31 dezembro 2008

Eisenbahn Lust


O ano novo está chegando e como é tradição comemorar a passagem de ano com Espumantes não poderia deixar de escrever sobre a Eisenbahn Lust. A Lust, que em alemão significa desejo, é produzida primeiramente na cervejaria Eisenbahn em Blumenau com leveduras belgas importadas, resultando em uma cerveja dourada, frutada, de alta fermentação e com teor alcoólico de 8,5%. Esta cerveja é a Strong Golden Ale, que faz parte da linha normal de produção da cervejaria.

Em uma segunda etapa a cerveja é enviada para uma vinícola, a San Michele da cidade de Rodeio, distante 60 Km de Blumenau. Nesta etapa, a cerveja é envasada em garrafas de espumante e são acrescentados açúcar e mais levedura, desta vez própria para fermentação de espumantes. A cerveja passa por uma nova fermentação dentro da garrafa.

Após fermentar pela segunda vez, as garrafas ficam deitadas para maturar a cerveja e desenvolver melhor seus aromas e sabores. A Lust fica em torno de 3 a 4 meses para desenvolver este processo, também chamado de Cuvèe.

Depois de maturar, a cerveja vai passar pelo método chamado de Remuage. Aqui cada garrafa é colocada em prateleiras chamadas de pupitres. As garrafas são giradas manualmente 45° para um lado e para o outro, duas vezes por dia. Gradualmente estas garrafas são inclinadas até que fiquem de cabeça para baixo, com a ponta do gargalo voltada para o chão. Nesta etapa, toda a levedura que foi antes adicionada vai ficar depositada na ponta do gargalo.

Para finalizar a produção da cerveja ela passa pelo Remuage, onde as pontas dos gargalos são congeladas, separando a levedura do líquido. As garrafas são então abertas e, com a pressão criada pela segunda fermentação, a levedura é expulsa, deixando a cerveja límpida e cristalina. São acrescentados a rolha e o rótulo de cada garrafa que podem então ser comercializadas.

Este estilo de cerveja é relativemente novo e a classificação fica bem confusa. Em alguns locais a vemos classificada como Belgian Strong Ale, muito provavelmente para seguir a classificação do BJCP, entidade mais respeitada para treinamento de juízes para competições de cerveja. Em outros locais já vemos uma classificação ainda não reconhecida pelo BJCP, mas que descreve melhor o estilo, Bière de Champagne ou Bière Brut (Bière é cerveja em francês). A mais famosa do estilo é a belga Deus Brut des Flandres da cervejaria Boostels.

Na cervejaria Eisenbahn podemos encontrar a Lust em garrafas de 750 e 375ml e ainda a Lust Prestige, que matura durante 1 ano, ao invéns de 3 ou 4 meses da Lust normal.


Lust - Bière de Champagne/ Bière Brut, Ale, 11,5% ABV, garrafa 375ml.

Cor: Dourada escura, levemente turva.
Espuma: Altíssima formação (cuidado ao servir que pode transbordar da taça), média/ alta duração, cor branca, bem consistente, fino perlage (bolhas finíssimas subindo do centro da taça).
Aroma: Malte, doce, frutado, picante, condimentado, álcool.
Paladar: Alta Carbonatação, malte, doce, cítrico, frutado, picante, condimentado, álcool bem inserido apesar dos 11,5%, leve amargor, final seco.

Bela cerveja, bem interessante. Belíssima apresentação com garrafa de espumante e fechamento com rolha. No momento de abrir o estouro da rolha é o mesmo de qualquer espumante, uma festa. Bem equilibrada, pois também é bem maltada e doce para contrabalancear o alto teor alcoólico. Isto a torna perigosa, pois é fácil de beber. Esta garrafa tinha sido produzida recentemente e estava nova. Já degustei outras garrafas que estavam mais próximas da data de vencimento e nestas o álcool era mais presente. Recomendo degustá-la em taça do tipo flutê e bem gelada, na mesma temperatura recomendada para espumantes, perto de 2ºC.

29 dezembro 2008

Guinness Special Export




Também conhecida como a Guinness belga. No ano de 1912, o mestre cervejeiro inglês John Martin, radicado na Antuérpia (Bélgica), fez um pedido de uma Guinness especialmente para ser vendida na Bélgica. Assim nasceu esta versão. Bem, sendo adjetivada de belga e tirando pela qualidade das cervejas que encontramos na Bélgica só poderia mesmo ser uma boa cerveja. Sempre tive vontade de provar esta versão e outras também. Pois é, a Guinness possui ainda outras versões como Original/ Extra Stout, Foreign Extra Stout, Extra Smooth, Mid-Strength e tem até Guinness Red.

A Guinness Special Export chega no Brasil através do importador Armazém do Nono.


Guinness Special Export - Foreign/ Export Stout, Ale, 8% ABV, garrafa 330 ml.

Cor: Preta opaca, translucidez zero.
Espuma: Altíssima formação e alta duração, cor bege (lembra café com leite), belíssima consistência, deixando marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, chocolate, torrado, café.
Paladar: Malte, doce, chocolate amargo, torrado, café, bom amargor final (bem prolongado), leve azedo (quase imperceptível), ótimo corpo.

Muito boa. Possui a potência do torrado e do amargor da Guinness Draught com um "plus" de chocolate e bem encorpada. Deliciosa. Apesar do teor de 8%, o ácool é muito bem inserido, não se manifesta nem no aroma e nem no paladar. Pena que a garrafinha ainda não esteja tão em conta no Brasil, em torno de R$20. Esta é a versão da Guinness com melhores notas nos rankings tanto do Rate Beer quanto do Beer Advocate.

É inevitável inserir este post logo após o post sobre a Guinness Draught. Pelo menos vale muito a título de comparação. Nem mesmo sou o primeiro a fazer isso, pois no Latinhas do Bob foi onde vi pela primeira vez esta comparação a qual achei bem válida e muito interessante.

Guinness Draught



A Guinness é a cerveja símbolo da Irlanda e ao mesmo tempo a cerveja que simboliza o estilo Stout, uma cerveja preta feita com maltes tostados que dão o mesmo caráter à cerveja, além de um amargor pronunciado. Sua história teve início em 1759, quando Arthur Guinness começou a produzir sua cerveja em uma fábrica alugada em Dublin. Em 1862 a Harpa irlandesa foi adotada como símbolo da cervejaria.

Com quase 300 anos de história, a cerveja Guinness é produzida com a mesma composição: malte irlandês, água de Dublin, lúpulo e levedura. A cerveja Guinness é produzida localmente em 55 países e comercializada num total de 155 países, possuindo 80% de participação no mercado mundial de cerveja preta. Ao redor do mundo, 170 mil pubs consomem 10 milhões de copos (pints) de Guinness diariamente. Guinness é a sexta cervejaria do mundo, proprietária de marcas como Harp e Kilkenny, também disponíveis no Brasil. Suas vendas chegam a de 2,7 bilhões de litros de cerveja por ano.

A Guinness Draught é encontrada no Brasil envasada em barris (Chop), latas e garrafas long neck. Em todas existem dispositivos que liberam gás nitrogênio na cerveja no momento em que as servimos. Este gás nitrogênio força a saída do gás carbônico da cerveja para o colarinho, provocando um belo efeito na espuma conhecido como efeito cascata. Esta em questão é em lata e após serví-la é possível detectar a presença de uma esfera plástica dentro da lata. Esta esfera é uma capsula que aprisiona o gás nitrogênio até o momento em que abrimos a lata.

Este vídeo mostra a maneira correta de servir uma lata de Guinness Draught, toda de uma só vez no copo para lançar todo o gás nitrogênio no copo com a cerveja. Veja o efeito conseguido.






Guinness Draught - Dry Stout, Ale, 4,1% ABV, Lata 440 ml.

Cor: Preta opaca, translucidez quase zero.
Espuma
: Média formação, efeito cascata provocado pelo nitrogênio, bem consistente, bolhas minúsculas, cor bege, dura até o final.
Aroma: Basicamente café expresso e torrado, ambos leves.
Paladar: Café expresso, torrado, malte, amargor final com boa duração, baixíssimo corpo.

Cerveja clássica. Deve ser provada por qualquer pessoa que queira conhecer melhor sobre cerveja, porém não está entre minhas preferidas. Já impressionou mais quando ainda era uma novidade e eu não possuía muito conhecimento nem tinha provado muita variedade de boas cervejas. O efeito cascata provocado pelo nitrogênio tem uma beleza bem particular mas deixa a cerveja com menos corpo, pois ela fica sem o gás carbônico que foge todo para o colarinho. Ela fica com uma textura muito aguada. Este problema não aparece em outras versões da Guinness que não usam o nitrogênio. No próximo post escreverei mais sobre isto.

28 dezembro 2008

Eisenbahn Oktoberfest


A Oktoberfest é uma festa alemã que ocorre em Munique desde o ano de 1810 e as Oktobesfestbiers eram as cervejas servidas durante a festa a partir do ano de 1818. Hoje somente seis cervejarias fornecem estas cervejas oficialmente para a festa de Munique: Spaten, Lowenbrau, Augustiner, Hofbrau, Paulaner e Hacker-Pschorr. Tradicionalmente as Oktoberfestbiers eram Lagers com 5,5 a 6% ABV produzidas no mês de março e eram conhecidas como Marzen (März em alemão significa março). A cerveja era estocada em caves, cavernas sob as montanhas com baixas temperaturas, ideais para a fermentação e maturação deste tipo de cerveja. Nos meses de setembro e outubro a cerveja estava pronta para ser consumida durante a festa.

A Cervejaria Eisenbahn decidiu produzir este ano a sua Oktoberfest para ser consumida durante a festa em Blumenau. Estive lá este ano e pude conhecer a festa e degustar a nova cerveja da Eisenbahn. A foto acima foi tirada no bar da Eisenbahn. Na foto abaixo, esta garrafa voltou comigo para Fortaleza e foi degustada com maior calma.



Eisenbahn Oktoberfest - Marzen, Lager, 6% ABV, garrafa 355 ml.

Cor: Dourada intensa, límpida.
Espuma: Boa formação e média/ baixa duração, cor branca, deixa leves marcas pelo copo.
Aroma: Lúpulo, malte , doce, caramelo.
Paladar: Malte, doce, lúpulo, caramelo, bom amargor final, alta cabornatação, leve álcool.

Boa cerveja. Ótimo balanceio entre malte e lúpulo. Boa presença de lúpulo, com um aroma bem claro e um amargor moderado mas bem gostoso. Leve, refrescante, pode até mesmo ser tomada em maiores quantidades, assim como na festa alemã.

23 dezembro 2008

Saint Nicholas - Filtrada e Não Filtrada.


A cerveja Saint Nicholas é uma cerveja feita nas depedências da cervejaria Bamberg, fruto da paixão pela cerveja de quatro amigos que formaram a Biertruppe: Leonardo Botto, Eduardo Passarelli, Alexandre Bazzo e André Clemente. O mesmo grupo já havia trabalhado para fazer a Tcheca, que pelo jeito não terá repetição. Não tive oportunidade de prová-la ainda. Uma pena, duplamente!

A intenção com a Saint Nicholas foi fazer uma cerveja comemorativa para este Natal. Normalmente o estilo escolhido para as cervejas natalinas é o Belgian Dark Strong Ale, que pessoalmente me agrada mais pela complexidade. Entretanto, este foi o estilo da famosa A Dama do Lago, vencedora do I Concurso Mestre Cervejeiro da Eisenbahn, cria do Leonardo Botto. Para tentar fazer algo ainda não fabricado no Brasil, foi escolhido o estilo Belgian Blond Ale, famoso estilo belga representado por cervejas como Leffe Blond, La Trappe Blond e Grimbergen Blond (todas disponíveis no Brasil). O nome da cerveja foi uma homenagem ao santo cuja imagem é associada com Papai Noel.

Foi utilizada uma combinação de cinco leveduras usadas nas receitas de algumas das melhores cervejas belgas: 2 da Westmalle, além de Rochefort, Duvel e Chimay. Segundo as palavras do Botto, "a intenção era de produzir uma cerveja com aroma e sabor ricos e uma perfumada combinação de ésteres (banana, laranja, abacaxi, entre outros), alcoóis e compostos fenólicos, cravo, principalmente, e algo sutil, condimentado, do lúpulo. O amargor e a sensação alcoólica deveriam ser de intensidade média, para contribuírem com o equilíbrio da cerveja. Inicialmente traria um certo dulçor advindo do malte, e terminaria seca com o álcool se mostrando no retrogosto, para ajudar no balanceamento da Saint Nicholas."

Tive a oportunidade de provar duas versões engarrafadas, uma filtrada e pasteurizada e outra não filtrada e pasteurizada. Agradeço ao amigo Alessandro Laroca de Curitiba que as touxe até Fortaleza e me deu o prazer de dividí-las comigo.



Saint Nicholas Filtrada - Belgian Blond Ale, Ale, 7% ABV, garrafa 355 ml.

Cor: Dourada, límpida.
Espuma: Média fomação, baixa duração, cor branca.
Aroma: Malte, doce, frutado, fermento, álcool.
Paladar: Malte, doce, frutado, fermento, álcool, picante, corpo médio.
Boa Blond. Levemente frutada e picante. Não é tão complexa, mas é muito boa. O próprio estilo não é caracterizado por alta complexidade.



Saint Nicholas Não Filtrada - Belgian Blond Ale, Ale, 7% ABV, garrafa 355 ml.

Cor: Ambar clara, turva.
Espuma: Baixa fomação, baixa duração, cor branca.
Aroma: Malte, doce, frutado, fermento, álcool.
Paladar: Malte, doce, frutado, fermento, álcool, picante, amargor final mais perceptível, bom corpo.

Boa cerveja. Também levemente frutada. Melhor corpo do que na filtrada. A presença do fermento agrega esta característica desejável. Mudou até a cor da cerveja.

Como disse antes, acho que um estilo mais complexo poderia ser escolhido. Quando vi que seria uma cerveja de natal imaginei algo complexo, que geralmente me agrada mais. Entetanto as Belgian Blond Ales não são cervejas tão complexas. Sei que a motivação para escolher este estilo não foi fazer uma cerveja menos complexa e sim de produzir algo ainda não fabricado no Brasil.

Meus parabéns pelo bom trabalho. Gostaria de poder estimulá-los a ousar cada vez mais. Como as produções são pequenas, voltadas para um público selecionado e a divulgação é feita somente em blogs e comunidades especializadas, não faltaria público para consumir algo mais complexo. O sucesso seria inevitável!

Aliás, estas cervejas são encontradas em poucos locais e pedidos podem ser feitos clicando aqui.

20 dezembro 2008

Edelweiss Snowfresh


A cervejaria Kaltenhausen foi fundada no ano de 1475 em Kaltenhausen, uma pequena vila perto de Salzburgo na Áustria. Já são mais de 500 anos de tradição cervejeira. A cerveja Edelweis Weissbier é uma cerveja de trigo, foi lançada no ano de 1986 e hoje é lider no segmento de cervejas de trigo na Áustria.

O nome da cerveja foi inspirado na flor símbolo dos alpes austríacos, a flor da Edelweiss. A própria flor entra na receita desta cerveja, agregando muita personalidade. Existe uma tradição onde o homem apaixonado escolhia uma flor da Edelweiss para presentear sua amada. Como a flor cresce no alto das montanhas, pegá-la era muito perigoso. Além disso, atualmente é proibido coletá-la, pois é protegida por lei. Para substituir a flor, pode-se então presentear a amada com um copo da Edelweiss Snowfresh.

A flor da Edelweiss.

Um destaque interessante na cerveja é a sua apresentação, com uma bela garrafa com os alpes em relevo nas laterais e a flor de edelweiss gravada também em relevo no fundo. O copo possui os alpes gravados através de jateamento.


A cerveja é importada no Brasil pela Import Beer.



Edelweiss Snowfresh - Hefeweiss , Ale, 5% ABV, garrafa 330 ml.

Cor: Amarela alaranjada, turva.
Espuma: Alta formação, média duração, cor branca e consistência firme.
Aroma: Doce, floral intenso, malte, cítrico claro (lembra tangerina).
Paladar: Doce, malte, cítrico, especiarias, refrescante, alta carbonatação.

Boa cerveja. Bem diferente das outras weissbiers alemãs. A presença da flor da edelweiss, a qual eu não conheço, já se faz de início no aroma forte e delicioso. É o destaque da cerveja. O paladar não é tão intenso quanto o aroma, a não ser pelo doce intenso. Que pena! Mesmo assim recomendo. Estou até com vontade de repetir ao escrever este post.

18 dezembro 2008

Degustando Cervejas - Um guia prático.


Para aproveitar tudo o que uma boa cerveja tem a oferecer não é preciso ser nenhum especialista, mestre-cervejeiro ou mesmo possuir talentos exclusivos e especiais. Tudo o que precisamos é ter interesse em cerveja, atenção e muita vontade para "caçar" aromas e sabores diversos. Conhecer um pouco sobre os estilos de cerveja ajuda a saber o que esperar de cada uma antes mesmo de serví-la no copo. Em todas as cervejas é esperado sentir a presença de malte e lúpulo. Nas Pilsens tradicionais Tchecas, que são cervejas Lager (leia-se "laguer"), ou de baixa fermentação, podemos esperar o adocicado do malte, que também traz notas de biscoito, pão ou grãos, a boa presença de lúpulo aromático, com um bom amargor também proveniente deste. Nas cervejas Ale (leia-se "eiou"), ou de alta fermentação, além de malte e lúpulo, pode-se esperar a presença de aromas e sabores que lembram frutas em consequência da liberação de substâncias químicas durante a reação de fermentação. Nas cervejas de trigo, ou Weissbier, devemos esperar a presença de banana e cravo, além de leve toque cítrico e muita refrescância. Nas Stouts temos a presença de torrado e café expresso, podendo ter também chocolate.

Uma cerveja pode até mesmo não possuir uma grande variedade de aromas e sabores e mesmo assim ser boa. O mais importante é que ela seja bem balaceada, onde nenhum aroma ou sabor fique em desarmonia com o restante do conjunto. Em cervejas menos complexas, geralmente esperamos pelo menos uma boa combinação entre o doce do malte e o amargor do lúpulo. Nas mais complexas, além disso, podemos nos deliciar a cada gole que revela um novo sabor ou aroma diferente.

Particularmente, prefiro as cervejas mais complexas, mas nem sempre foi assim. Já joguei uma boa cerveja na pia quando estava iniciando a degustar, simplesmente porque ainda não estava preparado para algo tão diferente do que era cerveja para mim antes. Com o tempo, o paladar pode ser desenvolvido. Aquela cerveja que antes agredia pode passar a ser prazerosa. Sugiro tentar iniciar provando cervejas mais leves e desenvolvendo o paladar por etapas. Para quem está começando pode ser mais difícil, mas, a partir do momento que vamos pegando o jeito, degustar cervejas vai ficando cada vez mais divertido e prazeroso.

Condições gerais para degustação: O primeiro passo é escolher as cervejas a serem degustadas. Com a variedade tão grande de cervejas disponíveis, dá até nó na cabeça. Escolha um local com boa iluminação, de preferênia natural, o que ajuda na avaliação da cor da cerveja. Evite locais com pessoas fumando e perfumes fortes que podem atrapalhar a avaliação da cerveja. Cada estilo de cerveja tem um tipo de copo adequado para ser degustada. Entretanto, se o objetivo é comparar cervejas, deve-se usar o mesmo tipo de copo para todas.

Temperatura da cerveja: Cada estilo de cerveja possui uma temperatura ideal para degustação. Neste ponto, o gosto pessoal possui influência na forma como servimos a nossa cerveja. O importante é lembrar que temperaturas muito baixas, perto de 0°C, anestesiam as papilas gustativas da língua e dificultam a percepção dos sabores. Quanto mais próximo da temperatura natural do ambiente estiver uma cerveja, mais ela revelará seu caráter. De forma geral, as cervejas mais leves, como uma Pilsen ou uma Kolsh, devem ser degustadas entre 5 a 9°C e as cervejas mais encorpadas, como uma Barley Wine ou uma Trapista autêntica podem ser degustadas em até 15°C. Todos os estilos sem encaixam em alguma temperatura dentro desta faixa.

Ordem das cervejas: Começe sempre pelas cervejas mais leves e deixe aquelas com maior complexidade, mais caráter e maior teor alcoólico para o final. Quando começamos uma degustação pela cerveja mais "forte", ao provar as mais leves, podemos ter os sentidos alterados e não conseguir mais sentí-las por completo.

Limpar o paladar: Entre cervejas é recomendada a ingestão de alimentos que limpem o paladar. Geralmente podemos utilizar um pão simples (sem sal ou açúcar, nem manteiga, ou qualquer tempero que atrapalhe a percepção da cerveja) e água sem gás.

Quantidade de cervejas: A degustação de cervejas exige que o degustador engula a cerveja. Sendo uma bebida alcoólica, a sua ingestação inexoravelmente provocará um efeito inebriante dependente da quantidade ingerida. Depois de algumas cervejas, a percepção se torna menos precisa e atrapalha a degustação. Recomendo no máximo quatro cervejas se estiver bebendo sozinho. Ao dividir as cervejas com outras pessoas, a quantidade ingerida de cada cerveja será menor, podendo-se aumentar a quantidade de cervejas.

16 dezembro 2008

Tilburg's Dutch Brown Ale

Esta cerveja é produzida pela cervejaria Koningshoeven, responsável pela produção das cervejas trapistas La Trappe. Apesar disso, a Tilburg não é uma cerveja trapista. A cervejaria Koningshoeven foi fundada no ano de 1881 no sul da Holanda e fica junto da abadia. O nome Koningshoeven significa "a fazenda do Rei", isto porque a abadia e a cervejaria foram fundadas no que antes era uma fazenda do Rei Willem II, da Holanda.

O mais curioso sobre esta cerveja é o seu rótulo. Nele podemos ver uma figura pitoresca. Ninguém consegue entender o que significa. Parece uma ave com formas humanóides e que ainda está engolindo uma pessoa. Na verdade, esta figura foi tirada da pintura "The Garden of Earthly Delights", obra do artista Jeroen Bosch. Nela podemos ver três painéis. O painel de onde foi tirada esta figura pitoresca representa o inferno e é recheado de muitas outras figuras. No site da cerveja existe uma promoção que permite você escolher qual será a criatura que estará no novo rótulo da cerveja e promete prêmios a quem acertar o vencedor.

Quem traz esta cerveja ao Brasil é a importadora Bier & Wein.


Tilburg's Dutch Brown Ale - Brown Ale, Ale, 5% ABV, Garrafa de 330ml.

Cor: Cor marrom com reflexos vermelho rubi, translúcida.
Espuma: Boa formação, média/ baixa duração, cor bege escura e boa consistência, deixando marcas pelo copo.
Aroma: Malte, adocicado, frutado bem perceptível com frutas escuras (ameixa, passas), caramelo, toffee, leve torrado.
Paladar: Malte, doce, frutado (ameixa, passas), caramelo, toffee, leve álcool, leve amargor final (parece mais ser proveniente do torrado). Sensação residual doce, médio corpo.

Boa cerveja. Boa complexidade. Ótimo aroma e sabor frutado. Fácil de beber devido ao seu teor de álcool relativamente baixo e quase que imperceptível na degustação. Só apareceu álcool quando já estava mais quente no copo. Acredito que um melhor corpo deixaria a cerveja mais completa e deliciosa.

13 dezembro 2008

Felinfoel Stout

Este kit composto de três cervejas em garrafa produzidas no Reino Unido foi trazido pelo meu irmão quando ele esteve em Londres.
Nest post, vou descrever a Stout produzida pela cervejaria Felinfoel. As outras duas cervejas eu descrevo em outra oportunidade.

Felinfoel é um pequeno vilarejo que fica no oeste do País de Gales. A cervejaria foi fundada no ano de 1878 e até hoje continua a ser operada pela família. Durante a década de 70 a cervejaria foi modernizada, substituindo os fermentadores de madeira pelos de aço inoxidável e um novo tanque de brassagem substituiu o antigo que ainda era aquecido por carvão.



Felinfoel Stout - Stout, Ale, 4,1% ABV, garrafa de 500ml.

Cor: Preta opaca.
Espuma: Alta formação e média duração, cor de café com leite, belíssima consistência, deixando marcas pelo copo.
Aroma: Malte, torrado pronunciado, café, lúpulo.
Paladar: Malte, doce, torrado, café, chocolate, leve frutado (ameixa), lúpulo, amargor final de lúpulo com boa duração, chama por um novo gole, corpo relativamente baixo.

Que beleza de espuma! Estas marcas deixadas no copo também são chamadas de "lacing" pelos americanos. Em rankings de cerveja ou em simples avaliações este aspecto é muito valorizado.

Muito boa cerveja. Só poderia melhorar mais no corpo. Apesar disso, se destaca bem pela boa presença de caráter torrado, principalmente no aroma, além de chocolate e lúpulo no sabor. Porém o seu ponto forte foi na aparência, com uma espuma belíssima e bem consistente, além da sua cor preta, muito bonita.

12 dezembro 2008

Cervejas Colombianas - Aguila, Club Colombia e Costeñita

Graças à boa vontade dos amigos, em algumas oportunidades podemos degustar cervejas que não são encontradas por aqui. Desta vez vou descrever o perfil sensorial de três cervejas que me foram presenteadas por uma amiga que conhece minha paixão por cervejas.

O grupo Bavaria é o maior conclomerado industrial de bebidas na Colômbia e é subsidiário do grande grupo cervejeiro SABMiller, que hoje ocupa o segundo lugar entre os maiores produtores de cerveja do mundo em quantidade. A cerveja Aguila parece ser a mais popular na Colômbia. Patrocina clubes de futebol e associa sua marca com mulheres bonitas, recurso muito utilizado outrora em terras tupiniquins. A Club Colombia é denominada como cerveja premium. Nela é utilizado o lúpulo tcheco saaz, típico das cervejas pilsens tradicionais inventadas por lá e conhecidas também como tchec lagers. Já sobre a Costeñita, não consegui encontrar muita informação, mas parece ser uma cerveja voltada para o mercado popular.

Aguila - Pilsen, lager, 4% ABV, lata 330ml.

Cor: Dourada clara, límpida.
Espuma: Baixa formação e duração, cor branca.
Aroma: Malte, doce, biscoito, lúpulo bem presente (comparado com as comerciais nacionais).
Paladar: Malte, doce, boa presença de amargor do lúpulo, alta carbonatação, refrescante, baixo corpo.
Club Colombia - Pilsen, lager, 4,7% ABV, lata 330 ml.

Cor: Dourado intenso, límpida.
Espuma: Baixa formação e duração, cor branca.
Aroma: Malte, doce mais intenso, lúpulo.
Paladar: Malte, doce, amargor final do lúpulo, alta carbonatação, refrescante, baixo corpo.


Costeñita - Pilsen, lager, 4% ABV, lata 250ml.

Cor: Amarela pálida, límpida.
Espuma: Baixa formação e baixíssima duração, se dissipia totalmente.
Aroma: Lúpulo destacadado, leve malte.
Paladar: Malte, agradável amargor de lúpulo (maior que nas comerciais nacionais), alta carbonatação, refrescante, baixo corpo.

Independente do público alvo de cada uma dessas cervejas, a conclusão que posso tirar depois de prová-las é que os colombianos estão com um pouco mais sorte que nós em termos de cervejas fabricadas em grandes quantidades. Em todas elas é possível sentir o lúpulo com algum destaque a mais do que encontramos nas cervejas brasileiras. Recado dado para as cervejarias brasileiras. Não quero dizer com isso que estas sejam cervejas espetaculares, pois não são. São simplesmente cervejas comerciais boas e honestas.

10 dezembro 2008

Grimbergen Blond e Dubbel


A abadia de Grimbergen foi fundada no ano de 1128 por Norbert de Xanten no município de Grimbergen, localizado na Bélgica. Como tradição, os monges mantinham uma receita de cerveja passada de geração para geração. Esta cerveja era usada para consumo próprio e também era servida aos viajantes que eram acolhidos pela abadia. Durante sua história, a abadia foi destruída em três vezes, nos anos de 1142, 1566 e 1798. Em todas as oportunidades ela foi recontruída e por isso foi escolhido como símbolo uma Fênix, que representa renascimento.

Hoje a cerveja é fabricada pela Alken Maes em diversas versões. Tive oportunidade de degustar duas das versões que podem ser encontradas no Brasil importadas pelo Armazém do Nono.


Grimbergen Blond - Belgian Pale Ale, ale, 6,7% ABV, garrafa 330ml.

Cor: Dourada intensa, límpida.
Espuma: Alta formação, média/ baixa duração, de cor branca. A consistência não impressiona mas deixa leves marcas pelo copo.
Aroma: Doce, frutado, leve fermento belga, malte, picante.
Paladar: Doce, frutado, fermento belga, malte, picante, leve álcool, leve amargor, alta carbonatação, corpo médio/baixo (baixo para o estilo).

Cerveja boa, parecida com a Leffe Blond. Talvez não repetisse a degustação por que a Leffe continua sendo mais em conta e também mais fácil de encontrar.


Grimbergen Dubbel - Belgian Dubbel, ale, 6,5% ABV, garrafa 330ml.

Cor: Vermelha escura, límpida.
Espuma: Alta formação, média/ baixa duração, de cor bege e consistência mais grossa e bonita.
Aroma: Doce, malte, leve frutado (ameixa), leve fermento.
Paladar: Doce, malte, leve frutado, leve torrado, leve picante, leve álcool, alta carbonatação, corpo baixo.

Não deu vontade de repetir. Valeu como experiência. Faltou aroma, sabor e corpo. A cerveja só começou a se mostra melhor depois de esquentar no copo, já acima de 15°C, o que não é o mais recomendado para o estilo. Para quem for provar, recomendo provar também nesta temperatura.

09 dezembro 2008

Christoffel Bier Blond, Robertus e Bok

A cervejaria St. Christoffer faz parte de uma nova geração de cervejarias holandesas e foi fundada em 1986 pelo cervejeiro holandês Leo Brand numa cidade da provícia de Limburg próxima da fronteira com a Alemanha. Todas as suas cervejas são não filtradas e não pasteurizadas, o que geralmente gera melhor qualidade nos produtos. Bom também é o cuidado na apresentação das garrafas, com o fechamento "swing-top".

Tive a oportunidade de provar as três cervejas que chegaram ao Brasil importadas pela Uniland.


Christoffel Bier Blond - Pilsen, lager, 6% ABV, garrafa 330ml.

Cor: Dourado intenso, turva pela não filtragem.
Espuma: Alta formação e média duração, cor alva e consistência bem firme, deixando marcas pelo copo.
Aroma: Lúpulo, leve doce, cítrico, malte.
Paladar: Malte, leve doce, cítrico, lúpulo, bom amargor final com boa duração, alta carbonatação, refrescante, bom corpo para o estilo.


Boa cerveja. Gosto muito de cervejas não filtradas pois acho que a presença do fermento acrescenta muito à bebida. Lúpulo destacado e bem perceptível no aroma, com ótimo amargor. No rótulo diz que é duplamente lupulada.

Christoffel Robertus - Vienna, lager, 6% ABV, garrafa 330ml.

Cor: Ambar escuro/ marrom, turva pela não filtragem.
Espuma: Alta formação e média/ baixa duração, cor bege e consistência firme
Aroma: Malte, doce, lúpulo, caramelo, toffee.
Paladar: Malte, doce, lúpulo, caramelo, toffee, amargor final associado com doce, alta carbonatação, corpo bom para o estilo.


Boa cerveja. A blond deixou melhor impressão por ter aroma mais destacado. Nesta o aroma não é tão forte, mas o sabor compensa em parte com um caráter mais forte do malte e um bom corpo.

Christoffel Bok - Bock, lager, 7,8% ABV, garrafa 330ml.

Cor: Marrom, turva.
Espuma: Média formação, baixa duração, cor bege e queda rápida.
Aroma: Malte, doce, torrado, caramelo, toffee, leve álcool.
Paladar: Malte, doce, torrado, café, caramelo, toffee, leve álcool, leve amargor final, retrogosto doce, alta carbonatação, bom corpo para o estilo.


Boa cerveja. Maltada com bom caráter. Puxada para o torrado. A espuma foi a que menos impressionou das três degustadas. Nesta a queda foi rápida demais, com uma finíssima camada remanescente. O aroma é bom e bem maltado, doce, o que também é facilmente perceptível no sabor.

Garçon, traz a primeira!


Quando chegamos no bar já ficamos ansiosos pelo primeiro gole de cerveja. Aquela imagem de propaganda com a cerveja bem gelada servida no copo e o primeiro gole refrescante... Uma delícia! Pois é, esta é uma imagem que está fortemente inserida na mente da maioria dos bebedores de cerveja simplesmente pela forma como a imagem da cerveja foi trabalhada durante muitos anos: uma bebida refrescante com o papel de somente refrescar a sede.

Hoje, com a entrada de inúmeras cervejas importadas no mercado nacional, a fabricação de cervejas nacionais diferenciadas (principalmente artesanais ou de micro cervejarias) e o maior conhecimento por parte dos consumidores, podemos ver uma nova realidade começando a ser desenhada.
Agora podemos beber cervejas não somente para "matar a sede" ou se refrescar, mas podemos também degustar a cerveja. Melhor ainda é degustá-las utilizando todos os cinco sentidos. Experimente tentar e você começará a explorar um novo mundo cheio de possibilidades.


OS 5 SENTIDOS E A CERVEJA

Audição: Talvez o sentido menos usado. Podemos ouvir o "tssi" da carbonatação quando abrimos a cerveja. A ausência deste barulhinho pode sinalizar que a cerveja está descarbonatada (sem gás ou choca).

Visão: Analisar a cor da cerveja, a formação/duração de espuma, a consistência da espuma, se ela deixa marcas pelo copo.

Olfato: Devemos sentir o aroma desprendido. Para isso basta fazer movimentos circulares com o copo (aquele mesmo que o pessoal faz com os vinhos, não é frescura!). Na foto acima estou analisando o aroma de uma Duvel. Delícia!

Paladar: Neste momento poderemos sentir se o sabor da cerveja é parecido com o que sentimos no olfato. Devemos deixar a cerveja banhar todos os cantos da língua, pois assim será mais fácil identificar os sabores doce, amargo, azedo e salgado (azedo e salgado em cerveja? É isso mesmo, é possível em algumas delas). Há um erro que quase todo mundo comete: cerveja muito gelada. A temperatura muito baixa (0 a 2°C) anestesia as papilas gustativas da língua atrapalhando a degustação. Cada tipo de cerveja possui uma faixa de temperatura ideal para ser degustada.

Tato: Aqui podemos sentir se a cerveja tem muito ou pouco gás, se a sua consistência é mais aguada ou mais grossa e licorosa.

Esta é apenas uma pequena introdução ao assunto e é claro que quem ainda não teve experiâncias com degustações de cerveja não vai ler este texto e já começar sabendo tudo ou identificado cada aroma ou sabor presente nas cervejas. Quando comecei neste mundo cervejeiro, fui aprendendo na tentativa, lendo outros blogs e sites especilalizados no assunto e em pouco tempo eu já conseguia perceber muito em cada cerveja nova que eu provava.
Minha intenção é ajudar qualquer pessoa que estiver interessada em aprender e explorar este mundo, divulgando o verdadeiro potencial da cerveja. Sintam-se à vontade em perguntar e fazer comentários nos posts. Terei prazer em ajudá-los.
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