06 abril 2009

Orval


Esta cerveja especial é fabricada dentro de um mosteiro Trapista, mais precisamente na abadia de Orval. A Ordem Trapista (Ordem dos Cistercienses Reformados de Estrita Observância) é uma congregação religiosa católica que segue a regra beneditina, cujos preceitos são de obediência, silêncio, pobreza e humildade, dividindo o tempo de vida monástica entre o trabalho, o estudo e a meditação. Uma das atividades dos monges Trapistas é a fabricação de produtos destinados à venda para o sustento das abadias. O produto mais conhecido destas abadias é a cerveja. Hoje existem 6 abadias produzindo as seguintes cervejas na Bélgica: Achel (St. Benedictus Abdij Achel), Chimay (Abbaye de Scourmont), Orval (Abbey d'Orval), Rochefort (Abbey St. Remy Rochefort), Westmalle (Abidj Westmalle) e Westvleteren (Abdij St. Sixtus), além das cervejas La Trappe da Abdij Koningshoeven, a única localizada na Holanda. As cervejas trapistas são conhecidas pela sua qualidade e são refermentadas na garrafa, evoluindo com o tempo. Hoje, na maioria dos rankings cervejeiros uma cerveja trapista é considerada a melhor do mundo, a Westvleteren 12 produzida em St. Sixtus.

Abadia de Orval. Foto Danny Van Tricht.

A história da Abadia de Orval inicia por volta do ano de 1070, quando monges do sul da Itália chegaram na região e iniciaram a construção de uma capela e do mosteiro, o que durou 40 anos. Durante um longo período a Abadia foi destruída inúmeras vezes sendo a última delas em 1793 durante a revolução francesa, quando as forças francesas queimaram a abadia em retaliação à hospitalidade dos monges com as tropas austríacas, dissolvendo a comunidade. Em 1887, a família Harenne comprou as terras e as ruínas da abadia e doou as terras à Ordem dos Cistercienses em 1926 para que a vida monástica voltasse ao seu local de origem em Orval. Albert Van Der Cruysen liderou a reconstrução da abadia perto das ruínas da antiga estrutura. Em 1931 foi iniciada a atividade de fabricação de cerveja na abadia com o objetivo de arrecadar fundos para a reconstrução, sendo que a primeira leva saiu no ano de 1932. Henri Vaes foi o arquiteto na reconstrução, que terminou no ano de 1947, e também foi responsável pelo desenho da taça da cerveja Orval.

Fonte presente nas ruínas da antiga abadia. Foto Danny Van Tricht.

Existe uma lenda sobre a fundação da abadia de Orval. Nesta lenda, a viúva Mathilda de Tuscany acidentalmente deixou sua aliança cair em uma fonte. Ela rezou e uma truta apareceu na superfície da fonte com sua aliança na boca. Mathilda exclamou que aquele era realmente um Val d'Or, vale de ouro em francês, daí o nome para a abadia. Em gratidão Mathilda ajudou com recursos na construção do mosteiro. A fonte existe até hoje e a truta com o anel na boca é o elemento principal do rótulo da cerveja.


Orval - Belgian Pale Ale, Ale, 6,2%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Cobre escura, turva, presença de sedimentos.
Espuma: Alta formação e média duração, de cor bege, boa consistência, deixando marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, lúpulo, caramelo, toffee, melaço de cana, fermento, fenólico (medicinal), condimentado, cravo.
Paladar: Malte, doce, lúpulo, caramelo, toffee, fermento, acidez (azedo), cítrico, bom amargor final com média duração, seca, bom corpo.

Excelente cerveja. Nunca havia provado nada igual. O aroma é predominantemente doce, com boa presença de lúpulo e um fenólico bem diferentem lembrando até remédio. Algumas pessoas descrevem este fenólico como se lembrasse o aroma de sela de cavalo (horse blanket) . Ele é resultado da adição de microorganismos selvagens na fermentação da cerveja, o bretanomyces, mesmo presente em cervejas lambics. O sabor azedo da Orval também é devido à presença de bretanomyces, lembrando algumas lambics mais uma vez. O azedo costuma dividir opiniões. Alguns gostam e outros não. Eu gosto muito e por isso considero a Orval uma cerveja bem complexa e agradável.
Sala de brassagem na cervejaria em Orval. Foto Danny Van Tricht.

A Orval ainda passa pelo processo de dry-hopping, onde o lúpulo é adicionado fresco durante a fase de maturação da cerveja melhorando o aroma e o sabor de lúpulo. Especialistas dizem que uma Orval somente deve ser aberta depois de pelo menos 6 meses de fabricação. Antes disso, o lúpulo ainda está muito forte nela, escondendo os aromas e sabores diversos presentes nesta cerveja. Após seis meses, o lúpulo desaparece um pouco e o bretanomyces, ainda vivo na garrafa, teve opotunidade de trabalhar melhor uma segunda fermentação deixando a cerveja mais complexa.


Lúpulo em saco de nylon adicionado durante dry-hopping da Orval. Foto Danny Van Tricht.

3 comentários:

Anônimo disse...

O processo de dry hopping não adiciona amaargor à cerveja, apenas aroma. O amargor é obtido com a fervura do lúpulo!

Rodrigo Campos disse...

Anônimo,

Já modifiquei o texto. Realmente o dry hopping melhora o padrão de aroma e sabor de lúpulo sem adicionar amargor, que só aumenta com a fervura, responsável por extrair os óleos do lúpulo.

Obrigado pela ajuda.

Anônimo disse...

Amigo, sua afirmação mesmo a época de feita não compactua com os estudos modernos, pois Dry Hopping adiciona sim amargor a cerveja, basta fazer um teste simples ponha um Pelletier de lúpulo na boca e sentirá o gosto amargo e não tem isomerização de alfa ácidos nesta ação e o amargor está presente, portanto você está equivocado....

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