29 janeiro 2009

Piraat 10,5°


A Cervejaria Van Steenberge surgiu no ano de 1874 na província de Flandres Oriental no norte da Bélgica. Naquela época a cervejaria ainda tinha o nome de De Peer. Seu criador foi Jean-Baptist De Brui, casado com Angelina Schelfaut. O casal não teve filhos e por isso quem cuidou da cervejaria depois deles foi o sobrinho de Angelina, Jozef Schelfaut. Este investiu na plantação de 2 hectares de lúpulo e na construção de uma maltaria. Anos mais tarde, em 1922, quem assumiu a cervejaria foi Paul Van Steenberge, engenheiro químico e professor de microbiologia, casado com a filha de Jozef Schelfaut. Ele mudou o nome da cervejaria para BIOS, que significa vida em grego. Hoje quem cuida da cervejaria é o seu neto, que também tem o nome Paul Van Steenberge.

Entre as cervejas mais conhecidas da Cervejaria temos a Piraat em duas versões, com 9 ou 10,5% ABV, a Augustijn, a Leute Bokbier e a Gulden Draak, uma deliciosa Belgian Dark Strong Ale. No próximo post vou descrever a minha degustação da Gulden Draak.

Curiosamente eles também possuem a licença para produzir e distribuir a Celis Whitte, do mesmo criador da Hoegaarden, Pierre Celis. Leia mais sobre a história de Pierre Celis e das cervejas Hoegaarden e Celis Whitte clicando aqui.

Tive o prazer de desgustar a Piraat 10,5° em duas oportunidades. Esta cerveja é refermentada na garrafa, sendo considerada pelo fabricante uma cerveja viva. Ela é relativamente fácil de encontrar em lojas ou mercados no Sul e Sudeste do Brasil. É possível vê-la classificada como Belgiam Tripel, Belgian IPA (Beer Advocate) e Belgiam Strong Ale (Rate Beer). O estilo Belgiam IPA é relativamente novo e deriva das Double/Tripel IPA's americanas. Na realidade elas são uma resposta ao interesse do mercado americano por cervejas bem lupuladas. Em outra oportunidade vou descrever melhor este estilo e algumas de suas cervejas representantes. Quanto à Piraat, acho que ela fica bem descrita como uma Belgian Golden Strong Ale.

Segundo a cervejaria, o nome Piraat é inspirado nas expedições dos Vikings pelo mar há mais de 1200 anos. Eles precisavam de uma cerveja forte para não estragar durante as viagens e que também servisse como uma fonte de nutrientes e de coragem para os guerreiros navegantes.


Piraat 10,5° - Belgian Golden Strong Ale, Ale, 10.5%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Dourada intensa, turva.
Espuma: Altíssima formação e alta duração, cor branca, belíssima consistência, bem firme, deixando muitas marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce intenso, frutado (damascos, abacaxi), fermento, picante, condimentado, álcool.
Paladar: Malte, doce intenso, frutado (damascos, abacaxi), fermento, picante, condimentado, álcool, amargor final seguido de sensação doce.

Boa cerveja. Bem frutada e bastante fenólica (sensação condimentada e picante derivada da reação de fermentação). O álcool é bem presente tanto no aroma quanto no sabor, não dá para não notá-lo. Consegue esquentar o corpo, mas apesar disso ele não incomoda. Prefiro considerar como uma qualidade e não um defeito, visto a complexidade de aromas e sabores que acompanham a sensação alcoólica. O amargor está presente e parece ser potencializado pela sensação picante e alcoólica, mas não é duradouro.

Que bela espuma!

Quando vi a classificação de Belgian IPA no Beer Advocate, considerando que as IPA são bem amargas, estava esperando um amargor mais assertivo. Não foi o que encontrei e por isso preferi classificá-la como Belgian Golden Strong Ale.

Não perca a degustação da Gulden Draak no próximo post.

25 janeiro 2009

Schneider Weisse Original, Weizen Hell, Kristall e Aventinus

A família Real da Baviera com sua cervejaria Hofbräuhaus em Munique exerceu um monopólio na fabricação de cervejas de trigo por volta de 1400 a 1800. Este controle era realizado com a intenção de proteger o suprimento de grãos de trigo para a fabricação de pão. O último mestre-cervejeiro empregado por eles foi Georg Schneider, em 1855.

Nesta época as cervejas de trigo não faziam muito sucesso, mas George Schneider acreditava no seu produto e decidiu abrir sua prórpia cervejaria. Ele iniciou a produção em 1872 utilizando seu nome e a receita histórica. Esta deve ser a mais antiga cervejaria especializada em cervejas de trigo a produzir de forma continuada. Seis gerações da família Schneider já trabalharam na cervejaria.

Entre as cervejas produzida temos a Original, uma cerveja de trigo com uma cor mais escura do que vemos tradicionalmente, a Weizen Hell, uma versão mais clara, a Kristall, versão filtrada, e a Aventinus, uma weizenbock deliciosa. Todas estas estão disponíveis no Brasil, inclusive em grandes cadeias de supermercados. Outras versões, ainda não disponíveis no Brasil e fabricadas especificamente para o mercado americano, são a Aventinus Vintage, a Aventinus Eisbock e a Wiesen Edel Weisse (orgânica).


Schneider Weisse Original - Hefeweizen, Ale, 5.4%ABV, garrafa 500ml.

Cor: Ambar escura/ alaranjada, turva.
Espuma: Média formação e duração, baixa duração (queda rápida), cor branca.
Aroma: Malte, doce, trigo, banana, leve cravo, caramelo.
Paladar: Malte, doce, banana, cravo, cítrico, alta carbonatação, final cítrico e doce, corpo médio.

Boa cerveja. Presença de maltes caramelados tanto no aroma quanto no sabor. A espuma decepciona. Cítrico bem presente. Sua cor é mais escura do que normalmente vemos em outras hefeweizens.


Schneider Weisse Weizen Hell - Hefeweizen, Ale, 5.2%ABV, garrafa 500ml.

Cor: Dourada intensa, turva.
Espuma: Média formação e média/baixa duração, cor branca.
Aroma: Malte, doce, banana, cravo.
Paladar: Malte, doce, trigo, cítrico, banana, cravo, baixo amargor, final doce, alta carbonatação, corpo médio.

Boa cerveja. Representante clássica das hefeweizens alemãs. Boa presença de esteres e fenóis, liberados durante a fermentação e que fazem lembrar banana e cravo respectivamente. Quem quiser saber como deve ser uma cerveja deste estilo deve prová-la.


Schneider Weisse Kristall - Kristalweizen, Ale, 5.3%ABV, garrafa 500ml.

Cor: Dourada, límpida, brilhante.
Espuma: Alta formação e média duração, cor branca, consistência mais cremosa de todas.
Aroma: Malte, doce, banana, leve cítrico, leve cravo.
Paladar: Malte, doce, trigo, banana, cítrico, leve cravo, baixo amargor, alta carbonatação, corpo menos denso comparada às outras.

Boa cerveja também. Os aromas ficaram mais limpos e evidentes, com excessão do cravo que ficou menos presente. Esta cerveja ganhou uma medalha de prata no European Beer Star de 2008 no seu estilo.


Schneider Aventinus - Weizenbock, Ale, 8.2%ABV, garrafa 500ml.

Cor: Marrom, turva, pouco translúcida.
Espuma: Alta formação e média/baixa duração, cor bege.
Aroma: Malte, doce, frutado (ameixas, passas, banana), caramelo, toffee, picante, condimentado.
Paladar: Malte, doce, frutado (ameixas, passas, banana), caramelo, toffee, picante, condimentado, álcool, alguma acidez, leve amargor, bom corpo, alta carbonatação, final doce.

Ótima cerveja. Este é um dos meus estilos preferidos e como representantes principais do estilo, gosto tanto desta como da brasileira Eisenbahn Weizenbock. São cervejas com ótimo corpo, bem aromáticas e com sabores diversos e deliciosos. Sua complexidade agrada muito.

24 janeiro 2009

Eisenbahn 5


Neste post vou descrever uma das minhas cervejas prediletas e com certeza uma das melhores cervejas feitas no Brasil.

A cervejaria Eisenbahn, que hoje é propriedade do grupo Schincariol, surgiu como uma empresa familiar no ano de 2002. Cansados da pouca variedade de cervejas produzidas no Brasil, a Família Mendes decidiu abrir a cervejaria Sudbrack com a marca Eisenbahn, que em alemão significa trilho de trem.

No início eram apenas três chopes, o Pilsen, o Dunkel e o Pale Ale. Depois foram surgindo outros produtos até chegar à marca de 14 cervejas diferentes nos dias atuais. Fora as três já citadas temos Kölsch, Pilsen Natural (Orgânica), Weihnachts Ale, Weizenbier, Weizenbock, Rauchbier, Strong Golden Ale, Oktoberfest, Eisenbahn 5, Lust e Lust Prestige, fora duas outras que são edições especiais, a Reserva do Mestre Cervejeiro (que não é mais encontrada) e A Dama do Lago (ganhadora do I concurso Mestre-Cervejeiro, cria do Homebrewer Leonardo Botto).

A Eisenbahn 5 é uma Vienna Lager e foi lançada no mês de julho de 2007 em comemoração aos 5 anos da cervejaria. Esta é a cerveja mais lupulada do Brasil. Durante a fase de maturação ela recebe uma carga extra de lúpulo, processo este conhecido como Dry-Hopping. No ano de 2008 esta cerveja foi certificada no concurso da revista inglesa Beers of the World, o World Beer Awards, vencendo na categoria de melhor Vienna Red.


Eisenbahn 5 - Vienna, Lager, 5.4% ABV, garrafa 355ml.

Cor: Cobre/ alaranjada, límpida.
Espuma: Média formação e média/baixa duração, cor bege clara e boa consistência, deixa muitas marcas no copo.
Aroma: Lúpulo, malte, caramelo, leve doce.
Paladar: Lúpulo, caramelo, malte, leve doce, amargor final longo e delicioso, seca, alta carbonatação, corpo médio/ baixo.

Ótima cerveja. Umas das melhores nacionais. Adoro cervejas lupuladas e por isso sou suspeito ao falar. Impressiona por mostrar como uma Lager pode ser tão rica em aroma e sabor. Viva o lúpulo!

Veja mais sobre a Eisenbahn Lust aqui.

Veja mais sobre a Eisenbahn Oktoberfest aqui.

20 janeiro 2009

Hacker-Pschorr Anno 1417 e o estilo Kellerbier

A cervejaria Hacker-Pschorr tem início com a cervejaria Hacker, fundada no ano de 1417 na cidade de Munique na Alemanha, 99 anos antes da Reinheitsgebot (a lei de pureza da cerveja na Alemanha) ser instituida. No século 18, Joseph Pschorr comprou a cervejaria Hacker e fundou uma cervejaria com o seu nome. As duas mantinham sua própria cerveja até que em 1972 surgiu a Hacher-Pschorr, que teve sua cerveja inicialmente vendida depois do ano de 1975. O logotipo atual é uma união dos logotipos das duas cervejarias. Esta é uma das seis cervejarias oficiais da Oktoberfest de Munique.

Kellerbier é um estilo de cerveja originário da Alemanha e keller significa literalmente adega. Esta é uma cerveja lager não filtrada, geralmente com uma boa carga de lúpulo aromático. As Kellerbiers autênticas geralmente possuem pouca carbonatação porque elas fermentam em barris de madeira que não conservam toda a carbonatação produzida pela reação de fermentação. Em geral elas são encontradas localmente, mas algumas cervejarias oferecem suas versões em garrafas e barris, permitindo o transporte para outros mercados. Nestas versões, as cervejarias costumam realizar uma leve filtragem e adicionam uma leve carbonatação artificial para dar maior efervecência.


Hacher-Pshorr Anno 1417 - Kellerbier, Lager, 5.5% ABV, garrafa 500ml.

Cor: Âmbar/alaranjada, turva.
Espuma: Boa formação, média/ baixa duração, cor branca, consistência boa, deixa algumas marcas pelo copo.
Aroma: Malte, pão, doce, lúpulo, cítrico, fermento.
Paladar: Malte, pão, doce, cítrico, lúpulo, fermento, amargor final de média duração, corpo médio, alta carbonatação.

Boa cerveja. Apesar de ser uma Lager leve ela surpreende. Esta seria uma ótima cerveja para substituir as Lager comuns nacionais. Nesta, por não ser filtrada, podemos sentir aroma e sabor do fermento, pão, um toque cítrico (provavelmente do lúpulo) e um corpo melhorado. Para ficar melhor só faltou um amargor mais pronunciado. A garrafa é um ponto positivo, bonita e com fechamento tipo "swing-top".

17 janeiro 2009

Tcheca - Uma Pilsen de Verdade feita no Brasil.


Esta cerveja foi a primeira empreitada dos integrantes da Biertruppe, que também foram responsáveis pela produção da Saint Nicholas, descrita em outro post que vocês podem ver clicando Aqui.

Ela surgiu do sonho do homebrewer Leonardo Botto de produzir uma Bohemian Pilsen. Seria uma Pilsen brasileira inspirada nas Lagers Tchecas. Ele chamou então o amigo Eduardo Passarelli para participar do projeto e o Alexandre Bazzo, da cervejaria Bamberg, para tornar o projeto viável.

Para quem ainda não sabe, estas cervejas produzidas por grandes cervejarias tanto no Brasil quanto em outros países, apesar de serem chamadas de Pilsen não possuem muita semelhança com as Pilsens tradicionais, a não ser pela cor. As cervejas Pilsen originais foram primeiramente produzidas durante o século 19 na cidade de Plzeň (Pilsen) na região oeste da Bohemia, na República Tcheca. Estas cervejas eram Lagers, de baixa fermentação, claras e límpidas, com presença bem marcante de malte e lúpulo, principalmente o do tipo Saaz, bem comum nesta região. O sucesso dessa cerveja foi muito grande, pois a maioria das cervejas produzidas na época eram escuras e turvas. A nova cerveja dourada, clara e brilhante, servida em copos de vidro para valorizar a aparência, despertou muita atenção. A mais famosa delas é a Pilsner Urquell, que existe desde 1842.


A Tcheca foi produzida somente uma vez, em julho de 2008, e até agora não há sinais de que será produzida novamente. Eu já não esperava conseguir degustá-la, mas felizmente meu irmão esteve em São Paulo durante este mês de janeiro e deu uma passadinha no Melograno, Forneria e Empório do nosso amigo e blogueiro Edu Passarelli, e pegou uma garrafa diretamente das mãos do Edu. Sorte minha.


Tcheca - Bohemian Pilsener, Lager, 5.4% ABV, garrafa 355 ml.

Cor: Dourada, límpida.
Espuma: Boa formação e média duração, cor branca, boa consistência, deixa marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, lúpulo, floral, cítrico.
Paladar: Malte, doce, lúpulo, cítrico, bom amargor final, persistente, bom corpo para o estilo, carbonatação na medida.

Ótima Bohemian Pilsener. Lúpulo bem destacado no aroma com toques florais e principalmente cítrico. Lúpulo também bem presente no sabor com belo amargor final e um toque cítrico. Tudo isso com uma boa dose de malte para balancear. Sem dúvida alguma das melhores Lagers que pude provar até hoje.

Mais uma vez devo parabenizar o pessoal da Biertruppe por esta bela cerveja, muito bem realizada. Não é por falta de pedidos que vocês não voltaram a produzí-la, mas só para reforçar o coro: "Não deixem de produzir a Tcheca!". Seria uma pena não poder contar com uma cerveja tão bem feita entre outras que já estão sendo produzidas em nosso país. Vamos divulgar a cultura da verdadeira cerveja!

A Tcheca possui um blog próprio, onde é possível ler toda a trajetória da sua produção, o Blog da Tcheca.

13 janeiro 2009

Negra Modelo


Esta cerveja faz parte do portfólio do grupo Modelo, maior grupo cervejeiro do México que tem entre seus produtos cervejas como a Corona, provavelmente a cerveja mexicana mais famosa no mundo.

A Negra Modelo foi vendida pela primeira vez em forma de chope no ano de 1926, mas foi produzida pela primeira vez em 1925. Hoje é a cerveja escura mais vendida no México e sua garrafa tem um "design" exclusivo e diferente.

Ela é uma cerveja Lager, mas existe alguma discordância em relação ao seu estilo. Segundo o próprio fabricante e o site Beer Advocate ela seria uma Munich Dunkel, mas para o site Rate Beer e o BJCP ela seria uma Vienna. Considerando o perfil sensorial que pude verificar nela, o estilo Munich Dunkel Lager seria mais correto.


Negra Modelo - Munich Dunkel, Lager, 5.3% ABV, garrafa 330 ml.

Cor: Cobre escura/ marrom, límpida.
Espuma: Média/ baixa formação e duração, cor beje clara e queda rápida.
Aroma: Malte, doce, caramelo, leve torrado, leve chocolate.
Paladar: Malte, doce, caramelo, leve torrado, leve chocolate, leve amargor, corpo médio/ baixo.

Cerveja agradável. Os maltes são o que mais se destacam nesta cerveja. Pouca presença de lúpulo. Pouco complexa, leve e fácil de beber.

Agradeço especialmente o amigo Darcy que trouxe esta cerveja em sua última viagem e me acompanhou na degustação.

11 janeiro 2009

Cervejaria Colorado - Indica e Demoisele


A Cervejaria Colorado foi fundada no ano de 1995 na cidade de Ribeirão Preto, conhecida pelo seu famoso chope. O carioca Marcelo Carneiro é o responsável pela empreitada. A cervejaria produz chope e cervejas engarrafadas e toda a água utilizada na fabricação dos produtos é captada do aquífero Guarany, uma das maiores e mais puras reservas de água doce do mundo.

A Colorado produz cervejas diferenciadas não somente pela sua qualidade, mas também pelo uso de ingredientes inusitados e genuinamente brasileiros nas suas receitas. Atualmente são produzidas quatro cervejas diferentes:

Colorado Cauim: Cerveja Pilsen com mandioca. O nome Cauim em Tupi se refere a uma bebida fermentada de cereais e mandioca que era produzida pelos índios.

Colorado Appia: Cerveja de trigo com mel de abelhas européias e africanas.

Colorado Indica: Cerveja India Pale Ale (IPA) feita com rapadura. O estilo IPA foi criado pelos britânicos para transportar suas cervejas nas viagens marítimas para a colônia, a Índia. As cervejas estragavam durante a longa viagem. Para prolongar a validade das cervejas foram acrescentadas grandes quantidades de lúpulo, que possui propriedades conservantes. Esta cerveja já foi escolhida como uma das melhores feitas no Brasil e recebeu três estrelas no "Pocket Beer Guide" (conhecido como o Guia Michelin das cervejas) do famoso especialista em cervejas Michael Jackson.

Colorado Demoisele: Cerveja Porter com café. O nome Demoiselle é uma homenagem a Alberto Santos Dumont, pois sua família era proprietária de fazendas de café na região de Ribeirão Preto. Demoiselle foi o nome de um dos aviões criados por Santos Dumont. A receita da Demoisele foi criada com a colaboração do cervejeiro caseiro Ricardo Rosa. Esta cerveja ganhou uma medalha de ouro na categoria Porter no European Beer Star 2008, grande concurso de cervejas na Alemanha.

Neste post vou descrever minha degustação das duas melhores cervejas Colorado, a Indica e a Demoisele.


Colorado Indica - IPA, Ale, 7% ABV, garrafa 600ml.

Cor: Cobre, límpida.
Espuma: Média formação e duração, cor bege clara, boa consistência, deixa leves marcas pelo copo.
Aroma: Malte, lúpulo, cítrico, caramelo.
Paladar: Malte, doce, lúpulo, cítrico, caramelo, bom amargor final, duradouro e que convida a um novo gole, corpo médio.

Boa cerveja. Ótimo exemplar de uma IPA. Fiel ao estilo com boa presença de lúpulo. Bem balanceada, tanto no aroma quanto no sabor. Uma das melhores cervejas brasileiras.



Colorado Demoisele - Porter, Ale, 6% ABV, garrafa 600ml.

Cor: Preta, reflexos vermelho rubi.
Espuma: Média/baixa formação, baixa duração, cor bege escura.
Aroma: Café predominante, torrado, malte, caramelo, toffee, chocolate.
Paladar: Café predominante, torrado, malte, caramelo, toffee, chocolate, lúpulo, amargor final persistente, corpo médio.

Boa cerveja. O café é bem forte e predomina, mas também deixa aparecer ótimos toques de caramelo, toffee e chocolate. Bom amargor final, me agrada muito. Também é uma das melhores cervejas nacionais. Com tão pouco tempo de existência já possui um prêmio internacional.

09 janeiro 2009

Whittingtons Cats Whiskers


Esta é mais uma cerveja do Kit trazido pelo meu irmão direto de Londres. A cervejaria Whittingtons foi fundada recentemente no ano de 2003 e fica localizada numa grande propriedade produtora de vinhos, a Three Choirs, localizada no condado de Gloucestershire no sudoeste da Inglaterra.


O nome da cervejaria é inspirado na lenda sobre Dick Whittington, um menino pobre que foi para Londres em busca de fazer sua fortuna. Ele foi acolhido por um grande comerciante de Londres, que lhe deu um quarto e um emprego. Dick tinha um gato que ajudava a combater a grande quantidade de ratos que não o deixavam dormir. Um dia o comerciante pediu que cada um de seus funcionários desse algo para que fosse levado na sua viagem de trabalho, para que pudesse vender ou trocar os pertences por mercadorias. Dick só tinha o seu gato e o deu com muito pesar. Dick fugiu depois disso e ao chegar perto da saída da cidade ele ouviu os sinos falarem: Volte e seja "Lord Mayor of London" (espécie de prefeito nobre do distrito financeiro de Londres). Dick voltou e soube que seu gato foi vendido por uma fortuna para um Rei cujo palácio fora tomado por ratos. Ele ficou rico, casou com a filha do homem que o havia acolhido e foi "Lord Mayor of London" três vezes, assim como os sinos haviam anunciado.

O personagem Dick Whittington foi inspirado em Richard Whittington que nasceu na aldeia de Pauntley, próximo ao local do vinhedo, e viveu nas proximidades Gloucestershire. Ele foi um comerciante rico em Londres e realmente foi três vezes "Lord Mayor of London".


Whittingtons Cats Whiskers - Bitter, Ale, 4.2% ABV, garrafa 500ml.

Cor: Cobre/ alaranjada, turva, presença de sedimentos.
Espuma: Altíssima formação, média duração, cor bege clara, bem consistente, deixa marcas pelo copo.
Aroma: Lúpulo, cítrico, malte, leve doce.
Paladar: Lúpulo, cítrico, leve malte, amargor final pouco persistente, baixo corpo.

Poderia ter maior presença de malte e amargor mais pronunciado. O lúpulo é o que mais se destaca, de maneira mais agradável no aroma. Poderia também ter melhor corpo.

Clique aqui para ver a degustação de outra cerveja deste Kit, a Felinfoel Stout do País de Gales.

07 janeiro 2009

Bush Blonde e Bush Ambree


A cervejaria ou Brasserie Dubuisson fica na Valônia, parte da Bélgica que fala francês. Ela nasceu no ano de 1769 e foi criada pelos ancestrais dos atuais administradores da cervejaria, Hugues and Vincent Dubuisson. Surpreendentemente ela fica no mesmo local desde o seu início. Já passaram oito gerações de cervejeiros e a empresa continua na mesma família e independente. É a cervejaria familiar mais antiga em funcionamento na Valônia.

As cervejas Bush surgiram a partir do ano de 1933. A primeira delas foi criada por Alfred Dubuisson, avô dos atuais administradores, e que permanece com a mesma receita até hoje. Seu primeiro nome foi Bush 12% mas hoje é conhecida como Bush Ambree. No seu rótulo a cervejaria faz questão de deixar claro que é cerveja belga mais forte, considerando o teor alcóolico de 12%.

O nome Bush surgiu como uma tradução do nome francês da família, Buisson, para o inglês Bush, que em português significa arbusto. O nome em inglês foi escolhido para facilitar a entrada do produto no mercado inglês na década de 30. Nos EUA, o nome Bush não pode ser utilizado pois a cervejaria Anheuser-Busch requereu exclusividade. No mercado americano, a cerveja é comercializada como Scaldis.

Durante muito tempo eles produziram somente esta variedade, mas a partir da década de 90 do século passado iniciaram a produzir outras variedades. Foram surgindo as cervejas:

-Bush de Nöel (variedade de Natal)
-Bush 7%
-Bush Blonde
-Bush Prestige (Bush Amber maturada em barris de carvalho de 4 a 6 meses)
-Bush de Nuits (Bush de Nöel maturada em barris de carvalho por mais de 6 meses)
-Cuvee de Trolls
-Bush Amber Tripel (Bush Amber refermentada na garrafa)
-Bush Bolnd Tripel (Bush Blond refermentada na garrafa).



Bush Blonde - Belgian Strong Ale, Ale, 10.5% ABV, garrafa de 250ml.

Cor: Dourada intensa, turva.
Espuma: Média formação, baixa duração, cor branca, deixa marcas no copo, queda rápida, mas permanece com uma fina camada até o final.
Aroma: Malte, doce, lúpulo, cítrico, frutado (damascos), fermento belga, picante, álcool.
Paladar: Malte, doce, cítrico, frutado, laranja, fermento belga, lúpulo, picante, álcool, amargor, bom corpo, final doce.

Boa cerveja. Encorpada e muito frutada. Aroma e sabor de fermento belga altamente perceptíveis. No aroma já é possível saber que a cerveja é belga. Álcool presente mas muito bem inserido no conjunto. Seu teor alcóolico é perigoso, talvez por este motivo a garrafinha seja tão pequena.



Bush Ambree - Belgian Specialty Ale (Barley Wine), Ale, 12% ABV, garrafa de 250ml.

Cor: Ambar escura/ alaranjada, levemente turva.
Espuma: Boa formação e média/ alta duração, cor creme e boa consistência, deixando marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, fermento belga, lúpulo, frutado (damascos), picante, álcool.
Paladar: Malte, doce, fermento belga, cítrico, frutado (damascos, laranja), picante, álcool, lúpulo, amargor, final doce, bem encorpada.

Ótima cerveja. Complexa, encorpada, deliciosa. Seu aroma é muito bom e parece com a Blond. Álcool presente, bem balanceado tanto no aroma quanto no sabor. Se não fosse o efeito provocado pelos 12% ABV não daria para perceber o tão forte teor alcoólico. A bélgica deve ser o paraíso na terra, é um imenso prazer provar uma cerveja tão boa.

04 janeiro 2009

Hoegaarden Grand Cru


Após descrever a História da Famosa Witbier belga e do seu criador no último post, tive a vontade de mostrar mais uma boa cerveja vinda da mesma cervejaria, até como forma de comparar as duas. Além da Hoegaarden Witbier, a cervejaria produz ainda outras cervejas, como a Forbidden Fruit (fruto proibido em português), Hoegaarden Julius, Hoegaarden Speciale, Hoegaarden Rosé, Hoegaarden Citron e a Hoegaarden Grand Cru, que será descrita neste post.

A Grand Cru é uma versão mais escura e saborosa da Witbier tradicional. Seu rótulo a descreve como uma cerveja nobre de degustação e não há uma letra sequer de mentira nisto.

Não existe um consenso quanto ao estilo desta cerveja. É possível vê-la classificada como Witbier (Beer Advocate), Belgian Strong Ale (Ratebeer) e até mesmo como Belgian Tripel (Oxford Bottled Beer Database). Realmente ela apresenta características destes três estilos, mas pessoalmente acredito que seja melhor descrevê-la como uma Belgian Golden Strong Ale, pois apresenta teor alcoólico maior que o comum nas Wit, menor caráter picante e cor mais clara do que nas Tripels.

Quem traz esta cerveja para o Brasil é a importadora Armazém do Nono.


Hoegaarden Grand Cru - Belgian Golden Strong Ale, Ale, 8.5% ABV, garrafa 330ml.

Cor: Ambar clara, turva, presença de muitos sedimentos.
Espuma: Alta formação e média duração, cor branca e consitência média.
Aroma: Malte, doce, frutado, fermento, cítrico, cravo, condimentado, picante.
Paladar: Malte, doce, fermento, cítrico, cravo, condimentado, picante, álcool, bom amargor final, sensação doce também presente no final, alta carbonatação, ótimo corpo.

Bela cerveja. Lembra a Hoegaarden tradicional, mas possui muito mais aroma, sabor e corpo. Deliciosa e perigosa devido ao seu teor alcoólico. Uma das melhores cervejas belgas claras que já tive oportunidade de degustar.

Hoegaarden

A vila belga de Hoegaarden, distante a menos de uma hora de Bruxelas, era conhecida desde a idade média por suas Witbier. Em um certo momento da história, existiram cerca de 30 pequenas cervejarias por lá. Por volta de 1955, devido à competição com as cervejas lager e depois das duas grandes Guerras Mundiais a última dessas cervejarias fechou.

Em 1966, o jovem leiteiro Pierre Celis questionou o porque do desaparecimento do antigo estilo de cerveja e decidiu que era hora de reviver a receita tradicional. Com o suporte financeiro de seu pai e a ajuda de um mestre-cervejeiro veterano, Celis iniciou com uma pequena cervejaria chamada De Kluis, o claustro em português.

O sucesso da cervejaria foi grande e a produção cresceu de apenas 350 hectolitros em 1966 para 75.000 hectolitros em 1985. Muitas outras cervejarias começaram a fazer a sua própria Witbier. Entretanto, um incêndio destruiu parte da cervejaria em 1985. Para a reconstrução, Celis recebeu a ajuda de diversas cervejarias. Uma delas foi a Interbrew, hoje Anheuser-Busch Inbev, que investiu muito dinheiro para a compra de outros prédios. Celis sentiu-se pressionado a alterar a receita da sua cerveja para que ela fosse mais comercial e vendeu a cervejaria para a Interbrew em 1987.

Pierre Celis mudou-se para os EUA devido ao grande sucesso que sua cerveja fazia por lá e fundou uma nova cervejaria, a Celis Brewery, em Austin no Texas. Uma nova versão da Witbier foi fabricada por lá, a Celis White. Hoje a cervejaria é propiedade da Miller Company.

A Hoegaarden é a cerveja do estilo Witbier mais famosa do mundo. Seu nome vem da sua cor bem clara e significa cerveja branca. A Witbier é uma de cerveja de trigo no estilo belga, feita com o acréscimo de sementes de coentro e casca seca de laranja curaçao. Esta é a mesma fruta utilizada para produção de licor na ilha do Caribe de mesmo nome. Ela possui um amargor bem pronunciado, mas apesar disso sua casca é extremamente perfumada.

Sementes de coentro (coriander).


Laranja curaçao.



Hoegaarden - Witbier, Ale, 4.9% ABV, garrafa 330ml.

Cor: Amarela pálida, turva.
Espuma: Média formação e baixa duração, cor branca.
Aroma: Malte, trigo, doce, cítrico, frutado (laranja), especiarias, condimentado.
Paladar: Malte, trigo, doce, cítrico, frutado (laranja), condimentado, levíssimo amargor, alta carbonatação, refrescante, corpo médio/ baixo.

Boa cerveja. Clássica do estilo. É uma ótima escolha para quem estiver começando a conhecer cervejas diferentes. Ela tem bons preços e é facilmente encontrada em lojas e supermercados no Brasil e em várias partes do mundo. As sementes de coentro e a casca de laranja deixam um caráter condimentado e cítrico na cerveja, que fica bem refrescante e gostosa, fácil de beber.

Escute a pronúncia correta do nome Hoegaarden e de outras cervejas belgas clicando aqui.

No próximo post descreverei minha degustação da Hoegaarden Grand Cru, outra versão da cervejaria belga.

02 janeiro 2009

La Chouffe


A Brasserie D'Achouffe é uma cervejaria belga localizada em Achouffe, um pequeno vilarejo na Valônia. Nos anos 70, os cunhados Pierre Gobron e Christian Bauweraerts decidiram produzir sua própria cerveja. Tudo começou como um hobby, mas o crescimento da cervejaria foi tão grande que eles decidiram se dedicar em tempo integral à ela. A primeira brassagem da La Chouffe foi de 49 litros e ocorreu em 1982.

Sua linha de produção é encontrada em garrafas de 750ml bem bonitas com tampas do tipo coroa mas em tamanho bem avantajado. Além da La Chouffe são produzidas as cervejas Mc Chouffe, Houblon Chouffe IPA Tripel, N'Ice Chouffe, Big Chouffe (La chouffe em garrafa de 1,5L) e Bok Chouffe.


Os primeiros estrangeiros a provarem a La Chouffe foram os primos holandeses dos donos da cervejaria. Até hoje a Holanda é o país que mais recebe as cervejas fora da Bélgica. Atualmente a linha de cervejas D'Achouffe pode ser encontrada em mais de 20 países. No Brasil temos duas importadoras que trazem esta cerveja, Armazém do Nono e Casa da Cerveja.

Uma curiosidade sobre a cerveja são os gnomos encontrados em todos os produtos da cervejaria. Chouffe significa gnomo no dialeto local, o valão. Esta cerveja é tão amada que é possível encontrar fãns clubes no mundo inteiro. Nas reuniões dos clubes, as pessoas utilizam gorros vermelhos parecidos com os dos gnomos, símbolo da cervejaria.

Em 2006 a cervejaria foi comprada pelo grupo Duvel Moortgat, também belga.


La Chouffe - Belgian Strong Ale, Ale, 8% ABV, garrafa 750ml.

Cor: Dourada, turva.
Espuma: Alta formação e média duração, cor branca, belíssima consistência, deixando muitas marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, fermento, cítrico, laranja, frutado, lúpulo, álcool.
Paladar: Malte, doce, fermento, cítrico, lúpulo, frutado, álcool, picante, bom amargor final persistente, ótimo corpo.

Ótima cerveja. O aroma é delicioso e já aparece a partir do momento em que a garrafa é aberta. No paladar ela tem um frutado claro e delicioso e uma sensação picante advinda da potência alcóolica, que apesar de alta não agride em momento algum. Muito gostosa e bem equilibrada. Esta merece repetições contínuas e frequentes.
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