21 fevereiro 2011

As 50 melhores cervejas de 2010 da revista Prazeres da Mesa



A revista Prazeres da Mesa é umas das publicações brasileiras mais respeitadas na área de gastronomia. Felizmente para nós adoradores de boas cervejas, a revista também reconhece a importância da nossa amada bebida no universo gastronômico. Existe uma coluna fixa na revista, a Mundo de Espuma, comandada pelos especialistas Eduardo Passarelli e André Clemente, sempre abordando assuntos pertinentes ao universo das cervejas especiais. 

Todo ano na publicação de fevereiro, também aparece a lista das 50 melhores cervejas disponíveis no mercado brasileiro. Pelo segundo ano consecutivo eu participo com muito prazer do corpo de jurados convidados para contribuir cada um com a sua própria lista das 50 melhores. Os jurados que participaram da lista este ano foram Ailin Aleixo (Blog Gastrolândia), Jardel Sebba (revista Playboy), Ricardo Amorim (blog CervejaSó), Roberto Fonseca (O Estado de S. Paulo), Miguel Icassatti (Veja São Paulo), Marcelo Cury (médico e sommellier de cervejas), Maurício Beltramelli (site Brejas), Sady Homrich (baterista da banda Nenhum de Nós e apreciador de cerveja), Marcelo Moss (fundador da cervejaria Baden Baden), André Clemente, César Adames, Edu Passarelli e Ricardo Castilho, da equipe da revista Prazeres da Mesa.


Confesso que escolher 50 cervejas entre todas disponíveis no mercado brasileiro não é uma tarefa fácil. Se analisar a lista 50 vezes você inevitavelmente vai mudar algo nela 50 vezes. Nosso mercado, apesar de ser ainda pequeno para o potencial de um país de proporção continental, já possui uma boa quantidade de cervejas de alta qualidade, tanto as importadas como as produções nacionais. Tentei fazer minha lista conter as melhores cervejas que provei no ano, abordando diferentes estilos, mas tentando encaixar em algum ponto da lista algumas cervejas que merecem ser lembradas, principalmente por terem um alto custo benefício e/ou um grande potencial de aumentar o time dos amantes de boas cervejas.

A cerveja que ficou com o primeiro lugar da lista este ano foi a Brooklyn Lager. Uma cerveja realmente deliciosa (que estava presente também na minha lista individual) e que chegou ao país pela primeira já ganhando notoriedade com este prêmio. Na lista estão presentes muitas cervejas brasileiras. As que mais apareceram na lista foram Bamberg (6 cervejas), Colorado (2 cervejas), Falke Bier (2 cervejas) e Eisenbahn (2 cervejas). Inclusive a própria Bamberg foi escolhida a cervejaria brasileira do ano pelos jurados. 

A revista foi lançada semana passada em São Paulo e já deve chegar a todos os pontos de venda do país esta semana. Recomendo a todos a leitura. 

14 fevereiro 2011

Goose Island Bourbon County Brand Stout 2008


A cervejaria Goose Island começou suas atividades em 1988 na cidade de Chicago como um brewpub. Na época a oferta de cervejas era bem limitada no mercado americano, onde praticamente só era possível encontrar as conhecidas cervejas de massa. John Hall havia provado várias cervejas diferentes e produzidas localmente em cada ponto que ele visitara pela Europa. Ele sentia falta deste tipo de produto no meio oeste americano e acreditava que poderia começar a trabalhar com isso. A idéia de um brewpub surgiu como uma forma de proporcionar ao consumidor a possibilidade de provar uma grande variedade de cervejas diferentes além de acompanhar o processo de fabricação. O idéia deu muito certo e em 1995 John e seu filho Greg, que já era o mestre cervejeiro da Goose Island, tiveram que abrir uma nova planta com a cervejaria e a primeira área de envasamento separados do brewpub para conseguir dar conta da demanda pelas suas cervejas. Em 1999, o segundo brewpub foi aberto também em Chicago.


Greg Hall, filho do fundador e presidente da Goose Island, John Hall, trabalha na cervejaria desde o início, onde ele começou como assistente cervejeiro. Ele se dedicou por alguns anos aos estudos e experiências em viagens para conhecer as técnicas cervejeiras do velho mundo e em outras cervejarias americanas. Em 1995 ele começou a trabalhar como o mestre cervejeiro na Goose Island.

A Goose Island hoje é uma das maiores micro cevejarias americanas e produz uma ótima seleção de cervejas. Em 1992, para comemorar a miléssima batelada (como chamamos uma produção de cerveja, tentativa de tradução do termo batch em inglês) do primeiro pub, o Clybourn, eles resolveram fazer uma cerveja especial. O resultado dessa idéia é a cerveja título deste post, a Bourbon County Brand Stout. Ela é uma Imperial Stout maturada por aproximadamente 100 dias em barris de carvalho já usados na fabricação do bourbon Jim Bean, o uisque americano feito a partir de milho. Como resultado desse processo, a cerveja final apresenta aromas e sabores vindos tanto da cerveja original como também do barril e de bourbon. No vídeo abaixo vocês podem ver o próprio Greg Hall falando sobre a cerveja.


Hoje a Bourbon County Stout continua a ser produzida e já teve até mesmo outras versões com adição de café (ainda produzida) e baunilha (não mais produzida) durante a maturação e uma versão onde a ceveja maturou durante dois anos no barril (não mais produzida). Todas as garrafas são safradas e são até que relativamente fáceis de encontrar em lojas nos EUA a preços razoáveis, principalmente se consideramos a qualidade dela. Infelizmente nenhuma importadora traz esta cerveja para o Brasil. O rótulo da cerveja foi modificado a partir de 2009. Esta que tive a oportunidade de provar era de 2008, ainda com o rótulo antigo que contém uma bela descrição da cerveja. Se puder resumir a descrição toda em uma só frase eu escolheria esta: "somente um gole contém mais sabor que uma caixa da sua cerveja regular!"


Goose Island Bourbon Brand Stout 2008- Imperial Stout (maturada em barril), Ale, 13% ABV, garrafa 355ml, US$ 5,85.

Cor: Preta, opaca.
Espuma: Baixíssima formação, se desfaz completamente em alguns segundos.
Aroma: Malte, doce, bourbon (uisque), chocolate, madeira, baunilha, álcool.
Paladar: Malte, doce, bourbon (uisque), chocolate, baunilha, defumado, torrefação, álcool evidente, amargor de média/baixa intensidade, final doce e alcoólico, baixíssima carbonatação, textura sedosa e macia, densa, bom corpo.

Ótima cerveja. Muito complexa e intensa. O aroma é delicioso, complexo e equilibrado. Muito aroma de uísque, neste caso o bourbon, madeira, baunilha e chocolate. No paladar as sensações se repetem, mas arrematadas por uma boa dose de álcool, que aparecia mais tímido no aroma. O corpo é denso, deixando os lábios levemente gudentos devido ao açúcar residual, e a textura é bem sedosa, com a provável ajuda da baixa carbonatação. Esta é uma das melhores cerveja que já bebi. Uma porrada de sabor. Neste tipo de cerveja com maturação em barris, os americanos estão se mostrando insuperáveis pelas experiências que tive até hoje. Ainda bem que, já sabedor da sua qualidade, tratei de trazer duas garrafas. A outra continua a repousar em minha adega.


Decidi aproveitar meu último pedacinho de queijo blue Stilton que também comprei em Nova Iorque para fazer uma harmonização com a Bourbon County Brand Stout. O queijo Stilton é outra maravilha rara aqui no Brasil e que faz falta. Este é um queijo azul, assim como o Gorgonzola e o Roquefort, de paladar intenso, salgado e picante. A intensidade do queijo combinou muito bem com a ceveja. Segundo um dos maiores especilaistas em harmonização de queijo com cervejas, Garret Oliver (mestre cervejeiro da Brooklyn brewery), em seu livro The Brewmaster`s Table, a melhor harmonização do mundo da cerveja com queijos se dá entre uma boa Barley Wine envelhecida com um queijo Stilton. Agora eu preciso conseguir mais um pouco de Stilton para comprovar o fato!

08 fevereiro 2011

De Ranke Saison de Dottignies


A história da cervejaria De Ranke e suas principais cervejas já foi assunto recente no blog. Neste post vou falar de mais uma cerveja dessa cervejaria belga, a Saison de Dottignies. Ela é feita com o que os americanos chamam de "wet hops", ou seja, com lúpulo recém colhido e em seu melhor estado. A cerveja foi fabricada nos primeiros dias do mês de setembro de 2009 e o lúpulo foi colhido somente algumas horas antes de ser utilizado. Quem já provou algumas das cervejas da De Ranke já deve saber como elas possuem um toque bem lupulado, com um amargor pouco visto na maioria das cervejas belgas, mas ainda de forma equilibrada, principalmente se comparado às bombas de lúpulo comuns entre as cervejas americanas. Segundo o site da importadora brasileira que trabalha com os rótulos da De Ranke, esta cerveja foi lançada no mercado pela primeira e última vez em 2010 em comemoração aos 15 anos da cervejaria. Felizmente ela chegou no Brasil (não pelo preço que eu gostaria), mas infelizmente será uma pena não ter mais acesso a ela. Não existe nenhuma informação sobre ela no site da De Ranke e por isso não consegui confirmar o fato.

Outro fato interessante sobre a Saison de Dottignies é que esta é a primeira representante deste estilo no Brasil. A Saison (estação em francês), também conhecida como Farmhouse Ale, é uma cerveja que tradicionalmente era fabricada durante inverno para ser consumida pelos trabalhadores durante a colheita do verão. Esta cerveja surgiu na Valônia, a metade sul da Bélgica onde se fala francês. Como na época a refrigeração não havia sido inventada, eles precisavam fabricar cervejas durante os meses de frio para evitar a contaminação da bebida no intenso calor do verão, que favorece o crescimento de microorganismos indesejados na produção. Hoje elas podem ser fabricadas o ano inteiro sem problemas.


Este é um tipo de cerveja que tem um apelo muito forte para os meses mais quentes do ano pelo seu caráter refrescante. Geralmente são pale ales belgas com um toque frutado e condimentado bem presentes, uma leve acidez, alta carbonatação, um corpo leve, secas e com teor alcoólico de moderado a baixo. Não tive oportunidade de provar muitas diferentes até hoje, mas das que provei, pude perceber que podem se assemelhar muito a outros estilos belgas tradicionais, como o Strong Golden Ale e Tripel, e até mesmo com o novíssimo estilo Belgian IPA. A Saison daria muito certo no Brasil primeiramente porque é uma delícia, mas também porque combina muito com o nosso clima. Os americanos estão adorando e dando uma nova vida a este estilo, sendo pela importação das poucas marcas que ainda fabricam o estilo na Bélgica (Saison Dupont e Fantôme são as principais), como também fazendo as suas próprias. Provei duas Saisons americanas. Uma delas já foi publicada no blog, a Brooklyn Sorachi Ace e a outra deve ser assunto de um novo post, a Ommegang Hennepin.


De Ranke Saison de Dottignies - Saison, Ale, 5.5% ABV, garrafa 750ml.

Cor: Dourada intensa/ âmbar clara, levíssima turbidez.
Espuma: Alta formação, boa duração, cor branca, boa consistência, deixa muitas marcas no copo.
Aroma: Malte, pão, mel, frutado intenso (limão, damascos), citrico, lúpulo (herbáceo, condimentado, picante), semetes de coentro (?), condimentado.
Paladar: Malte, mel, lúpulo (herbáceo, condimentado), frutado (limão), cítrico, bom amargor final, de média/alta intensidade e duração, alta carbonatação, refrescante, corpo médio/baixo, bem seca.

Deliciosa. Refrescante e complexa ao mesmo tempo. Esta é a primeira Saison que provei e esperava um toque de leve acidez nela. Não sei se a intensa lupulagem comum nas cervejas da De Ranke, pode ter ajudado a mascarar alguma acidez que poderia estar presente na cerveja. Mesmo assim ela agradou muito e me fez ter uma grande curiosidade para provar outras cervejas do estilo.


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