31 janeiro 2010

Lindemans Kriek



Há oito gerações, em 1809, a família Lindemans era proprietária de uma fazenda em Vlezenbeek, perto de Bruxelas. Naquela época, o trabalho durante o inverno era menos intenso na fazenda. Eles decidiram então intensificar o trabalho na fabricação de cevada e trigo destinados à fabricação de Lambics, as famosas cervejas belgas de fermentação espontânea.

Em 1930, devido ao suceso das Lambics, as atividades da fazenda foram suspensas. Os esforços foram direcionados para a produção de Gueuze e Kriek (Lambic com cerejas). Em 1978, a cervejaria começou a fabricar Faro, uma Lambic mais adocicada. A Framboise (com framboesas) foi lançada em 1980 e devido ao sucesso das Lambic eles lançaram mais duas novas cervejas: a Cassis em 1986 e a Pecheresse (com pêssegos) em 1987.

Em 1991, para conseguir produzir de acordo com a grande demanda, a cervejaria Lindemans construiu uma nova cervejaria viizinha à antiga, mas com maior capacidade de produção. Em 1995, mais uma nova cerveja foi produzida, a Tea Beer, com sabor cítrico de limão.

A Lindemans Kriek é produzida pela adição de cerejas pretas ácidas ao barril de Lambic com seis meses de produção. A adição da fruta gera uma nova fermentação, pois o açúcar das frutas faz as leveduras trabalharem novamente. Após mais 8 a 12 meses de fermentação sobram somente as cascas e as sementes da fruta. A cerveja está pronta para ser filtrada e engarrafada. O suco de cerejas é adicionado às garrafas para produzir uma nova fermentação e assim permitir a carbonatação da cerveja.

A Lindemans não é encontrada no Brasil. Esta aqui foi presente de amigo e veio direto da Bélgica. Pude degustá-la e divido aqui com vocês a minha experiência:


Lindemans Kriek - Kriek Lambic, Fruit Lambic, 3,5%ABV, garrafa 250ml.

Cor: Vermeelha escura, reflexos rosados/alaranjados.
Espuma: Média formação e baixa duração, cor rosada, deixa marcas na taça.
Aroma: Cerejas, frutada, doce, acidez.
Paladar: Cerejas, frutada, doce, leve acidez, algo de vinho, amargor inexistente, final adocicado e azedo de média duração, carbonatação evidente mas pouco intensa, corpo médio/baixo, levemente seca.

Boa Lambic. O aroma e o sabor de cerejas e bem destacado. Esta é uma Lambic em versão mais comercial, ou seja, adocicada intencionalmente para agradar ao paladar de um maior número de consumidores. Isto não faz dela uma cerveja ruim, mas fica um pouco mais artificial e menos próxima de produções mais tradicionais, que costumam ser mais ácidas. Para as mulheres é um prato (ou copo!) cheio, pois parece muito mais com um vinho rosê docinho.


26 janeiro 2010

Staropramen


A cervejaria Staropramen (Pivovary Staropramen) foi criada no dia 23 de outubro de 1869, em Smíchov, distrito de Praga, capital da atual República Tcheca. A primeira leva de cerveja foi concluída no dia 1º de maio de 1871 e as vendas iniciaram no dia 15 de junho do mesmo ano. O nome Staropramen foi registrado em 1911.

O período entre Guerras foi uma época de muito crescimento e lucros, mas após o término da II Guerra Mundial a cervejaria foi nacionalizada devido ao regime socialista que se iniciou na Tchecoslováquia. Em 1992, com o fim do socialismo, a cervejaria Staropramen foi transformada em uma empresa pública junto com duas outras cervejarias. Em 1993, o grupo Britânico Bass virou acionista majoritário da cervejaria tcheca. Em junho de 2000, a Interbrew adquiriu o Grupo Bass, incluindo a Staropramen. Mais tarde, em 2004 a Interbrew se uniu à brasileira AMBEV para formar a InBev. Hoje a Staropramen é uma das marcas internacionais trabalhadas pela AB-InBev, é também a terceira cerveja tcheca mais exportada e pode ser encontrada em 36 países. Infelizmente o Brasil não é um desses 36 países e esta Staropramen veio da Argentina, onde era facilmente encontrada em alguns bares.


Staropramen - Bohemian Pilsner, Lager, 5%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Dourada intensa/Âmbar clara, límpida, brilhante.
Espuma: Boa formação, média duração, cor branca, deixa muitas marcas pelo copo.
Aroma: Malte, pão, lúpulo.
Paladar: Malte, pão, lúpulo, bom amargor final de boa duração, corpo médio/baixo, alta carbonatação.

Boa Pilsen. Padrão bem intenso de malte com bom balanço proporcionado pelo amargor do lúpulo. O detalhe é que esta cerveja hoje é propriedade da AB-InBev e ainda por cima não é puro malte! Nos ingredientes consta a presença de xarope de maltose. Mesmo assim ela é muito boa (com certeza bem melhor que as nossas cervejas mais populares). Esta é uma prova de que ser puro malte ou seguir a lei de pureza não são regras rígidas para a produção de uma boa cerveja, são somente uma escolha da cervejaria e do mestre-cervejeiro.


20 janeiro 2010

Sabtiem




Quem acha que cerveja é "coisa" de homem? Com certeza muitos acham, mas eu não penso assim! Muito pelo contrário. Ter uma companhia para poder compartilhar de boas cervejas é maravilhoso, se a companhia puder ser feminina fica melhor ainda.

No Rio de Janeiro, um grupo de mulheres que aprendeu a gostar de cervejas especiais decidiu se reunir com frequência para apreciá-las em grupo e aprender mais sobre elas. Este grupo recebeu o nome de FemAle Carioca. As FemAle Tatiana, Luciane, Eduarda, Talita, Regina e Flávia são verdadeiras apaixonadas por cerveja e tiveram apoio muito forte de seus maridos e familiares, afinal a Tatiana é esposa do Leonardo Botto, um dos homebrewers mais conhecidos do país, A Luciane é esposa do Mauro Nogueira, que ensinou o Botto a fazer cerveja, a Eduarda é irmã do Tiago Dardeau, que fundou a Confraria do Marquês junto com o Mauro Nogueira, e a Regina é mãe da Eduarda e do Tiago Dardeau. Ao se conhecerem nos encontros da ACervA Carioca, elas decidiram criar um grupo de mulheres apreciadoras de cervejas. Hoje, além de aproveitar as cervejas disponíveis no mercado, elas já estão produzindo suas cervejas em casa com algumas receitas bem criativas e outras mais tradicionais.

Já tive a oportunidade de conhecê-las pessoalmente durante a Brasil Brau, principalmente a Tatiana e a Luciane, e pude reencontrá-las durante o Concurso Nacional de Cervejas Artesanais que ocorreu no Rio de Janeiro. Lá eu pude provar algumas cervejas produzidas por elas. Neste post vou mostrar a Sabtiem, uma Red Ale fabricada por todas as FemAles durante uma leva coletiva. Veja como foi a fabricação da cerveja clicando aqui.



O nome da cerveja foi tirado da Larousse da Cerveja. Segundo o livro, Sabtiem era o nome dado às mulheres que fabricavam cerveja na Babilônia e na Suméria, em torno de 4000 a.C. Elas tinham muito prestígio e eram consideradas pessoas especiais com poderes quase divinos (muito provavelmente por conseguirem fazer uma mágica na transformação daquele líquido que inebriava). Para quem não sabe, o trabalho de fabricar cerveja nos povos antigos era uma função das mulheres e esse trabalho somente se tornou masculino depois que a fabricação da cerveja saiu de casa e virou uma atividade comercial.


Fui presenteado com uma Sabtiem e pude trazê-la comigo para Fortaleza. Vou dividir minhas impressões aqui com vocês: 




Sabtiem - Red Ale, 7%ABV, garrafa 350ml.

Cor: Marrom, reflexos vermelho rubi, límpida.
Espuma: Boa formação e duração, cor bege, bolhas bem pequenas, boa consistência.
Aroma: Malte, adocicado, caramelo, lúpulo.
Paladar: Malte, adocicado, leve torrado, caramelo, lúpulo, amargor final, leve álcool, levemente seca, bom corpo.

Boa cerveja. Bom equilíbrio entre malte e lúpulo com um aroma bem gostoso inicial, lembrando caramelo e lúpulo, e um sabor adocicado, torrado e seco.

17 janeiro 2010

Ola Dubh Special Reserve 18 e 40





Depois desse longo hiato de mais de 15 dias sem postar (culpa de obrigações das quais eu não poderia fugir) recomeço os trabalhos desejando um ótimo ano para todos os leitores do blog e falando de duas das cervejas que mais me impressionaram no decorrer do ano de 2009: as escocessas Ola Dubh.



Ola Dubh 18: a garrafa é numerada.

Ola Dubh (pronuncia-se ôla dú) significa óleo negro em gaélico, língua antiga mas ainda falada na Irlanda. O nascimento das cervejas Ola Dubh se deu no ano de 2008 através de uma idéia do mestre cervejeiro Stuart Cail que queria fabricar uma cerveja experimental maturada em barril de uísque e destinada para o mercado americano. Através de uma colaboração da destilaria Highland Park, a idéia foi colocada em prática com o lançamento das cervejas Ola Dubh Special Reserve 12, 16 e 30. Os números significam que a cerveja maturou em barrís que foram utilizados para maturar os uísques Highland Park por 12, 16 e 30 anos respectivamente. A cerveja original é a mesma para as três versões: a Harviestoun Old Engine Oil, uma Old Ale escocesa muito boa e já degustada aqui no blog. Leia mais sobre a história da cervejaria Harviestoun e a cerveja Old Engine Oil clicando aqui.


Ola Dubh 40: a garrafa também é numerada e vem acondicionada em uma caixa.

Em 2009 foram lançadas mais duas versões, as Ola Dubh Special Reserve 18 e 40. Estas chegaram em 2009 no Brasil e foram degustadas por mim. Divido aqui com vocês a minha experiência:



Ola Dubh Special Reserve 18 - Old Ale, 8%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Preta, opaca.
Espuma: Boa formação, média duração, cor bege escura (café com leite), bolhas bem pequenas.
Aroma: Malte, adocicado, torrefação, chocolate, leve baunilha, madeira, frutado (ameixas), leve café.
Paladar: Malte, doce, chocolate, baunilha, uísque, madeira, frutado (ameixas), acidez, café, álcool, amargor, sensação final de intensa torrefação, seca, bom corpo, textura aveludada, pouca carbonatação.

Boa cerveja. Muito complexa, com uma sensação torrada intensa. Muito chocolate, café e alguma acidez no sabor (provavelmente resultado da torrefação do malte). O álcool aparece muito no sabor, lembrando muito um destilado e esquetando o corpo. Não senti tanto o uísque no aroma, mas no sabor, ao esquentar o líquido, a sensação aparece ao final de cada gole de forma muito clara, se prolongando no retrogosto.






Ola Dubh Special Reserve 40 - Old Ale, 8%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Preta, opaca.
Espuma: Média formação, média /baixa duração, cor marrom, bolhas bem pequenas.
Aroma: Uísque, defumado, chocolate, torrado café, álcool, leve baunilha, madeira.
Paladar: Uísque, álcool, defumado, chocolate amargo, torrado, leve café, madeira, baunilha (?), amargor final intenso e duradouro, sensação final alcoólica e de uísque, bom corpo, textura densa, seca.

Boa cerveja. Extrema. As sensações são muito próximas da que encontramos na Ola Dubh 18. O que diferencia as duas é a intensidade de algumas, que são mais exacerbadas na Ola Dubh 40. O aroma e o sabor fortíssimo de uísque, de defumado e de álcool são as que mais se destacam. Apesar do teor alcoólico declarado ser de 8% e igual nas duas versões, nesta aqui tive a impressão de que tinha muito mais álcool. Talvez o sabor intenso de uísque tenha contribuído para que parecesse ter mais álcool. Ela realmente é muito boa, mas de tão extrema tem o drinkability prejudicado, podendo assustar algumas pessoas menos acostumadas com cervejas tão intensas.



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