Depois desse longo hiato de mais de 15 dias sem postar (culpa de obrigações das quais eu não poderia fugir) recomeço os trabalhos desejando um ótimo ano para todos os leitores do blog e falando de duas das cervejas que mais me impressionaram no decorrer do ano de 2009: as escocessas Ola Dubh.
Ola Dubh (pronuncia-se ôla dú) significa óleo negro em gaélico, língua antiga mas ainda falada na Irlanda. O nascimento das cervejas Ola Dubh se deu no ano de 2008 através de uma idéia do mestre cervejeiro Stuart Cail que queria fabricar uma cerveja experimental maturada em barril de uísque e destinada para o mercado americano. Através de uma colaboração da destilaria Highland Park, a idéia foi colocada em prática com o lançamento das cervejas Ola Dubh Special Reserve 12, 16 e 30. Os números significam que a cerveja maturou em barrís que foram utilizados para maturar os uísques Highland Park por 12, 16 e 30 anos respectivamente. A cerveja original é a mesma para as três versões: a Harviestoun Old Engine Oil, uma Old Ale escocesa muito boa e já degustada aqui no blog. Leia mais sobre a história da cervejaria Harviestoun e a cerveja Old Engine Oil clicando aqui.
Em 2009 foram lançadas mais duas versões, as Ola Dubh Special Reserve 18 e 40. Estas chegaram em 2009 no Brasil e foram degustadas por mim. Divido aqui com vocês a minha experiência:
Ola Dubh Special Reserve 18 - Old Ale, 8%ABV, garrafa 330ml.
Cor: Preta, opaca.
Espuma: Boa formação, média duração, cor bege escura (café com leite), bolhas bem pequenas.
Aroma: Malte, adocicado, torrefação, chocolate, leve baunilha, madeira, frutado (ameixas), leve café.
Paladar: Malte, doce, chocolate, baunilha, uísque, madeira, frutado (ameixas), acidez, café, álcool, amargor, sensação final de intensa torrefação, seca, bom corpo, textura aveludada, pouca carbonatação.
Boa cerveja. Muito complexa, com uma sensação torrada intensa. Muito chocolate, café e alguma acidez no sabor (provavelmente resultado da torrefação do malte). O álcool aparece muito no sabor, lembrando muito um destilado e esquetando o corpo. Não senti tanto o uísque no aroma, mas no sabor, ao esquentar o líquido, a sensação aparece ao final de cada gole de forma muito clara, se prolongando no retrogosto.
Ola Dubh Special Reserve 40 - Old Ale, 8%ABV, garrafa 330ml.
Cor: Preta, opaca.
Espuma: Média formação, média /baixa duração, cor marrom, bolhas bem pequenas.
Aroma: Uísque, defumado, chocolate, torrado café, álcool, leve baunilha, madeira.
Paladar: Uísque, álcool, defumado, chocolate amargo, torrado, leve café, madeira, baunilha (?), amargor final intenso e duradouro, sensação final alcoólica e de uísque, bom corpo, textura densa, seca.
Boa cerveja. Extrema. As sensações são muito próximas da que encontramos na Ola Dubh 18. O que diferencia as duas é a intensidade de algumas, que são mais exacerbadas na Ola Dubh 40. O aroma e o sabor fortíssimo de uísque, de defumado e de álcool são as que mais se destacam. Apesar do teor alcoólico declarado ser de 8% e igual nas duas versões, nesta aqui tive a impressão de que tinha muito mais álcool. Talvez o sabor intenso de uísque tenha contribuído para que parecesse ter mais álcool. Ela realmente é muito boa, mas de tão extrema tem o drinkability prejudicado, podendo assustar algumas pessoas menos acostumadas com cervejas tão intensas.
4 comentários:
Rodrigão,
este blog tá muito interessante.
Outra vez ia fazer um comentário, mas fiquei tanto tempo lendo que esqueci.Cara, preciso provar umas dessas, principalmente essa Ola Dubh.
valeu.
Samuel Cavalcante
Oi Samuel,
Quem bom ver um comentário seu por aqui. Quem sabe você não seja mais um participante das degustações que faço aqui em Fortaleza. Realmente tem muita cerveja diferente (e boa) que não chega facilmente por aqui. Estou sempre à caça delas! Se quiser algumas dicas (inclusive como achar uma Ola Dubh) pode mandar um e-mail ou até mesmo me telefonar. Será um prazer te ajudar e provar algumas com você!
Abraço.
Prezado Rodrigo,
Muito interessante esta matução em barris de uísque... parabéns pela postagem.
Um abraço,
Jean Claudi.
Jean,
Eu fiquei impressionado como a maturação em barril pode dar uma nova complexidade à bebida. Já tinha provado a Rodenbach Grand Cru (belga já postada no blog) que matura em barris (foeders) e adquire acidez lática deles. Com as Ola Dubh o que ocorre é a adição de sensações advindas do uísque (defumado, o próprio sabor de uísque) e do barril (madeira, baunilha). Hoje existe uma onda mundial de maturar cerveja em barril, principalmente dos EUA e na Inglaterra. Eles usam barris de uísque, de bourbon, de vinho do Porto, de xerez e de calvados (procure ler sobre a Barley Wine J.W. Lees Harvest Ale). Enfim, estão fazendo de tudo! Fico muito curioso com os resultados.
Um abraço.
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