31 maio 2011

Stone Vertical Epic Ale 09.09.09



A Stone já foi assunto de vários posts aqui no blog com suas cervejas India Pale Ale, Ruination IPA e Smoked Porter, além do evento de degustação com 40 opções diferentes em Nova Iorque. Esta cervejaria californiana se destaca no mercado americano produzindo os mais diversos estilos de cervejas com muita ousadia e qualidade, além de uma mão bem pesada para o Lúpulo.

Um dos projetos mais interessantes e criativos da Stone é a série Vertical Epic. Esta é uma série especial de Ales refermentadas na garrafa e projetadas para envelhecer bem até o ano de 2012. Uma cerveja diferente é lançada a cada ano, sempre com o intervalo de 1 ano, 1 mês e um dia entre elas. A primeira foi lançada em 02/02/02 e portanto as seguintes foram 03/03/03, 04/04/04, 05/05/05 e assim por diante até a última que será lançada em 12/12/12. Nenhuma das receitas foi repetida e a intenção da cervejaria é de fazer uma degustação vertical no dia 12/12/12 com todas as cervejas da série. O site da Stone traz uma descrição de todas as Epic Ales lançadas até hoje, incluindo as receitas de cada uma para que "homebrewers" possam reproduzir as cervejas em casa.

Contra rótulo em "silk screen" da cerveja (Clique na imagem).

Mais informações do contra rótulo (clique na imagem).

Eu consegui uma Stone Vertical Epic 09/09/09. A cervejaria a classifica como uma Imperial Porter feita no estilo belga. Na receita da cerveja eles utilizaram maltes escuros, candy sugar escuro e fermento belga. Cascas de tangerina e favas de baunilha foram usadas como temperos especiais no final da fervura e na maturação foram adicionados chips de carvalho. Abaixo minhas impressões sobre ela:


Stone Vertical Epic Ale 09.09.09 - Belgian Dark Strong Ale, 8.6% ABV, garrafa 660ml, US$ 6,80.

Cor: Preta, opaca.
Espuma: Boa formação e duração, cor bege escura, boa consistência, deixa muitas marcas no copo.
Aroma: Malte, torrefação, chocolate, leve café, frutado (banana passa), cítrico, baunilha, fenólico, picante, madeira (carvalho).
Paladar: Malte, torrefação intensa, chocolate, fenólico, frutado (banana passa), citrico, acidez da torrefação, álcool, baunilha, madeira (carvalho), final mais adocicado com algum amargor acompanhando, ótimo corpo, textura aveludada, levemente seca, carbonatação relativamente baixa.

Ótima cerveja. Rica e intensa. Complexa, com muitas camadas de sabor, mas ao mesmo tempo fácil de beber. Esta é daquelas para se apreciar com calma, pois sendo tão fácil de beber ela pode se tornar perigosa. Hora ela lembra uma Belgian Dark Strong Ale, com seu fenólico bem presente trazendo notas picantes e condimentadas além do frutado (banana passa), ora lembra uma Imperial Stout (ou Porter como quer a cervejaria), com muito malte, chocolate e torrefação em um corpo denso e alcoólico. As notas de baunilha e carvalho são bem evidentes. Neste caso elas podem vir tanto das favas da especiaria como dos chips de carvalho. Para completar, ela tem um toque cítrico, que não chega a lembrar os típicos lúpulos americanos e poderia ser encontrado em uma Black IPA/Cascadian DarkAle. Aqui este cítrico vem da adição das cascas de tangerina. Interessante, instigante e delicioso.


25 maio 2011

Anchor Steam Beer



A história da Anchor Brewing Company teve início ainda na época da corrida do ouro na Califórnia. O cervejeiro alemão Gottlieb Brekle chegou em São Francisco e começou a fazer cerveja. Em 1896, aproximadamente quatro décadas depois, o também cervejeiro e alemão, Ernst F. Baruth e seu genro Otto Schinkel Jr compraram a cervejaria e a nomearam de Anchor pela primeira vez. 

Desde esta época eles se notabilizaram produzindo o que se convencionou chamar de Steam Beer, um estilo próprio da costa oeste americana que utilizava fermento Lager mas fermentava em temperaturas mais altas e apropriadas para Ales devido a dificuldade em conseguir gelo na época. Hoje o termo Steam Beer é de propriedade da Anchor. Outras cervejarias que reproduzem o estilo devem chamar suas cervejas de California Commom Beer. 

Em 1906 a cervejaria sofreu um incêndio devido ao grande terremoto que atingiu São Francisco. Em 1907 ela foi reconstruída em outro local, por onde funcionou até o decreto da lei seca nos EUA em 1920. Após o fim da lei seca, em 1933, a cervejaria foi aberta em novo endereço mas sofreu um incêndio após somente um ano. Novamente reconstruída em outro endereço ela funcionou bem até a década de 50, quando as Lager produzidas em massa começaram a se tornar mais populares. Em 1959 a cervejaria foi fechada, mas reabriu um ano depois. Em 1965, devido a problemas na administração e na manutenção da qualidade da cerveja, a Anchor já estava prestes a ser fechada novamente quando o jovem Fritz Maytag comprou os direitos sobre 51% da empresa por alguns milhares de dólares. Ele fez investimentos em equipamentos e na limpeza do processo, mudando a forma como a ceveja era feita. Em 1969 ele já era o único proprietário. As primeiras Anchor Steam Beer foram engarrafadas após dois anos. Em 1975 outras quatro cervejas faziam parte do portifólio da Anchor: Porter, Liberty Ale, Old Foghorn e a primeira Christmas Ale anual da cervejaria. 

A Anchor é considerada uma das primeiras micro cervejarias modernas americanas e seu sucesso inspirou muitos outros. Depois dela surgiram outras cervejarias artesanais que juntas foram responsáveis pelo início do movimento conhecido por "Craft Beer Renaissance" no final da década de 70. Em 2010, a Anchor foi vendida para dois executivos que se comprometeram a expandir a capacidade da cervejaria mantendo a qualidade de artesanal.


Anchor Steam Beer - California Commom, Lager, 4.9% ABV, garrafa 355ml, US$ 1.69.

Cor: Cobre, límpida.
Espuma: Boa formação, média duração, cor bege clara.
Aroma: Malte, caramelo, lúpulo (herbáceo, condimentado, picante).
Paladar: Malte, doce, caramelo, lúpulo (herbáceo, condimentado), amargor final de média intensidade e boa duração, levemente seca, corpo médio.

Boa cerveja. Simples mas gostosa e fácil de beber. O estilo California Commom Beer guarda certa semelhança com as American Pale Ales e Amber Ales. Estas se diferenciam pelo uso de lúpulos mais cítricos.  Na Anchor Steam Beer os lúpulos aparecem bem no aroma e sabor com notas mais condimentadas e herbáceas. No sabor o lúpulo dá um bom amargor que pode até ser considerado leve perto de outras produções americanas. Eu degustei esta cerveja em Nova Iorque e por isso a foto não segue o padrão que costumo publicar. Mesmo assim quis dividir com meus leitores um pouco da história dessa cervejaria e da cerveja.

17 maio 2011

Ommegang Three Philosophers 2009



A cervejaria Ommegang foi fundada em 1997 na cidade de Cooperstown, no estado de Nova Iorque. O fundador da Ommegang, Don Feinberg, é um amante das cervejas belgas e por isso, desde o início, eles se especializaram em produzir cervejas nos estilos belgas tradicionais. Até mesmo o prédio da cervejaria segue o estilo arquitetônico de um fazenda belga tradicional. A cervejaria fez muito sucesso de forma rápida e teve que aumentar sua capacidade de produção para dar conta da demanda. Em 2003 a Ommegang foi vendida para a cervejaria belga Duvel Mootgat, a mesma responsável pela famosa Duvel.

O motivo do sucesso da Ommegang não poderia ser outro senão a qualidade das cervejas produzidas por eles. Entre elas a mais famosa deve ser a Three Philosophers, uma Belgian Quadrupel misturada com uma Lambic Kriek proveniente da Bélgica, a Lindemans Kriek. A Kriek representa somente 2% da receita total mas possui um bom impacto no perfil da cerveja final.

Tive a oportunidade de trazer 2 garrafas dela para o Brasil. Neste post eu descrevo minhas impressões sobre uma delas, a de 2009. Vou (tentar) deixar a de 2010 ainda guardada por um tempo.


Ommegang Three Philosophers - Quadrupel, Ale, 9.8% ABV, garrafa 750ml, US$ 8,99.

Cor: Marrom, leve turbidez (chill haze) que desaparece a medida que esquenta, reflexos avermelhados.
Espuma: Boa formação, média/baixa duração, cor bege. deixa algumas marcas pelo copo.
Aroma: Malte, caramelo, frutado intenso (cereja, ameixa), fenólico, condimentado, picante, pimenta do reino, fermento, terroso.
Paladar: Malte, caramelo, doce, leve torrefação, frutado intenso (cereja, ameixa), acidez, fenólico, condimentado, picante, pimenta do reino, terroso, leve álcool, final levemente amargo e ácido mas bem picante, seca, corpo médio/alto.

Ótima cerveja. Na sabia bem o que esperar da mistura de uma Quadrupel com uma Kriek. Apesar da primeira dominar o conjunto com notas de malte (caramelo e leve torrefação) além do frutado e fenólico marcantes, a segunda acrescenta novas camadas à complexidade da cerveja. Seria possível ter um frutado que lembre cerejas em uma Quadrupel mesmo sem o uso da fruta mas nunca havia sentido tão forte como nessa. Outra contribuição interessante da Kriek foi uma leve acidez, que pode até ser marcante para uma Quadrupel, não aparece de forma intensa e desequilibrada como nas Lambics tradicionais ou mesmo as mais comerciais. No final, mesmo com a complexidade e o alto teor alcoólico, quase que imperceptível  na boca, o drinkability fica muito bom.


09 maio 2011

Anderson Valley High Rollers Wheat Beer



A cervejaria Anderson Valley foi a primeira americana a chegar no Brasil. Quase todas as cervejas da marca que chegaram ao país foram assunto de um outro post. A única cerveja que chegou ao país e não estava naquele post foi a High Rollers Wheat Beer, uma cerveja de trigo. 

As cervejas de trigo mais tradicionais do velho mundo são as Hefeweizens alemãs e as Witbiers belgas. Apesar de ambas usarem o trigo maltado como um dos principais ingredientes, elas possuem características que as tornam bem diferentes uma da outra. As alemãs possuem os tradicionais frutado e fenólico produzidos durante a fermentação e que lembram banana/ tutti-fruti e cravo respectivamente. As belgas se diferenciam por ter ingredientes inusitados na receita, como sementes de coentro e cascas de laranja curaçao, que deixam a cerveja bem condimentada, perfumada e cítrica. 

A High Rollers Wheat Beer segue outro estilo de cerveja de trigo. Ela é uma típica American Wheat Beer, ou cerveja de trigo americana, estilo reconhecido pelo BJCP. A cerveja de trigo americana não apresenta nada do frutado e fenólico típicos das alemãs devido ao uso de um tipo diferente de fermento. Elas também não apresentam as características típicas das Witbiers belgas pois não levam os mesmo ingredientes. A característica principal delas vem dos lúpulos americanos que deixam a cerveja bem cítrica e frutada, com notas de limão. Nos EUA, essas cervejas geralmente são servidas com uma fatia de laranja adornando o copo. Somente uma característica é compartilhada entre os três estilos de cerveja de trigo. Todas são extremamente leves e refrescantes.


Anderson Valley High Rollers Wheat Beer - American Wheat Beer, Ale, 5.3% ABV, garrafa 650ml.

Cor: Amarela, levemente turva.
Espuma: Média formação e boa duração, cor branca, deixa boas marcas no copo.
Aroma: Lúpulo, cítrico, frutado, limão, leve malte, mel.
Paladar: Malte, leve adocicado, mel, leve frutado (limão), lúpulo, cítrico, amargor final de média/baixa intensidade e média duração, boa carbonatação, refrescante, baixo corpo.

Cerveja agradável. Muito refrescante e fácil de beber. Nada de cravo e banana nela. Na realidade a cerveja tem notas agradabilíssimas de lúpulos cítricos que lembram limão. A tradicional fatia de laranja no copo é totalmente dispensável na minha opinião e até pode mudar o sabor e a manutenção de espuma da cerveja. Esta cerveja chegou no Brasil no início de 2010 mas a importadora deixou de trazer esta versão de trigo.
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