22 fevereiro 2010

La Trappe Isid'or



As cervejas La Trappe são fabricadas dentro do monastério de Koningshoeven, na Holanda. Este é o único mosteiro trapista que fabrica cerveja neste país. Todos os outros seis estão na Bélgica. As cervejas trapistas mais conhecidas deste monastério são as La Trappe Blond, Dubbel, Tripel e Quadrupel, além de uma Witbier e uma Bock feita com fermento ale. O objetivo deste post não é apresentar a cervejaria e sua história, mas somente a nova cerveja que foi lançada em 2009 como edição especial. Fico devendo um post com a história completa do mosteiro e das cervejas fabricadas por lá.

A La Trappe Isid'or foi criada para as comemorações dos 125 anos de fabricação de cerveja dentro de Koningshoeven. O primeiro cervjeiro foi o frade Isidorus Laaber e a nova cerveja recebeu seu nome como homenagem. Como regra da Ordem Trapista, parte dos lucros das atividades desenvolvidas pelos mosteiros é utilizada para obras de caridade. No caso da Isid'or, o objetivo era de arrecadar fundos para a construção de um novo mosteiro em Unganda para abrigar os frades que fugiram da guerra civil no Quênia ainda em 2008.

 Rótulo da La Trappe Isid'or que retrata seu 
primeiro mestre-cervejeiro, o frade Isidorus Laaber

Apesar de ter sido lançada como edição especial e limitada, os frades de Koningshoeven tiveram a idéia de perguntar aos amantes das cervejas La Trappe se deveriam continuar a fabricação da Isid'or e definitivamente integrá-la ao portfólio de produtos da cervejaria. A convocação foi realizada através do blog da cervejaria, o Weblog van de abt (ou Blog do Abade, em português). Durante os últimos dia de 2009 e os primeiros dias de 2010 esteve aberta uma votação por e-mail. No final foram recebidos 125 e-mails, dos quais 114 eram positivos à continuidade da fabricação. Uma ótima notícia, pois a cerveja realmente é muito boa. Quem importa as La Trappe no Brasil hoje é a BUW. Será que agora a Isid'or continuará a ser trazida?


La Trappe Isid'or - Belgian Pale Ale, 7.5%ABV, garrafa 750ml.

Cor: Âmbar escura, leve turbidez.
Espuma: Boa formação e média duração, cor bege clara, bolhas bem pequenas, consistente, deixa algumas marcas pelo copo.
Aroma: Malte, adocicado, lúpulo, mel, frutado (laranja, maçã, banana), fenólico, picante.
Paladar: Malte, doce, leve caramelo, mel, lúpulo (cítrico, condimentado), frutado (laranja, maçã, banana), fenólico, picante, leve álcool, amargor final de média intensidade e boa duração, bom corpo, textura aveludada.

Ótima cerveja. Que fermento maravilhoso! A cerveja tem um aroma esterificado maravilhoso, lembrando muitas frutas (laranja, banana, maçã). Ela tem uma boa complexidade, mas mesmo assim um ótimo drinkability. Seria capaz de ficar tomando uma garrafa atrás da outra. Também é possível notar uma bela lupulagem nela. Como curiosidade uma das variedades de lúpulo utilizada é o Perle, mas cultivado dentro do próprio mosteiro. Fiquei  positivamente surpreendido por esta La Trappe.


18 fevereiro 2010

Bamberg


A micro cervejaria Bamberg nasceu no ano de 2005 em Votorantim, nas imediações de Sorocaba, interior de São Paulo. Depois de visitar várias cervejarias ao redor do mundo, os irmãos Alexandre, Thiago e Lucas realizaram um estudo e decidiram abrir uma cervejaria. A escolha do nome Bamberg foi uma homenagem à cidade alemã referência em produção de cervejas. A cidade de Bamberg é um importante centro turístico e cultural, que tem como uma de suas principais atrações turísticas a Cidade Histórica, famosa por sua rica arquitetura medieval, ainda preservada depois de séculos, e reconhecida como patrimônio histórico mundial. Além disso, possui outra interessante característica: sua densidade de cervejarias por habitantes é a maior do mundo. Essa grande quantidade de cervejarias tem por base uma tradição de quase 900 anos, iniciada com a fabricação das primeiras cervejas em monastério por volta do século XII.

Hoje, além da quantidade, Bamberg também é conhecida pela variedade da bebida, seus ingredientes cuidadosamente cultivados e selecionados, a qualidade do produto final e as características artesanais de sua produção, conservadas através de sua história. Tudo isso faz com que a cerveja seja descrita pelos habitantes da Baviera como o quinto elemento da natureza, juntamente com a terra, ar, água e fogo.

O primeiro saco de malte foi jogado na tina de cozimento no dia 18 de dezembro de 2005 e como não poderia ser diferente, este malte veio da cidade de Bamberg. A Bamberg produz cervejas de estilos tradicionais alemães. Até hoje eles já produziram Pilsen, Weizen, Munchen, Altbier, Kolsch, Bock,  Schwarzbier e Rauchbier. A última produzida foi a Weizenbock, mas ela não teve ainda lançamento oficial no mercado. Além das cervejas que levam o nome Bamberg, também já foram produzidas por lá as cervejas Tcheca, Saint Nicholas e Vintage Nº1, todas da Biertrupe, e a Melograno Uno, do restaurante Melograno. 

Apesar do pouco tempo de história, a Bamberg já teve muitas conquistas, sendo a mais significativa delas a medalha de prata na categoria Smoked Beer no European Beer Star de 2009 com a Rauchbier. Este estilo de cerveja é característico da cidade de Bamberg e a intenção foi de realmente fazer uma cerveja defumada que pudesse lembrar aquelas produzidas na Alemanha. Para isso o mestre-cervejeiro alemão Stefan Grauvogl foi convidado para elaborar a receita e produzir a cerveja in loco.


Bamberg Pilsen - Pilsen , Lager,  4.8%ABV, garrafa 355ml.
Cor: Dourada clara, brilhante, lípida.
Espuma: Boa formação e média duração, cor branca, boa consistência.
Aroma: Malte, lúpulo.
Paladar: Malte, lúpulo, amargor final de média intensidade e duração, corpo leve/médio, alta carbonatação.

Boa cerveja. O nome é Pilsen mas na verdade ela foi elaborada para ser menos intensa que uma Pilsen tradicional e assim agradar mais ao paladar do público brasileiro. Mesmo modificada ela ficou muito boa e pode ser considerada uma das melhores artesanais brasileiras no estilo. Caracterizada por um ótimo equilíbrio malte/lúpulo e um alto drinkability, ela é muito bem vinda para o dia-a-dia. Se puder encontrá-la novinha fica ainda melhor pelo frescor dos ingredientes que ficam mais acentuados e agradáveis.



Bamberg Weizen - Weizenbier, Ale, 4.8%ABV, garrafa 355ml.

Cor: Âmbar, turva.
Espuma: Alta formação e duração, cor marfim, boa consistência.
Aroma: Malte, adocicado, frutado, banana, tutti-frutti, cravo, cítrico.
Paladar: Malte, doce, frutado, banana, tutti-frutti, cravo, cítrico, amargor quase inexistente, corpo médio, alta carbonatação, leve acidez, refrescante.

Boa cerveja. Típica German Weissbier com todos os elementos que esperamos: banana, cravo, cítrico. Muito bem feita.



Bamberg Bock - Bock, Lager, 6.5%ABV, garrafa 355ml.

Cor: Cobre escura/marrom, límpida, reflexos vermelho rubi.
Espuma: Boa formação e média duração, cor bege, boa consistência.
Aroma: Malte, adocicado, caramelo, toffee, leve álcool, picante.
Paladar: Malte, doce, caramelo, toffee, leve álcool, picante, amargor de média intensidade, sensação final doce e picante, corpo médio, boa textura.

Boa cerveja. Malte predominante como deve ser uma Bock com leves toques de álcool e a sensação picante provocada por ele.



Bamberg Rauchbier - Rauchbier, Lager, 4,8%ABV, garrafa 355ml.

Cor: Cobre, límpida.
Espuma: Boa formação e baixa duração, cor bege clara.
Aroma: Malte, defumado, caramelo, lúpulo.
Paladar: Malte, defumado, doce, caramelo, lpupulo, amargor final de boa intensidade e duração, bom corpo, textura oleosa, alta carbonatação, leve acidez.

Boa cerveja. Tem um defumado bem presente mas que não fica enjoativo. A doçura dos maltes é muito bem balanceada com o amargor final, o que deixa o conjunto mais palatável e com um ótimo drinkability. Equilibradíssima!


Bamberg Rauchbier com o novo rótulo que ostenta 
orgulhosamente seu prêmio internacional conquistado em 2009.

Não deixe de acompanhar algumas notícias e histórias interessantes no blog da cervejaria, escrito pelo Alexandre Bazzo. Eu gosto muito das experiências em cervejarias alemãs relatadas pelo Alexandre.

09 fevereiro 2010

Stone IPA


A Stone Brewing Co. surgiu de uma parceiria entre dois entusiastas da cerveja. O cervejeiro Steve Wagner e o empresário Greg Kock se conheceram em Los Angeles no ano de 1989. Na oportunidade Steve tocava em uma banda e foi um dos primeiros clientes do estúdio que Greg alugava para ensaios. Anos depois eles se reencontraram durante uma aula de avaliação de cervejas. Durante a aula eles descobriram que não somente compartilhavam da mesma paixão pela cerveja, mas que também tinham gostos parecidos. Durante três anos eles mantiveram contato. Foi inevitável chegar à conclusão de que deveriam abrir a própira cervejaria. Aproveitando os conhecimentos e a experiência de Steve na produção de cerveja e o histórico de sucesso de Greg como empresário eles conseguiram convecer alguns investidores a apostar na dupla. Dessa forma eles compraram os equipamentos necessários para começar os negócios. A cervejaria foi fundada no dia 1º de fevereiro de 2006 na cidade de San Marcos, Califórnia. No dia 26 de julho do mesmo ano eles serviram a primeira cerveja direto do barril na sala de degustação da cervejaria: a Stone Pale Ale.

Em 2006, a cervejaria Stone saiu de San Marcos e instalou-se em uma fábrica com melhor estrutura e maior capacidade de produção na cidade de Escondido, também no estado da Califórnia.

O logotipo da Stone é uma gárgula. No contra-rótulo da cerveja podemos ler em inglês o motivo do uso desta figura gótica: afastar os maus espíritos do mundo moderno como preservativos químicos, aditivos e adjuntos em nossas cervejas. Eles ainda te desafiam: prove uma vez e veja se o trabalho da gárgula não é bem feito!

Contra-rótulo da Stone IPA: muitas informações interessantes como o motivo da gárgula, o perfil da cerveja e a filosofia da cervejaria. 

A Stone sempre se destacou pela excelente qualidade das cervejas que produz. Entre elas posso citar a Stone Arrogant Bastard Ale, a Oaked Arrogant Bastard Ale e a Stone Levitation Ale. Tive a oportunidade de provar as duas últimas em um evento no bar Frangó no ano passado (veja aqui mais detalhes). 

Também  existe uma série de cervejas especiais lançadas por eles e sempre chamada de Stone Vertical Epic. A maior curiosidade dessa séria é que a cervejaé lançada uma vez por ano. A primeira foi em 02/02/02, em seguida em 03/03/03. A última será lançada em 12/12/12. No site deles você poderá ler mais sobre as produções da Stone.

A Stone IPA é uma India Pale Ale, um estilo tradicional britânico onde uma Pale Ale era produzida com maior teor alcoólico e maiores quantidades de lúpulo. Ambos, álcool e lúpulo, têm propriedades conservantes desejáveis às cervejas transportadas nas longas viagens da Inglaterra até a sua colônia, a Índia. A grande diferença da Stone IPA para as tradicionais IPA britânicas está nas variedades de lúpulos utilizadas. Os americanos usam lúpulos locais, típicos da terra do tio Sam, os quais dão um toque diferenciado, geralmente mais cítricos. Além dos tipos de lúpulo, os americanos, que costumam ser superlativos e exagerados em tudo o que fazem, também começaram a colocar quantidades cada vez maiores de lúpulo em suas cervejas. Muitos até discutem se essa adição de tipos de lúpulos diferentes e a busca por cervejas extremas seriam motivo para considerar a existência de uma escola cervejeira americana. O certo é que muito do que eles produzem é realmente intrigante, diferente e gostoso.


Stone IPA - American IPA, Ale, 6.9%ABV, garrafa 355ml.

Cor: Âmbar clara, levemente turva.
Espuma: Boa formação, média duração, cor branca amarelada, média consistência, deixa muitas marcas pelo copo.
Aroma: Lúpulo, floral, pinheiro, cítrico, leve frutado (limão, laranja, grapefruit), malte, caramelo.
Paladar: Leve adocicado, caramelo, lúpulo, pinheiro, cítrico, frutado ( limão, laranja, grapefruit), leve picante, amargor final de grande intensidade e duração, corpo médio.

Ótima cerveja. O aroma é incrível e delicioso. A sensação é quase a mesma de sentir o aroma de um punhado de flores de lúpulo na palma da mão (provavelmente devido ao dry-hopping). É possivel sentir quase todos os elementos que podem vir do lúpulo: floral, pinheiro e cítrico. O malte também aparece com sugestões de caramelo e leve adocicado, dando maior equilíbrio ao conjunto. O sabor segue como o aroma e apresenta notas intensas de lúpulo e pode lembrar um doce de frutas cítricas. Delicioso. O amargor é intenso e duradouro (dura quase 2 minutos na boca depois de um gole). Para quem ainda não está acostumado é uma porrada. Eu adorei!

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