho na maturação, o que promete adicionar uma boa complexidade à cerveja. A outra novidade ainda é segredo, mas José Felipe promete que vai lançar um produto que vai agradra muita gente e agregar valor ao paladar do brasileiro. Não sei se conseguirei esperar por estas novidades sem ficar ansioso. Com certeza irei à caça delas quando forem lançadas.

Infelizmente, no início deste ano Tácilo Coutinho deixou este mundo. A função de produção da Wäls ficou sob a responsabilidade de José Felipe que promete continuar a fabricação de cervejas de qualidade. Parabenizo a todos da Wäls pelo trabalho que vocês fazem. É fácil perceber a paixão que vocês possuem pela sua cerveja, o que me deixa muito feliz. Para finalizar, agradeço o carinho com que fomos recebidos.

25 abril 2009

Visita à Falke Bier

A Falke Bier já foi tema de dois posts antigos onde pude descrever um pouco da história desta microcervejaria mineira e algumas cervejas que são produzidas por lá, especificamente as Falke Bier Ouro Preto, Estrada Real IPA e Tripel Monasterium. Clique nos links para ler novamente os posts:

Falke Bier Ouro Preto e Estrada Real IPA
Falke Tripel Monasterium

Não posso deixar de registrar que no último dia 23 de abril a Falke Bier completou 5 anos de idade. Parabenizo a Falke Bier em nome do Marco Falcone e de todos que fazem dessa uma das melhores cervejarias brasileiras.

Em viagem turística, cultural e cervejeira a este maravilhoso estado da nação brasileira, as Minas Gerais, tive o prazer de conhecer as instalações da Falke Bier com minha namorada Glícia e ser recebido pelo Marco Falcone, um cara dos mais apaixonados por cerveja que tá tive o privilégio de conhecer. A Falke Bier fica em Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte a cerca de 45 minutos de carro do centro da cidade. Para quem não conhece bem a região, o que é o meu caso, fica um pouco difícil chegar sem se perder pelo caminho. Felizmente tive a providencial ajuda do amigo e blogueiro Rodrigo Lemos do blog Beer Architecture e de sua namorada, a Thaís. O calor era grande naquela manhã, mas ao chegarmos na Falke pude logo perceber como a temperatura por lá era mais amena e agradável, proporcionada pela sombra das copas das árvores presentes no sítio onde fica a microcervejaria.

Logo de início o Marco nos mostrou a mini plantação de cevada que ele cultivou para servir de demonstração às pessoas que visitam a Falke. Lá também tem uma trepadeira de lúpulo. Infelizmente quando fomos lá, o lúpulo estava seco em hibernação, mas mesmo que não estivesse assim, essa é uma planta macho e não dá os cones característicos de lúpulo.

Marco Falcone nos mostra a plantação de cevada.

Lúpulo seco hibernando. A planta está trepada na árvore em frente à cervejaria.

Depois conhecemos o interior da cervejaria, onde vimos a sala de cozimento e os tanques de fermentação e maturação.

Sala de cozimento.

Interior da cervejaria com fermentadores/maturadores.

Um dos pontos altos da visitação foi conhecer o novo Espaço de Degustação e Análise Sensorial de Cervejas Hilma e Julio Falcone, em homenagem aos pais de Marco Falcone, inaugurado em dezembro de 2008 e que vem contribuir com a evolução da cultura cervejeira brasileira. Tudo foi pensado nos mínimos detalhes. O espaço possui estrutura completa para acondicionamento de cervejas, espaço gourmet, mesa em "U" para 15 lugares e ambientação com referências da cultura cervejeira, como garrafas de cervejas degustadas. Lá pudemos nos deliciar com os chopes Falke Bier Pilsen, Red Baron e Ouro Preto, além da cerveja Falke Bier Estrada Real IPA, tudo hamonizado com queijos. Aliás, o queijo gorgonzola harmonizado com a Ouro Preto é espetacular.

Espaço de Degustação e Análise Sensorial de Cervejas Hilma e Julio Falcone.

Cervejas degustadas. Deliciosas!

Também conhecemos a Cave onde a Monasterium passa sua última estapa de refermentação e maturação. Esta Cave foi construída por baixo da cervejaria, é revestida internamente por pedras que mantém a temperatura interna constante em 19°C e possui espaço para as garrafas repousarem na horizontal. Música barroca é tocada dentro da cave para ajudar as leveduras a trabalharem melhor.

Simpático monge guardando a escada de acesso à Cave.
Reparem que ele também gosta de degustar uma Monasterium
.

Escada de acesso à Cave.

Silêncio!

Eu e Marco Falcone no interior da Cave.

Ao final da visita nos esbaldamos com chopes e cervejas Falke servidos direto dos tanques.

Marco Falcone, eu e Rodrigo Lemos.

24 abril 2009

Frei Tuck Slow Beer

Fachada do Frei Tuck durante o dia.

Estive em Belo Horizonte no último final de semana com minha namorada, Glícia. Chegando nesta bela cidade não poderia deixar de entrar em contato com duas grandes figuras do cenário cervejeiro brasileiro: o blogueiro e beer sommelier Rodrigo Lemos do blog Beer Architecture e o cervejeiro e proprietário da Falke Bier Marco Falcone. Marcamos um encontro no Frei Tuck Slow Beer um dos bares com melhor carta de cerveja da cidade e local de encontro dos amantes da boa cerveja.
Marco Falcone, Rodrigo Lemos e eu, degustando boas cervejas

Marco Falcone Glícia e eu.

Se não estou enganado, o Frei Tuck é o único local de Belo Horizonte onde é possível encontrar os três chopes Falke Bier: Pilsen, Red Baron e Ouro Preto. É possível pedir um trio de degustação com quantidade reduzida dos três chopes e depois continuar tomando os seus preferidos.

Degustação de chopes Falke Bier.

21 abril 2009

Uma imagem vale mais que mil palavras V - Gaffel Kölsch


Dessa vez temos um vídeo um pouco diferente. Apesar do título dos meus posts com vídeos ser "uma imagem vale mais que mil palavras", neste vídeo temos a descrição em inglês de todo o processo de fabricação da Gaffel Kölsch, cerveja típica da cidade de Colônia na Alemanha e tema do último post. Apesar de ser um vídeo um pouco longo vale a pena assistir para aprender um pouco mais sobre a fabricação de cervejas em geral.


19 abril 2009

Gaffel Kölsch


A palavra Kölsch significa Colônia no dialeto antigo da cidade de mesmo nome na Alemanha. As cervejas Kölsch são portanto o estilo típico da cidade de Colônia. A história de cerveja em Colônia data dos tempos da idade média e podem ser encontradas em evidências escritas em registros de imóveis do ano de 1170. No ano de 1302, acervejaria “Zum Leysten” estava registrada pela primeira vez, sendo localizada na rua Eigelstein, no centro de Colônia. A cervejaria Gaffel está localizada exatamente no mesmo local que era ocupado pela cervejaria “Zum Leysten”, 700 anos depois. O nome Gaffel significa garfo de dois dentes e os Gaffels foram pessoas que tiveram participação ativa na transição do período autoritário da era medieval para a democracia. Os Gaffels lideravam associações de trabalhadores conhecidas como Guildas (Guilds em inglês) que promoviam reuniões para reinvidicar seus direitos. A cervejaria somente recebeu o nome de "In der Gaffel" no ano de 1908, quando os irmãos Beckers assumiram o controle da cervejaria após um longo período de crise.

A Kölsch é um estilo de alta fermentação, caracterizado pela cor amarela pálida, pela presença clara mas não excessiva de lúpulo, por um aroma levemente frutado e pela aparência cristalina devido à filtragem. É uma cerveja Ale que fermenta em altas temperaturas mas matura em temperaturas baixas. É um estilo que visualmente lembra muito as cervejas Pilsen alemãs mais comuns e que pode ser confundida facilmente pelos consumidores menos avisados, até mesmo no sabor. No ano de 1986 foi assinada a Convenção de Kölsch, protegendo o estilo e tornando uma denominação de origem, assim como o Champanhe para a região francesa. Somente cervejarias de Colônia poderiam produzir cervejas denominadas como Kölsch. Apesar disso, algumas cervejarias produzem suas versões desta cerveja fora da Alemanha. Um desses exemplos é a Eisenbahn Kölsch produzida em Blumenau no sul do Brasil.

Tradicionalmente, as Kölsch são servidas em copos cilíndricos e finos de 200ml.


Gaffel Kölsch - Kölsch, Ale, 4.8%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Amarela/ dourada clara, límpida.
Espuma: Boa formação e médiaduração, de cor branca, deixando marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, levíssimo frutado, lúpulo.
Paladar: Malte, doce, leve amargor final, alta carbonatação, baixo corpo.

Dentro do que se porpõe a ser pode ser considerada uma boa cerveja. Uma Ale que parece mais com uma Lager. Esta pelo menos não tinha nenhum defeito. Gosto de cervejas com maior complexidade, mas esta não é uma característica que encontraremos em uma Kölsch. O estilo é leve e refrescante, lembrando muito as Pilsens tradicionais alemãs, sendo ligeiramente menos amargas e com um frutado muito leve, quase que inexistente.

17 abril 2009

Uma imagem vale mais que mil palavras IV - Petrus


A cerveja degustada no post anterior é a Petrus Tripel. Infelizmente não consegui o vídeo dela. A cerveja que aparece neste vídeo é a Petrus Speciale. Vale a pena pelo menos para ver a taça da Petrus, que é a mesma para todas as cervejas da linha, e mais uma grande cerveja belga.



15 abril 2009

Petrus Gouden Tripel


A cervejaria Bavik surgiu no ano de 1894 na Bélgica e foi criada pelo fazendeiro Adolphe De Brabandere. A cervejaria existe até hoje e ainda pertence à mesma família depois de quatro gerações. Além de produzir cervejas, curiosamente eles também trabalham com a produção de águas gourmet, sucos de frutas e vinhos. As cervejas produzidas pela Bavik são:

Bavik Pils (uma Pilsen), Wittkerke (uma WitBier), Wittekerke Speciale, Wittkerke Rosé, Ezel, White, Ezel Brown, Pilaarbijter Blond e Pilaarbijter Dark.

O carro chefe da empresa é a linha de cervejas Petrus, incluindo as versões Blond, Double Brown, Aged Pale, Winterbeer, Speciale, Oud Bruin (uma Flemish Brown Ale envelhecida por dois anos em barril de carvalho) e a Petrus Golden Tripel, a única que está sendo importada no Brasil e tive o prazer de degustar. Curiosamente, o nome Petrus significa São Pedro em Latim e mostra a íntima ligação da igreja e da religião com as cervejas no velho continente.


Petrus Gouden Tripel - Belgian Tripel, 7.5%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Dourada, levemente turva.
Espuma: Altíssima formação e duração, de cor branca, ótima consistência, perlage intenso.
Aroma: Malte, doce, cítrico, frutado (laranja), lúpulo, fenólico, picante, leve álcool.
Paladar: Malte, doce, cítrico, frutado (laranja), picante, álcool, amargor final de média duração, bom corpo, alta carbonatação.

Boa cerveja. Belíssima espuma. O aroma não se revela muito fácil, mas no sabor compensa um pouco com boa presença de maltes, um bom frutado e cítrico que lembra laranja além de um amargor gostoso no final. É bem picante, como uma Tripel deve ser. Gostei e estou curioso quanto às outras cervejas da linha. Podem importar que devem ser interessantes.

14 abril 2009

Uma imagem vale mais que mil palavras III - Gouden Carolus


Mais um belo vídeo para o deleite dos leitores. Dessa vez temos a Gouden Carolus Classic. O rótulo ainda é do antigo, mas a cerveja é a mesma do post. Perceba como a aparência corresponde ao que descrevei, incluindo a limpidez.

Confira o post original sobre as cervejas Gouden Carolus clicando aqui.

Confira outros vídeos clicando aqui.


13 abril 2009

Nosso blog virou notícia no Brejas


A paixão pela boa cerveja foi o incentivo inicial para escrever um blog. Para os que não são blogueiros talvez seja difícil saber o trabalho que dá pesquisar e escrever sempre novas matérias, ou como preferimos falar, posts. Apesar de trabalho árduo que é manter um blog atualizado sempre somos brindados com elogios e com o crescente movimento de pessoas lendo e acompanhando o blog.

Neste domingo, o Para Que VoCerveja foi assunto de um post escrito pelo Maurício Beltramelli do famoso blog do Brejas, que também possui o único ranking brasileiro de cerveja. Outro blog citado na matéria foi o All Beers. É possível ler o post clicando na imagem acima, mas recomendo ler a matéria na íntegra clicando aqui.

12 abril 2009

Cervejaria Het Anker e as cervejas Gouden Carolus


Foto de Filip Geerts do ótimo blog belgian beer board.

A cervejaria Het Anker, que significa a âncora, é uma das mais antigas em funcionamento na Bélgica. As primeiras evidências da cervejaria estão nos registros dos fabricantes de cervejas da cidade de Mechelen em 1369. No século 15 a cervejaria ocupava cerca de um terço da cidade e fazia parte de uma beguinaria, um claustro de freiras.

Em 1872, Louis Van Breedam e sua irmã adquiriram o controle sobre a cervejaria Het Anker e a transformaram em uma das mais modernas cervejarias operadas à vapor naquele tempo. Durante a I Guerra Mundial a atividade de fabricação de cerveja foi interrompida e os equipamentos, que eram de cobre, foram usados para fabricação de armas, fato muito comum nas cervejarias de países ocupados por tropas alemãs durante as Guerras.

Em 1990, Charles Leclef, da quinta geração da família Van Breedam, assumiu o controle sobre a cervejaria. Os equipamentos para a fabricação de cerveja foram todos modernizados para garantir a estabilidade e a qualidade dos produtos. Novas cervejas foram lançadas e alcançaram sucesso internacional.

As cervejas mais conhecidas fabricadas pela Het Hanker possuem o nome Gouden Carolus, uma mistura de neerlandês com latim que significa Carlos Dourado, referência às moedas douradas do Imperador Carlos V (1500-58) que nasceu em Ghent e cresceu na mesma cidade da cervejaria, Mechelen. Carlos V foi imperador do Sacro Império Romano-Germânico um título remanescente do Império Romano, de Carlos Magno e dos imperadores medievais e impunha a missão divina de guardar a paz e a justiça na cristandade. As cervejas Gouden Carolus podem ser encontradas nas versões:

- Gouden Carolus Classic:
2007 - Melhor Strong Dark Ale no World Beer Award.
2007 - Medalha de ouro no estilo Belgiam Dubbel no European Beer Star.
2006 - Medalha de bronze no estilo Belgiam Dubbel no European Beer Star.
2005 - Medalha de ouro nos estilos belgas e franceses no Autralian International Beer Awards.
2004 - Medalha de prata no estilo Strong Dark Ale no World Beer Cup.

- Gouden Carolus Tripel:
2006 - Medalha de bronze no estilo Tripel no World Beer Cup.
2005 - Medalha de bronze no estilo Tripel no European Beer Star.
2004 - Medalha de prata no Helsinki Beer Festival.
2002 - Medalha de ouro no estilo Tripel no World Beer Cup.

- Gouden Carolus Ambrio.
- Gouden Carolus Cuveé Van de Keiser Blauw (Blue - Azul) - Feita no dia do aniversário de Charles V, 24 de fevereiro. Uma cerveja de guarda.
- Gouden Carolus Christmas - Sazonal de Natal.
- Gouden Carolus Easter Beer - Sazonal de Páscoa.
- Gouden Carolus Hopsinjoor - Lançada em 2008, é uma Belgiam IPA, novo estilo que recupera o gosto por cervejas lupuladas na Bélgica.
- Gouden Carolus Cuveé Van de Keizer Rood (Red - Vermelha) - Também lançada em 2008, é a versão clara para a cerveja do imperador (Cuveé Van de Keiser).


Gouden Carolus Classsic - Belgiam Dark Strong Ale, Ale, 8.%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Cobre escura, límpida.
Espuma: Boa formação e média duração de espuma, de cor bege, boa consistência, deixando muitas marcas no copo.
Aroma: Malte, doce, caramelo, frutado, picante, torrado, vinho do porto.
Paladar: Malte, doce, caramelo, frutado, picante, torrado, álcool, vinho do porto, bom corpo, leve amargor.

Boa cerveja. Bom perfil maltado, com maltes escuros que remetem ao torrado tanto no aroma quanto no sabor. Leve fenólico aparece através de traços picantes, resultado da reação de fermentação.


Gouden Carolus Tripel - Belgiam Tripel, Ale, 9%ABV, garrafas 330ml.

Cor: Dourada intensa/ ambar clara, levemente turva.
Espuma: Alta formação e média duração, de cor branca, boa consistência, deixando muitas marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, frutado (laranja), fermento, leve picante.
Paladar: Malte, doce, frutado (laranja), picante, fenólico, amargor final, bom corpo.

Otima Tripel. Bem equilibrada com uma boa presença do fermento, lembrando laranja, típico do estilo, e um fenólico picante. Esta foi a única degustada ainda com o rótulo antigo. As outras estão com o rótulo novo lançado em 2008. Perceba a diferença.


Gouden Carolus Ambrio - Belgiam Strong Pale Ale, Ale, 8%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Cobre, turva.
Espuma: Alta formação e média duração, cor bege clara, bem consistente, deixando muitas marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, frutado (maçã, banana, pêra), picante.
Paladar: Malte, doce, frutado (maçã, banana, pêra), picante, álcool, leve amargor, corpo médio.

Boa cerveja. Tem muito em comum com as outras Gouden Carolus. Seu maior destaque é o aroma frutado, bem claro e limpo, lembrando maçã e banana. Em síntese, é uma cerveja bem agradável e fácil de beber.


Gouden Carolus Hopsinjoor - Belgiam IPA, Ale, 8%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Dourada, turva.
Espuma: Altíssima formação e duração, de cor branca, bem consistente, deixando muitas marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, lúpulo, frutado (maçã, banana, pêra), fermento, picante, fenólico.
Paladar:Malte, doce, frutado (maçã, pêra), picante, fermento, fenólico, bom amargor final, com boa intensidade e duração, bom corpo.

Ótima cerveja. Já estava com muita curiosidade em torno dela desde seu lançamento. Aroma inicial bem doce e maltado. Presença de um frutado delicioso, lembrando maçã, banana e pêra. O lúpulo está bem presente, assim como o esperado para o estilo, sendo facilmente perceptível no aroma e principalmente no sabor, com um belo amargor. A espuma é lindíssima e de alta formação e duração, muito provavelmente pela maior presença de lúpulo que ajuda na manutenção de espuma. Considero o aroma desta cerveja como perto da perfeição. A união do aroma dos maltes, do frutado e do fenólico resultantes do processo de fermentação típico das cecrvejas belgas com o aroma do lúpulo típico das cervejas inglesas. Fui cativado! Impressionante como o perfil de amargor lembra bem algumas inglesas. Os lúpulos usados nesta cerveja são o Goldings, Spalt, Hallertau e Saaz. O nome Hopsinjoor é a união da palavra inglesa hops, que significa lúpulo, com opsinjoor, que é um homem baixo, gordo e com bigode, figura do folclore de Mechelen.

07 abril 2009

Uma imagem vale mais que mil palavras II - Orval

Seguindo a nova idéia de acrescentar vídeo-posts provocativos, aproveito o post da Orval e insiro este vídeo para o deleite dos leitores.



Haja força de vontade para aguentar tanta tortura!

Se você quiser ler mais sobre a Orval, basta clicar aqui.

Se você quiser ver outros vídeos, clique aqui.

06 abril 2009

Orval


Esta cerveja especial é fabricada dentro de um mosteiro Trapista, mais precisamente na abadia de Orval. A Ordem Trapista (Ordem dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância) é uma congregação religiosa católica que segue a regra beneditina, cujos preceitos são de obediência, silêncio, pobreza e humildade, dividindo o tempo de vida monástica entre o trabalho, o estudo e a meditação. Uma das atividades dos monges Trapistas é a fabricação de produtos destinados à venda para o sustento das abadias. O produto mais conhecido destas abadias é a cerveja. Hoje existem 6 abadias produzindo as seguintes cervejas na Bélgica: Achel (St. Benedictus Abdij Achel), Chimay (Abbaye de Scourmont), Orval (Abbey d'Orval), Rochefort (Abbey St. Remy Rochefort), Westmalle (Abidj Westmalle) e Westvleteren (Abdij St. Sixtus), além das cervejas La Trappe da Abdij Koningshoeven, a única localizada na Holanda. As cervejas trapistas são conhecidas pela sua qualidade e são refermentadas na garrafa, evoluindo com o tempo. Hoje, na maioria dos rankings cervejeiros uma cerveja trapista é considerada a melhor do mundo, a Westvleteren 12 produzida em St. Sixtus.

Abadia de Orval. Foto Danny Van Tricht.

A história da Abadia de Orval inicia por volta do ano de 1070, quando monges do sul da Itália chegaram na região e iniciaram a construção de uma capela e do mosteiro, o que durou 40 anos. Durante um longo período a Abadia foi destruída inúmeras vezes sendo a última delas em 1793 durante a revolução francesa, quando as forças francesas queimaram a abadia em retaliação à hospitalidade dos monges com as tropas austríacas, dissolvendo a comunidade. Em 1887, a família Harenne comprou as terras e as ruínas da abadia e doou as terras à Ordem dos Cistercienses em 1926 para que a vida monástica voltasse ao seu local de origem em Orval. Albert Van Der Cruysen liderou a reconstrução da abadia perto das ruínas da antiga estrutura. Em 1931 foi iniciada a atividade de fabricação de cerveja na abadia com o objetivo de arrecadar fundos para a reconstrução, sendo que a primeira leva saiu no ano de 1932. Henri Vaes foi o arquiteto na reconstrução, que terminou no ano de 1947, e também foi responsável pelo desenho da taça da cerveja Orval.

Fonte presente nas ruínas da antiga abadia. Foto Danny Van Tricht.

Existe uma lenda sobre a fundação da abadia de Orval. Nesta lenda, a viúva Mathilda de Tuscany acidentalmente deixou sua aliança cair em uma fonte. Ela rezou e uma truta apareceu na superfície da fonte com sua aliança na boca. Mathilda exclamou que aquele era realmente um Val d'Or, vale de ouro em francês, daí o nome para a abadia. Em gratidão Mathilda ajudou com recursos na construção do mosteiro. A fonte existe até hoje e a truta com o anel na boca é o elemento principal do rótulo da cerveja.


Orval - Belgian Pale Ale, Ale, 6,2%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Cobre escura, turva, presença de sedimentos.
Espuma: Alta formação e média duração, de cor bege, boa consistência, deixando marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, lúpulo, caramelo, toffee, melaço de cana, fermento, fenólico (medicinal), condimentado, cravo.
Paladar: Malte, doce, lúpulo, caramelo, toffee, fermento, acidez (azedo), cítrico, bom amargor final com média duração, seca, bom corpo.

Excelente cerveja. Nunca havia provado nada igual. O aroma é predominantemente doce, com boa presença de lúpulo e um fenólico bem diferentem lembrando até remédio. Algumas pessoas descrevem este fenólico como se lembrasse o aroma de sela de cavalo (horse blanket) . Ele é resultado da adição de microorganismos selvagens na fermentação da cerveja, o bretanomyces, mesmo presente em cervejas lambics. O sabor azedo da Orval também é devido à presença de bretanomyces, lembrando algumas lambics mais uma vez. O azedo costuma dividir opiniões. Alguns gostam e outros não. Eu gosto muito e por isso considero a Orval uma cerveja bem complexa e agradável.
Sala de brassagem na cervejaria em Orval. Foto Danny Van Tricht.

A Orval ainda passa pelo processo de dry-hopping, onde o lúpulo é adicionado fresco durante a fase de maturação da cerveja melhorando o aroma e o sabor de lúpulo. Especialistas dizem que uma Orval somente deve ser aberta depois de pelo menos 6 meses de fabricação. Antes disso, o lúpulo ainda está muito forte nela, escondendo os aromas e sabores diversos presentes nesta cerveja. Após seis meses, o lúpulo desaparece um pouco e o bretanomyces, ainda vivo na garrafa, teve opotunidade de trabalhar melhor uma segunda fermentação deixando a cerveja mais complexa.


Lúpulo em saco de nylon adicionado durante dry-hopping da Orval. Foto Danny Van Tricht.

03 abril 2009

Uma imagem vale mais que mil palavras - Duvel


Nada como uma sexta-feira para tomar uma boa cerveja. Encontrei este vídeo e quis compartilhar com vocês. Faço isso para entreter e provocar. O vídeo está em francês e posso até não falar francês e entender muito pouco do que está sendo falado no vídeo. Pelo menos dá para entender bem a pronúncia correta do nome da cerveja.



Agora peço licença para sair e tentar aplacar o desejo por uma boa cerveja. Impossível não ser profundamente afetado por imagens como estas. Covardia!

Se você quiser ler mais sobre a Duvel e minhas impressões sobre esta deliciosa cerveja, clique aqui.
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