Depois que alguns brasileiros tiveram oportunidade de provar algumas cervejas produzidas por microcervejarias americanas e divulgaram suas experiências por aqui, criou-se uma grande expectativa pela chegada dessas cervejas no mercado brasileiro. A importadora Tarantino foi a primeira a anunciar a importação de cervejas americanas, entre elas Anderson Valley, Flying Dog e Rogue.
As primeiras a aparecerem por aqui foram as cervejas da Anderson Valley, ainda nos primeiros dias desse ano. Esta cervejaria californiana fica na cidade de Boonville e teve o início das atividades de forma bem pequena como um brewpub. Kenneth Allen é homem por trás dessa cervejaria. Ele trabalhou durante mais de vinte anos como quiroprático, sendo até mesmo o presidente da Associação doa Quiropráticos da Califórnia. Em 1980 ele se mudou para Boonville, no Anderson Valley (Anderson é o descobridor do vale, em 1851 durante uma caçada). Allen comprou um lote de terras no centro da cidade para montar sua clínica. Depois ele descobriu que se tornou dono de uma das melhores fontes de água natural de Anderson Valley. Ao pensar no que fazer com esta fonte de água, ele decidiu fabricar cervejas.
Duas curiosidades das cervejas da Anderson Valley são seu mascote e os nomes das cervejas no idioma local. A cidade de Boonvile sempre foi muito isolada geograficamente e por esse motivo até mesmo uma língua foi criada, o Boontling, com cerca de 1300 palavras e frases. O mascote da cervejaria é um esquisitíssimo urso com chifres, o Barkley. Mas segundo a cervejaria este não é um bear (urso em inglês) mas um Beer (cerveja em inglês), mistura das palavras bear e deer, que significam urso e cervo respectivamente. Um trocadilho bem criativo!
Nesta época em que responsabilidade ambiental virou moda, eles utilizam de certas saídas para diminuir o impacto ambiental na produção das cervejas, como o uso de painéis solares para captar energia e a reciclagem de tudo o que for possível (papel, vidro, aço, plástico, papelão, jornal). O malte e o lúpulo usados nas receitas são posteriormente doados para os fazendeiros alimentarem os animais e o fermento serve para fertilização das plantações. Além disso, a cervejaria ainda possui um carro elétrico para, junto com veículos puxados por cavalos, realizar as entregas locais. No site, também é possível comprar equipamentos usados para reutilização em novas cervejarias.
As cervejas que chegaram no Brasil foram: Poleeko Gold Pale Ale, Boont Amber Ale, High Rollers Wheat Beer, Boont ESB, Hop Ottin India Pale Ale e Barney Flats Oatmeal Stout.
Polekoo Gold Pale Ale - American Pale Ale, 5.46%ABV, garrafa 355ml.
Cor: Âmbar clara, levíssima turbidez.
Espuma: Boa formação e duração, cor marfim clara, boa consistência, deixa marcas no sopo.
Aroma: Lúpulo, cítrico, frutado (grapefruit, laranja), floral, malte, mel, leve adocicado.
Paladar: Malte, leve adocicado, mel, lúpulo, cítrico, frutado (grapefruit, laranja), bom amargor final de boa intensidade e duração, corpo médio/leve, levemente seca.
Ótima cerveja. Leve e fácil de beber. Tem malte perceptível no conjunto, com nuances adocicadas e de mel. Existe também uma ótima presença de lúpulo tanto no aroma quanto no sabor, com clara influência das variedades americanas (Cascade, principalmente), que puxam intensas notas cítricas, florais e de pinheiros
Poleeko Gold era o nome em Boontling para a cidade de Philo, localizada a cerca de 6 milhas da cervejaria
Boont Amber Ale - American Amber/Red Ale, 5.8%ABV, garrafa 355ml.
Cor: Cobre escura, leve trubidez.
Espuma: Média formação e duração de espuma, de cor bege.
Aroma: Malte, adocicado, caramelo, toffee, frutos secos (castanhas, nozes), leve lúpulo.
Paladar: Malte, doce, caramelo, toffee, leve torrefação, frutos secos (castanhas, nozes), leve álcool, leve picante, amargor final de média intensidade e boa duração, corpo médio, seca.
Boa cerveja. Há mais malte que lúpulo no conjunto, isto se consideramos que ela é americana. Mas é possível sentir um bom amargor do lúpulo, além de uma sensação picante, terrosa, típica de algumas ales inglesas e que deriva das variedades de lúpulos ingleses utilizados nelas. Acredito que usem variedades inglesas nesta cerveja também. Na boca podemos sentir muito caramelo, toffee, uma leve torrefação e frutos secos.
Boont em Bootling significa o centro focal do Anderson Valley.
Hop Ottin India Pale Ale - India Pale Ale, 7%ABV, garrafa 355ml.
Cor: Cobre, levíssima turbidez.
Espuma: Boa formação e alta duração de espuma, de cor bege/marfim, ótima consistência, forma picos e deixa muitas marcas no copo.
Aroma: Malte, caramelo, toffee, leve torrefação, leve diacetil, lúpulo, frutado (grapefruit, laranja), cítrico, picante (terroso), pinheiros.
Paladar: Malte, doce, caramelo, toffee, leve diacetil, lúpulo, frutado (grapefruit, laranja), cítrico, picante (terroso), pinheiros, álcool, corpo médio, textura cremosa, amargor final de boa intensidade e duração.
Ótima cerveja. Antes de provar eu esperava mais uma bomba de lúpulo, com características marcantes de lúpulos americanos. Ledo engano! Esta cerveja lembra muito as IPA inglesas, pois além de ter uma lupulagem menos assertiva e mais controlada, o que dá um grande equilíbrio com as notas maltadas e carameladas, a variedade de lúpulo mais forte nela é picante e terrosa, típica das inglesas. Podemos sentir uma certa complexidade vinda dos lúpulos, mas não é tão cítrica e frutada como outras IPA americanas. Segundo dados colhidos na internet, o lúpulo utilizado aqui é o Columbus. Pude sentir um pouco de diacetil na cerveja, mas não incomodou devido à boa complexidade da cerveja, além de que contribuiu para deixar a cerveja mais cremosa.
Hop Ottin em Boontling significa lúpulos trabalhadores.
Boont ESB - Extra Special Bitter, Ale, 6.8%ABV, garrafa 355ml.
Cor: Ambar escura/ cobre, leve turbidez.
Espuma: Boa formação e duração, cor marfim, bem consistente, deixa muitas marcas no copo.
Aroma: Malte, caramelo, toffee, adocicado, lúpulo, picante (terroso), leve cítrico, leve frutado.
Paladar: Malte, doce, caramelo, toffee, lúpulo, picante (terroso), leve frutado, leve cítrico, leve álcool, bom amargor final de grande intensidade e boa duração, corpo médio, boa textura, cremosa.
Boa cerveja. Possui um amargor bem pronunciado, o que é até esperado para uma cerveja americana, mas aqui a inspiração é muito mais para uma típica Extra Special Bitter inglesa. Possui um grande equilíbrio entre malte e lúpulo, com notas maltadas de caramelo e toffee e o lúpulo predominantemente de características picantes e terrosas, além de um pouquinho cítricas em segundo plano. O álcool é perceptível mas está bem integrado ao conjunto.
Barney Flats Oatmeal Stout - Oatmeal Stout, Ale, % ABV, garrafa 355ml.
Cor: Preta opaca.
Espuma: Boa formação e média duração, forma um belo efeito cascata, cor bege escura.
Aroma: Malte, adocicado, torrefação, café, chocolate, leve lúpulo.
Paladar: Malte, doce, torrefação, café, chocolate, acidez, doce, amargor baixo, final adocicado e intensamente torrado, corpo médio/alto, textura densa, cremosa, levemente seca.
Boa cerveja. Cremosa, densa e rica em sabor, mas não complexa. Na verdade a drinkability é bem alta. O malte aqui é o que mais aparece, com notas de torrefação, café e principalmente chocolate. O lúpulo aparece de forma muito tímida. Não sei o quanto o uso de aveia realmente fez diferença na cremosidade da cerveja, mas ela é bem cremosa!
Barney Flats em Boontling é uma floresta bem preservada que fica a oeste da cervejaria.
Um comentário:
Prezado Rodrigo,
Quanta cerveja fantástica, hein? Já estão no Brasil... O bolso sofre...
Abraço,
Jean Claudi.
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