27 maio 2009

Palm e Palm Royale


A Cervejaria Palm é uma das maiores e mais antigas cervejarias independentes na Bélgica. Antigos registros de 1747 da cidade de Steenhuffel (na época um feudo) demonstram a existência de duas cervejarias. Uma delas era a De Hoorn, propriedade de Jean-Baptiste De Mesmaecker.

Em 1908, Henriette De Mesmaecker, bisneta de Jean-Baptiste, casa com Arthur Van Roy que será responsável por administrar uma taverna e a fazenda da família e por dar os primeiros passos no sentido de construir uma estrutura para a cervejaria. Durante a I Guerra Mundial, a cervejaria foi totalmente destruída, mas Van Roy a reconstruiu maior ainda do que era antes. Nesta época era grande o interesse por cervejas Lagers, notadamente as Pilsens. Apesar disso, Van Roy acreditava que a sua cerveja Ale era muito mais saborosa que qualquer Pilsen e que poderia até mesmo fazer sucesso fora dos limites de Steenhuffel. Em 1929 foi criada a marca Palm Speciale. O filho de Arthur Van Roy, Alfred Van Roy, aprendeu a fazer cerveja com o pai, mas também estudou em uma escola cervejeira em Bruxelas. Em 1947, aniversário de 200 anos da cervejaria, foi lançada a Dobbel Palm, uma versão mais escura e alcoólica da Palm. Em 1952 Arthur Van Roy faleceu e os negócios foram assumidos por Alfred.

Em 1975, o nome da cervejaria De Hoorn foi trocado por Palm, já que o nome da cerveja já era mais popular que o antigo nome da cervejaria. Para enfatizar que a cerveja era um produto da região da província do Brabante Flamenco belga, o cavalo robusto típico desta região foi adotado como logotipo da cervejaria. Hoje o Grupo Palm é dono de algumas cervejarias belgas tradicionais, como Boon e Rodenbach.

A cerveja Palm pode ser encontrada no Brasil em duas versões: a tradicional Palm e a Palm Royale, esta lançada em 2003 em comemoração ao aniversário de 90 anos de Alfred Van Roy.


Palm - Belgian Pale Ale, Ale, 5.4%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Âmbar escura/cobre, límpida.
Espuma: Alta formação, média duração, cor branca, bem consistente, deixa marcas grossas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, caramelo, lúpulo.
Paladar: Malte, doce, caramelo, fermento, leve amargor final, corpo médio/baixo.


Cerveja pouco complexa, com alto drinkability (baixo teor alcoólico e fácil de tomar), mas muito gostosa e agradável. Esta pode ser aquela para beber em maiores quantidades, até mesmo pelo seu teor alcoólico baixo. Apesar de geralmente não ser fã de cervejas pouco complexas, esta agradou bastante. Acredito que seja principalmente devido ao delicioso aroma, com boa presença de maltes caramelados e principalmente de lúpulo, apesar de que no sabor o lúpulo é bem discreto.

Como curiosidade, quando vemos a blumenauense Eisenbahn Pale Ale pensamos que ela é do estilo English Pale Ale, mas ela foi inspirada neste estilo Pale Ale belga.


Palm Royale - Belgian Pale Ale, Ale, 7.5%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Âmbar, límpida.
Espuma: Boa formação, média/baixa duração, cor branca, boa consistência, deixa marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, caramelo, fermento, lúpulo, cítrico, leve álcool.
Paladar: Malte, doce, caramelo, cítrico, leve álcool, amargor final, corpo médio.

Boa cerveja. Muito parecida com a Palm tradicional, mas com uma maior presença de lúpulo tanto no aroma, que fica mais cítrico, quanto no sabor ligeiramente mais amargo. Nesta a espuma é menos consistente e duradoura. O teor alcoólico é maior e se faz presente durante a degustação.

23 maio 2009

Rodenbach Grand Cru


A história da cervejaria Rodenbach começou em 1821 quando os quatro irmãos Rodenbach (Pedro, Alexander, Ferdinand e Constantijn) investiram em uma pequena cervejaria em Roeselare na província do Flandres Ocidental na Bélgica. Após 15 anos, Pedro e sua esposa, Regina Wauters, compraram a cervejaria dos outros irmãos. Regina passou a comandar os negócios enquanto Pedro teve que servir como militar. O filho do casal, Edward, tomou a frente na cervejaria a partir de 1864. Durante este período houve um grande crescimento dos negócios. Em 1878 o filho de Edward, Eugene, passou a comandar os negócios. Ele viajou à Inglaterra para aprender o processo de maturação de cervejas Porter em barris de carvalho e depois misturar diferentes cervejas para se conseguir um resultado melhor. Este processo é o que diferenciou a Rodenbach das outras cervejarias, produzindo cervejas únicas e marcantes.

As cervejas na Rodenbach passam por um método de fabricação bem diferente. A cerveja passa por uma dupla fermentação em fermentadores de aço inoxidável onde são utilizadas leveduras de alta fermentação junto com bactérias láticas, os lactobacilos (os mesmos daquele iogurte azedinho). Estas bactérias não contribuem com o teor alcoólico da cerveja pois não produzem álcool e sim o ácido lático, que dá à cerveja um sabor ácido marcante.


A fase de maturação da cerveja ocorre em 294 enormes barris de carvalho, chamados de foeders. Cada um deles tem capacidade para até 180 hl de cerveja. Os barris são feitos sem parafusos ou pregos, sendo montados somente por encaixe. Existe uma equipe para realizar a manutenção destes barris, pois alguns deles chegam a ter mais de 150 anos de uso. A madeira é muito importante na maturação da cerveja, pois é nesta fase que se desenvolvem sabores frutados. Outra contribuição importante do carvalho é a incorporação de sabores e aromas característicos desta madeira, como por exemplo de baunilha. O processo de maturação pode durar até dois anos e cada barril desenvolve uma cerveja diferente das outras. É o conhecimento do mestre-cervejeiro para misturar a cerveja de diferentes barris que cria a magia da Rodenbach.

Barris de carvalho, ou foeders, utilizados para a maturação da Rodenbach.

As cervejas produzidas por lá são:

Rodenbach: A cerveja clássica que provavelmente introduziu um novo estilo, o Flanders Red Ale, que é conhecido como o estilo de cerveja que mais se parece com vinho. É resultado da mistura de 25% de uma cerveja maturada por pelo menos 2 anos com 75% de uma cerveja mais jovem, maturada por apenas alguns meses. Classificada pelo falecido Michael Jackson como uma das cervejas mais refrescantes do mundo!

Rodenbach Grand Cru: Uma versão mais ácida resultante da mistura de vários barris, sendo 1/3 de cerveja mais jovem e 2/3 de cerveja com pelo menos 2 anos de maturação, fazendo uma média de 18 meses de maturação. A maior proporção de cerveja maturada por mais tempo contribui para sua maior complexidade e seu sabor frutado.

Rodenbach Foederbier: Resultado da mistura de 3 a 5 barris com a média de maturação de 2 anos. Esta é uma cerveja ainda mais ácida e somente é oferecida "on-tap" em alguns cafés na Bélgica.
Rodenbach Foederbier.
Foto: Danny Van Tricht.

Vin de Céréale: Maturada por três anos em um dos foeders mais antigos, o Nº132. Classificada como uma barley wine e com 10% de teor alcoólico.
Vin de Céréale.
Foto: Filip Geerts (Belgiam Beer Board).

Tive a oportunidade de degustar a Rodenbach Grand Cru, uma cerveja que confesso já fazer parte da minha lista de desejos já há algum tempo, pois tratava-se de um clássico em um estilo bem particular e ainda não conhecido por mim.


Rodenbach Grand Cru - Flanders Red Ale, Ale, 6%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Marrom, reflexos vermelho alaranjados, turva.
Espuma: Boa formação e média/baixa duração, de cor bege escura, deixa leves marcas pelo copo.
Aroma: Ácido destacado, doce, vinagre, frutado, cerejas, maracujá, vinho, madeira, baunilha.
Paladar: Ácido destacado, vinagre, frutado, cerejas, maracujá, vinho, madeira, baunilha, final ácido, seco e adstringente intenso e de longa duração.

Ótima cerveja. Mais uma daquelas que podem provocar reações de amor e ódio, como algumas Lambics e a Orval. Para quem gosta de sabores ácidos em cervejas é um prato cheio! Lembrou demais a acidez extrema encontrada em produções da Cantillon. O aroma desta cerveja é um delícia. Ao primeiro contato lembra muito o aroma de vinho, excetuando-se pela acidez extrema que não é comum em vinhos, pelo menos não desta forma. Frutado delicioso lembrando frutas vermelhas (cerejas) e até mesmo maracujá, pela provável contribuição do aroma ácido. Amadeirado e baunilha advindos da maturação em carvalho. Muito seca e adstringente. Ela trava no final e pode ser consequência de taninos provenientes do carvalho. Com certeza uma cerveja extrema, adorei!

20 maio 2009

Brasil Brau 2009


Veja o folder completo clicando aqui.

Brasil Brau reúne mercado cervejeiro do Brasil e do mundo

Evento ainda terá espaço para degustação de cervejas especiais

A Associação Brasileira dos Profissionais em Cerveja e Malte (Cobracem) com o apoio do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv) e o do SENAI – RJ promovem o maior encontro nacional de negócios do setor cervejeiro, a Brasil Brau 2009 – X Feira Internacional de Tecnologia em Cerveja. A feira, que acontece entre os dias 23 e 25 de junho no Centro de Convenções Frei Caneca – São Paulo reunirá toda a cadeia produtiva da bebida. Paralelamente ao evento, acontecem ainda o XI Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia Cervejeira e o IV Simpósio Latino Americano de Tecnologia Cervejeira, realizado pelo SENAI - RJ.

A Brasil Brau, única feira dedicada exclusivamente ao setor cervejeiro do país, tem como um dos objetivos reunir as principais empresas e instituições nacionais e internacionais com o propósito de apresentar o que existe de mais moderno em tecnologia, produtos e serviços do setor. Ao todo estarão reunidos mais de 100 expositores que ocuparão mais de 3.500m².

Embalagens, rótulos, literaturas técnicas, matérias-primas, materiais auxiliares, produtos químicos, equipamentos do processo de elaboração de cerveja, cervejarias e consultorias são alguns dos setores que já confirmaram presença no evento.

De acordo com o último levantamento do Sindicerv, o mercado cervejeiro no Brasil produziu 10,34 bilhões de litros de cerveja ao longo de 2007 E o consumo per capita foi de 56 litros. O setor faturou R$ 25,8 bilhões e investiu R$ 3 bilhões nos últimos cinco anos. O Brasil ocupa a quinta posição no ranking mundial dos produtores de cerveja.

O consumo nos pontos–de-venda está dividido aproximadamente da seguinte forma: 50% para cold market (mercado frio - bares e restaurante), 35% self service (autosserviço – lojas de conveniência e supermercados) e, com a menor fatia está o traditional market (mercado tradicional – padarias, minimercados e mercearias) que registra apenas 15%.

No último levantamento em 2007, segundo o Sindicerv, as cervejas especiais no Brasil apresentaram um crescimento expressivo, na casa dos 12%, comparada a taxa de crescimento do mercado de cervejas em geral, que registrou 6,7%. Estes números refletem aspectos de renda disponível, distribuição e informação nas diferentes regiões do Brasil.

DEGUSTA BEER

A Brasil Brau 2009 ainda terá o Degusta Beer, um ambiente exclusivo para degustação onde os expositores terão a oportunidade de mostrar seus produtos para um público qualificado.

O Degusta Beer apresentará sessões de degustação orientada, as quais proporcionarão conhecimento dos mais variados estilos e marcas de cerveja disponíveis no país atualmente.

Mais informações pelo site:
http://brasilbrau.com.br

17 maio 2009

Uma imagem vale mais que mil palavras VI - Hoegaarden Grand Cru


Mais um vídeo para entreter e provocar os leitores. Dessa vez um vídeo sobre uma cerveja que foi título de um dos primeiros posts do Para Que VoCerveja, a Hoegaarden Grand Cru, que na minha opinião é uma ótima cerveja. No vídeo é possível ver a cerveja servida em sua taça original, muito bom!



Para ler a história da criação da Hoegaarden, clique aqui.

Para ler mais sobre a Hoegaarden Grand Cru, clique aqui.

14 maio 2009

Gribousine Blonde e Brune


A Brasserie de Malonne fica na pequena vila de Mallone na Bélgica, perto da cidade de Namur, capital da Valônia. A empresa foi fundada no ano de 1998 e é especializada em vendas no atacado e distribuição de várias marcas de cervejas belgas, incluindo as trapistas Chimay e Achel, além de muitas outras belgas famosas. Eles possuem duas marcas de cerveja, ambas produzidas em outras cervejarias sob a sua licença. Uma destas marcas é a Abbaye de Malonne, produzida na cervejaria Lefebvre, que pode ser encontrada nas versões Blonde e Brune. A Blond pode ser encontrada no Brasil e será comentada em um momento posterior.

As cervejas título deste post são as Gribousine, fabricadas na cervejaria La Binchoise e podem ser encontrada nas versões Blonde de Malonne e Brune de Malonne. Ambas são comercializadas no Brasil. Pude degustá-las e compartilho aqui as minhas impressões. Existe também uma versão de Natal, a Gribousine Winter, mas esta não chegou por aqui.

Diz a lenda que Gribousine era uma moça que viveu em Malonne há muito tempo. Gribousine era conhecida pelo seu mau humor e por isso passaram a achar que ela seria uma bruxa. A bruxa é o elemento principal no rótulo das cervejas Gribousine, só que aqui ela está voando em cima de uma pá cervejeira para mosto e não na vassoura!


Gribousine Blonde de Malonne - Belgian Golden Strong Ale, Ale, 8.5%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Âmbar clara, turva.
Espuma: Boa formação e média/baixa duração, cor branca, boa consistência.
Aroma: Malte, doce marcante, frutado, picante, condimentado, lúpulo.
Paladar: Malte, doce, frutado, picante, condimentado, álcool, bom amargor final, com boa intensidade, corpo médio.

Boa cerveja. Com um aroma bem doce, picante e condimentado. No sabor aparece novamente o fenólico picante e também o álcool para colaborar com a sensação. No aroma o álcool não se fez notar. Para mim lembrou um pouco a brasileira Schmitt Barley Wine (também bem doce), apesar de serem de estilos bem distintos. A diferença é que achei esta aqui mais agradável e com melhor drinkability.


Gribousine Brune de Malonne - Belgian Dark Strong Ale, Ale, 8%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Marrom, turva, leves reflexos vermelho rubi.
Espuma: Alta formação e média/baixa duração, cor bege, bolhas grandes, não deixa marcas.
Aroma: Malte, doce, torrado, leve frutado, melaço, fenólico, picante, leve álcool.
Paladar: Malte, doce, torrado, leve frutado, melaço, fenólico, picante, álcool, bom corpo, leve amargor final.

Ótima cerveja. Lembra bem a versão Blonde com uma diferença somente no aparecimento de aspectos associados aos maltes escuros como torrado e melaço. O torrado é o que mais se destaca nesta cerveja.

Posso dizer que pelo menos no preço estas cervejas ganham de suas concorrentes mais famosas que já são comercializadas por aqui há mais tempo. Seus preços são ligeiramente melhores, com exceção se comparados aos preços das Leffes. Não dá para competir com o poder econômico de uma grande empresa como a AB Inbev que vende Leffe aqui praticamente pelo mesmo preço praticado na Europa.

10 maio 2009

Pilsner Urquell



Até 1840 a maioria das cervejas fabricadas na Boêmia, região da atual República Tcheca, eram Ales (alta fermentação) de cor escura e turvas. O padrão destas cervejas variava muito em sabor e qualidade, o que causava insatisfação nos seus consumidores. Em 1839 os cidadãos da cidade de Pilsen fundaram a Bürger Brauerei (cervejaria dos cidadãos) com o objetivo de fabricar cerveja segundo o estilo da Baviera, região da atual Alemanha. Os cervejeiros da Baviera já possuíam experiência na fabricação de cervejas utilizando a estocagem em baixas temperaturas dentro de caves utilizando fermento Lager (baixa fermentação), resultando em cervejas mais claras e transparentes.

A Bürger Brauerei contratou o cervejeiro da Baviera Josef Groll que no dia 5 de outubro de 1842 produziu a primeira leva de uma cerveja que daria início a um novo estilo. Esta cerveja foi a Pilsner Urquell, uma cerveja de cor dourada, límpida e brilhante com um ótimo perfil de lúpulo. Esta foi a primeira Pilsen da história. Vários fatores ajudaram no surgimento deste novo tipo de cerveja. O controle sobre o processo de malteação permitiu que maltes mais claros pudessem ser obtidos, resultando em uma cerveja de cor mais clara, dourada, diferente das cervejas escuras mais comuns na época. A presença de ingredientes de boa qualidade como a água com baixo conteúdo de minerais de Pilsen, conhecida como água mole, ideal para a fabricação deste tipo cerveja, os maltes da Boêmia e da Morávia e o lúpulo da variedade Saaz da região de Zatec. Na época, a popularização de copos de cristal permitiu que as pessoas pudessem ver e apreciar a cor do que estavam bebendo. A cor dourada daquela nova cerveja contribuiu muito para que ela se tornasse um sucesso.

Ilustração de Josef Groll - Criador da Pilsner Urquell, a primeira Pilsen.

Muitas cervejarias passaram a tentar reproduzir aquela cerveja. Hoje a maior parte da cerveja consumida no mundo é denominada pelos seus fabricantes de Pilsen, apesar de que elas não são parecidas com a Pilsen original de Josef Groll, a não ser pela aparência. A palavra Urquell significa "original", portanto Pilsner Urquel significa a cerveja Original de Pilsen.

Portão de entrada da cervejaria.

Hoje a cervejaria que fabrica a Pilsner Urquel é chamada de Plzenky Prazdroj e pertence ao grupo SAB Miller desde 1999. Tradicionalmente a cerveja passava pelo processo de maturação dentro de grandes barris de carvalho revestidos internamente com piche. Estes barris ficavam em grandes galerias no subterrâneo da cervejaria repletas de gelo, o que permitia a maturação em temperaturas perto de 0°C. A cervejaria inclusive possuía funcionários para fabricação e manutenção de seus próprios barris. Hoje a produção foi modernizada e a maturação da cerveja ocorre em 56 grandes tanques de aço inoxidável com temperatura controlada por computador. Apesar da modernização já ter chegado na Plzenky Prazdroj, uma pequena parcela da produção da Pilsner Urquell ainda é feita da forma tradicional. Um time de ex-cervejeiros é chamado para participar de um teste cego entre as versões tradicional e modernizada da cerveja. Segundo a cervejaria, eles não são capazes de diferenciar uma versão da outra. Ao visitar a Plzenky Prazdroj é possível degustar esta versão tradicional da Pilsner Urquell no restaurante adjacente à cervejaria, o Na Spilce, único local do mundo onde podemos encontrar esta versão não filtrada e não pasteurizada.

Caves subterrâneas na Plzenky Prazdroj onde ficam os antigos barris de maturação.

Foi possível encontrar a Pilsner Urquell no Brasil em 2007, quando ela chegou em latas de 500ml a um preço irreal. Nesta oportunidade eu não consegui uma dessas latas e não fiquei tão triste pois, ao que parece, todas estavam oxidadas. Agora já é possível encontrar novamente esta cerveja no Brasil. Ela chegou em garrafas de 500ml a um preço maior ainda! Pude degustá-la e divido a experiência com vocês.


Pilsner Urquell - Pilsen, Lager, 4.4%ABV, garrafa 500ml.

Cor: Dourada intensa, límpida e brilhante.
Espuma: Média formação e duração, cor branca, boa consistência no início, deixa poucas marcas pelo copo.
Aroma: Malte, pão, biscoito, lúpulo.
Paladar: Malte, biscoito, amargor final com boa intensidade e duração, alta carbonatação, refrescante.

Bela cerveja. Apesar das Lagers refrescantes não serem meu estilo preferido, sei reconhecer quando uma cerveja é bem feita e possui qualidades. A Pilsner Urquell não é uma simples cerveja, mas uma lenda na história da cerveja. Impressiona pela qualidade em todos os aspectos, do visual até a sensação final. O aroma é o mais claro que já senti de malte pilsen, parece que estava cheirando um punhado de malte em minhas mãos. Além do malte, é fácil também sentir a presença do lúpulo floral e herbáceo. No sabor a dupla aparece muito bem novamente com destaque para o amargor final, muito bom. Gostaria de poder ter acesso mais frequente a ela, mas sem esses preços que estão sendo cobrados. Desta forma estamos pagando pela lenda que ela representa e não pela cerveja em si.

06 maio 2009

Fuller's


A cervejaria Fuller's é uma empresa familiar que ocupa o prédio da antiga cervejaria Griffin que produziu cerveja por mais de 350 anos no distrito de Chiswick, em Londres. Os antigos donos do negócio Douglas e Henry Thompson e Philip Wood, se aproximaram de John Fuller no século 19 em busca de um investimento que ajudasse a manter a parceria. John se juntou à parceria no ano de 1829, mas em 1841 a parceria foi dissolvida. Em 1845 John Bird Fuller, filho de John Fuller, se uniu a Henry Smith e a seu cunhado John Turner, fundando a Fuller Smith & Turner que é o nome da empresa até hoje. Ainda hoje há representantes das famílias Fuller e Turner trabalhando na empresa e todas as famílias estão fortemente representadas como acionistas, já que a empresa abriu o capital em 1929.

A cervejaria Fuller's é mais conhecida no Reino Unido pela sua London Pride, a cerveja premium acondicionada em barris líder de mercado, mas eles possuem uma grande variedade de cervejas em estilo inglês. Algumas delas podem ser encontradas no Brasil. Estas são algumas das melhores cervejas inglesas encontradas por aqui. Neste post vou comentar sobre as cervejas:

-London Pride
-1845
-ESB
-London Porter
-Golden Pride

Ficarei devendo a degustação de outras cervejas que também já podem sem encontradas no Brasil:

-Honey Dew (uma Golden Ale leve e refrescante feita com ingredientes orgânicos).
-Vintage Ale (uma cerveja safrada, feita uma vez por ano com os melhores ingredientes e baseada na receita da Golden Pride).
-India Pale Ale (uma IPA recém chegada ao Brasil).


Fuller's London Pride - Bitter, Ale, 4.7%ABV, garrafa 500ml.

Cor: Cobre, limpida.
Espuma: Média formação e baixa duração, boa consistência, deixa marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, caramelo, lúpulo, cítrico.
Paladar: Malte, doce , caramelo, cítrico, amargor final prolongado e intenso, corpo médio/baixo.

Ótima cerveja. Possui um perfil de lúpulo bem marcante, com um ótimo aroma floral e cítrico. O malte aparece com a presença de caramelo. Poderia ter melhor corpo.


Fuller's 1845 - English Strong Ale, Ale, 6.3%ABV, garrafa 500ml.

Cor: Cobre escura/marrom, límpida.
Espuma: Alta formação e duração, cor bege, ótima consistência.
Aroma: Malte, doce, lúpulo, caramelo, toffee, frutado (frutas cozidas), cítrico.
Paladar: Malte, doce, caramelo, toffee, frutado, cítrico, amargor final prolongado e intenso, corpo médio.

Ótima cerveja. Mais maltada e frutada que a London Pride com a mesma presença de lúpulo no aroma e no sabor. Ótima representante da escola inglesa. Foi lançada pela primeira vez em 1995 para comemorar o aniversário de 150 anos da cervejaria.


Fuller's ESB - Extra Special Bitter, Ale, 5.9%ABV, garrafa 500ml.

Cor: Cobre escura, límpida.
Espuma; Alta formação e duração, cor bege e boa consistência.
Aroma: Malte, doce, lúpulo, caramelo, toffee, frutado, cítrico.
Paladar: Malte, doce, lúpulo, caramelo, toffee, frutado, cítrico, amargor final prolongado e delicioso.

Boa cerveja. Adoro lúpulo e por isso sou suspeito ao falar. Já ganhou 7 vezes o título de melhor Strong Ale inglesa pelo CAMRA (Campaign for Real Ale).


Fuller's London Porter - Porter, Ale, 5.4%ABV, garrafa 500ml.

Cor: Preta, reflexos vermelho rubi.
Espuma: Média formação e média/baixa duração, cor bege escura, bela consistência, deixa marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, lúpulo, chocolate, caramelo, torrado.
Paladar: Malte, doce, chocolate amargo, caramelo, torrado, ótimo amargor final, prolongado, ótimo corpo.

Ótima cerveja. Esta é uma das minhas Fuller's preferidas. Em síntese esta seria a cerveja de chocolate amargo. O aroma e o sabor de chocolate são muito claros e fáceis de perceber. O amargor é delicioso e complementa perfeitamente o caramelo e o chocolate que vêm dos maltes. O amargor do lúpulo parece ser potencializado pelo torrado do malte. Ótima para acompanhar sobremesas à base de chocolate.


Fuller's Golden Pride - Barley Wine, Ale, 8,5%ABV, garrafa 500ml.

Cor: Cobre escura, levemente turva.
Espuma: Média formação e baixa duração, cremosa.
Aroma: Malte, doce, lúpulo, caramelo, melaço, toffee, frutado (cerejas), leve álcool.
Paladar: Malte, doce, caramelo, melaço, toffee, frutado (cerejas), álcool, bom amargor final, persistente, ótimo corpo.

Ótima cerveja. Bem complexa e com bom equilíbrio entre malte e lúpulo. Nesta o álcool aparece mais que nas outras Fuller's, mas não incomoda. Também é uma das minhas Fuller's preferidas. Em algumas vezes pude sentir um frutado delicioso e surpreendente que lembrava cerejas.

02 maio 2009

Achel Trappist

Entrada da Abadia de St. Benedictus (Achelse Kluis).

A cerveja Achel é mais uma das cervejas trapistas feitas na Bélgica. Ela é produzida pelos monges da Ordem Trapista da Abadia de St. Benedictus, também conhecida como Achelse Kluis, que significa convento de Achel. A Ordem Trapista é uma congregação religiosa católica que segue a regra beneditina, cujos preceitos são de obediência, silêncio, pobreza e humildade, dividindo o tempo de vida monástica entre o trabalho, o estudo e a meditação. Existem apenas sete Abadias trapistas produzindo cerveja, sendo seis na Bélgica e uma na Holanda. A venda de cerveja tem o objetivo de ajudar no sustento das Abadias e das obras de caridade.

Interior da cervejaria. Foto: Danny Van Tricht

A história da Abadia tem início no ano de 1648, quando monges holandeses construíram uma capela na cidade belga de Achel, fronteira com a Holanda. Esta capela servia de local de oração para os holandese católicos, já que a maioria da população era protestante. Em 1686 a capela se tornou uma Abadia, mas ela foi destruída durante a Revolução Francesa. Em 1844, os monges da Abadia de Westmalle ajudaram a resconstruir a Abadia em Achel e iniciaram atividades agrícolas e a produção de vinho. Em 1852 surgiu a primeira cerveja feita em Achel, chamada de "Patersvaatje". A receita desta cerveja depois foi utilizada como base para as cervejas Rochefort. Em 1914 os monges deixaram a Abadia devido à ocupação alemã durante a I Guerra Mundial. Durante décadas não houve mais produção de cervejas dentro da abadia, sendo que a produção era terceirizada para outras cervejarias. Em 1998 os monges decidiram produzir cerveja novamente na Abadia. Com a ajuda dos monges de Westmalle, uma nova cervejaria foi construída e no final de 1998 as primeiras cervejas já tinham sido produzidas. Esta é portanto a cervejaria trapista mais nova de todas. Existem cinco cervejas diferentes na Abadia:

-Achel Blond 5%: servida direto do barril e disponível somente na Abadia.
-Achel Bruin 5%: servida direto do barril e disponível somente na Abadia.
-Achel Blond 8%: disponível em garrafas de 330ml, lançada em 2001.
-Achel Bruin 8%: disponível em garrafas de 330ml, lançada em 2001.
-Achel Extra Bruin (9,5%): disponível em garrafas de 750ml, lançada pela primeira vez em 2003 para celebrar o Natal.

Existe um café anexo à cervejaria, onde é possível degustar as cervejas e ver o trabalho do irmão Antoine e de seu ajudante cervejeiro Mark Knops através de um vidro que separa a cervejaria do café.

Tive a oportunidade de degustar duas das cervejas Achel que estão disponíveis no Brasil, a Blond e a Bruin 8.

Achel Blond - Belgian Strong Ale, Ale, 8%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Dourada, turva, presença de sedimentos.
Espuma: Alta formação e média duração, cor bege clara, bem consistente, deixando marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, frutado (maçã, banana), fermento, pão.
Paladar: Malte, doce, frutado (maçã, banana), fermento, picante, leve álcool, amargor final, bom corpo.

Boa cerveja. Marcada pelo equilíbrio entre os elementos que a compõe. Bom perfil maltado, frutado delicioso e bem presente, traços de fermento e leve fenólico picante. Apesar do teor alcoólico, este está muito bem inserido, pouco perceptível, só aparecendo quando a bebida esquenta. O amargor também só aparece quando a bebida já está mais quente.


Achel Bruin - Belgian Dark Strong Ale, Ale, 8%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Cobre, levemente turva.
Espuma: Alta formação e média duração, cor bege, boa consistência, deixa leves marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, caramelo, toffee, frutado (ameixas), picante, fermento, pão, leve torrado, leve álcool.
Paladar: Malte, doce, caramelo, toffee, frutado (ameixas), picante, fermento, torrado, álcool, amargor final, bom corpo (licoroso).

Boa cerveja. Bem próxima da Achel Blond mas com a presença de leve torrado dos maltes escuros e um frutado que lembra ameixas. Particularmente, as versões escuras me agradam mais e foi o que aconteceu com esta aqui. Até mesmo o corpo dela me agradou mais. A retenção de espuma é melhor nesta.

Veja outras cervejas trapista clicando aqui.
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