12 agosto 2009

Chimay

A Chimay é mais uma cerveja trapista que tenho o prazer de descrever aqui no blog. Ela é fabricada desde 1862 por monges da ordem trapista da abadia de Scourmont, na cidade belga de Chimay. Os monges da abadia de Scourmont pertecem à Ordem dos Cistercienses de Estrita Observância, mais conhecidos como trapistas. O nome Cisterciense foi baseado no monastério de Citeaux, fundado na Borgonha no século 12. Os monastérios Cistercienses são divididos em duas grandes ordens, sendo uma delas ligada à Abadia de La Trappe na Normandia, a origem do nome trapista. São sete abadias da ordem trapista que produzem cervejas e somente elas podem usar a denominação em seus produtos. São seis na Bélgica (Achel, Chimay, Orval, Rochefort, Westmalle e Westvleteren) e uma na Holanda (La Trappe).

Abadia de Scourmont
Foto: Danny Van Tricht.

A história da Abadia de Scourmont se inicia em 1844 com o pedido do padre Jean Batiste Jourdain para fundar um claustro em Chimay. Em 1850, com a doação das terras pelo príncipe de Chimay, Joseph II, além de inúmeras tentativas, ele conseguiu que 17 monges de St Sixtus fossem deslocados para a fundação do claustro. O início foi duro, pois as terras não eram produtivas e as primeiras plantações não deram bons resultados.


A primeira cerveja foi produzida em 1862 e era uma Bock, chamada de biére forte. Esta cerveja era envasada em garrafas de 750ml e vendida para o público em geral. Esta foi a precursora da atual Chimay Red (Rouge). Em 1871 o claustro tornou-se abadia. A cervejaria foi destruída pelos alemães durante a I Guerra Mundial (1914), foi reconstruída em 1919 e novamente destruída durante a II Guerra Mundial (1942). Em 1948 a cervejaria foi reconstruída e Pére Theodore descobriu a cepa de fermento que seria usada para fabricar as novas cervejas em Chimay: a Dorée, para consumo próprio dentro da abadia, uma cerveja para a Páscoa, que depois passou a ser chamada de Chimay Red (Rouge), e uma cerveja de Natal, que depois passou a ser chamada de Chimay Blue (Bleue). A Chimay White (Tripel) foi produzida pela primeira vez em 1966.

Hoje, a cervejaria em Chimay talvez seja a mais produtiva entre as trapistas com uma produção anual de 123.000 hectolitros. A cervejaria foi toda modernizada mas ainda permanece dentro dos limites da abadia. A planta de engarrafamento fica em Baileux, fora da abadia de Scourmont, e tem a capacidade de envasar 40.000 garrafas de 330ml em uma hora. Além das garrafas tradicionais belgas de 330ml, as cervejas são também envasadas em garrafas de 750ml. Nesta embalagem as cerveja recebem outros nomes. A Chimay Red em 750ml vira Chimay Première, a Blue vira Chimay Grand Réserve e a White vira Chimay Cinq Cents. A Chimay Dorée é uma ale com 4,8% ABV e leva ingredientes similares aos da Chimay Red, sendo mais clara na cor e menos condimentada no sabor.


Chimay Red - Belgian Dubbel, Ale, 7%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Cobre escura/marrom, turva.
Espuma: Média formação e duração, cor bege, boa consistência, deixa marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, frutado (ameixa, passas), caramelo, toffee, fermento, leve fenólico, madeira.
Paladar: Malte, doce, frutado, caramelo, toffee, fermento, leve picante, madeira, leve amargor, corpo médio.

Ótima cerveja. Não é extrema em nada, muito pelo contrário. Extremamente equilibrada e redonda. Essa sim desce redondo! Malte predominante com aromas e sabores lembrando carameo e toffee com leve frutado. Fermento também presente com leve fenólico no aroma e picante no sabor. Amargor pouco presente.


Chimay Blue - Belgian Dark Strong Ale, Ale, 9%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Marrom, turva.
Espuma: Boa formação e média duração, cor bege.
Aroma: Malte, doce, fermento, torrado, caramelo, toffee, frutado (ameixa, passas), leve vonho do porto, fenólico, picante.
Paladar: Malte, doce, torrado, frutado (ameixa, passas), caramelo, toffee, vinho do porto, álcool, fenólico, picante, amargor final de intensidade moderada, ótimo corpo, textura aveludada.

Ótima cerveja. A complexidade é o que mais se destaca nesta cerveja e apesar da enorme gama de aromas e sabores todos estão em perfeita harmonia. O conjunto é delicisoso e agradabilíssimo. Definitivamente a temperatura de serviço faz toda a diferença na cerveja, revelando tudo o que ela tem para oferecer. Recomendo degustar sempre acima dos 12ºC. Esta é a minha Chimay preferida, mas sempre tendo a gostar mais daquelas com maior complexidade.


Chimay Tripel - Belgian Tripel, Ale, 8%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Âmbar, turva.
Espuma: Boa formação e duração, cor bege clara, boa consistência, deixando marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, frutado, cítrico, picante, fenólico, fermento.
Paladar: Malte, doce, frutado, cítrico, picante, fenólico, álcool, bom amargor final, seca, bom corpo..

Ótima cerveja. Equilibrada com ótima presença de maltes, leve frutado e fenólico com sabor bem picante, seco e um bom toque do inconfundível fermento belga.

8 comentários:

Jean disse...

Prezado Rodrigo,

Mais uma vez, ilustre colega, uma excelente postagem. Parabéns!!

Um abraço,

Jean Claudi.

HellBeer disse...

Eu acho essa história de cerveja trapista, de certa forma, uma grande papagaiada.

Olha a definição do brejas: "Assim, as cervejas, fabricadas em pequenas quantidades no interior dos mosteiros muitas vezes são difíceis de ser encontradas no mercado, já que os monges não a comercializam com o propósito do lucro, mas apenas para manter o funcionamento da própria abadia e alguns serviços de caridade."

Ou então: "Seus monges seguem o príncipio fundamental do ora et labora, vivendo em grande austeridade e silêncio. Fazem três votos: pobreza, castidade e obediência."

As cervejas trapistas que tomei até hoje (chimay red, blue e tripel, westmalle doble e triple, la trappe quadrupel, dubbel e blond) estão entre as melhores da minha vida, então, a qualidade delas eu não discuto, entretanto, essa história de monge eu não acredito mais, ainda mais com esses números (capacidade de envasar 40.000 garrafas de 330ml em uma hora).

Esses monges estão ficando milhonários!!!!

Rodrigo, parabéns pelo post, é sempre interessante saber um pouco da história das brejas q estamos bebendo!

Abs

Claudinei disse...

O colega HellBeer levantou uma questão interessante, a da produção em escala relativamente "larga" possivelmente gerar um grande faturamento e um consequente "enriquecimento" dos seus produtores, no caso os monges trapistas, que pelo que me consta, fazem voto de pobreza. Quanto desse faturamento seria destinado a causas sociais? E o restante, qual o destino?
 
Seja qual for a resposta para estas questões, o fato é que as cervejas trapistas são realmente especiais, ricas em aroma e sabor, representantes de uma tradição secular... ou milenar?
 
Vida longa às abadias produtoras de cerveja!

Rodrigo Campos disse...

Helbeer e Jean,

Não dá mesmo para questionar a qualidade das cervejas trapistas. Adoro cervejas trapistas e algumas delas estão entre as minhas preferidas.

Bem que seria bom que todas as trapistas tivessem uma produção em "pequena escala" como essa da Chimay. Assim poderíamos tomar Westvleteren aqui no Brasil sem ter que pagar 150 Reais por uma garrafa.

Agradeço os elogios e grande abraço.

Rodrigo Campos disse...

Claudinei,

Passei lotado por você, mas pelo menos podemos concordar quanto à qualidade das trapistas. Adiantei o post das Chimays pela sua indagação no post das Westmalle. Espero que tenha gostado.

Abraço.

Claudinei disse...

Rodrigo,
 
Claro que gostei, aliás os seus posts são sempre ricos em informação e ilustrações, como nenhum outro blog que conheço. Parabéns!
 
Sobre a temperatura que você recomenda para a Chimay Blue (acima dos 12°C), concordo plenamente contigo, cervejas de alta complexidade são muito melhores se servidas em temperaturas mais altas. Como eu não tenho como medir a temperatura nesse caso, adoto a seguinte "estratégia": ao tirar da geladeira, espero de 15 a 20 minutos antes de abrir a garrafa, assim calculo que a cerveja ficará bem próxima da temperatura ideal para degustação.
 
Estava pensando em adquirir uma adega portátil, com controle digital de temperatura, mas parece que só existe pra vinhos mesmo, com aqueles suportes pra manter as garrafas deitadas... você conhece alguma boa pra cerveja?
 
Abraço.

Rodrigo Campos disse...

Claudinei,

Agradeço novamente o elogio e o reconhecimento. Só gostando muito mesmo de cerveja e tendo motivação suficiente para conseguir publicar posts mais elaborados.

A temperatura é muito importante nas degustações. Tenho o costume de servir as cervejas ligeiramente mais geladas do que deviam e deixar que elas adquiram a temperatura correta durante a degustação. Faço assim porque aqui em Fortaleza é quente o ano inteiro e a cerveja esquenta bem mais rápido. Se sirvo na temperatuta correta ela esquenta demais me obrigando a tomar muito rápido, que não é meu objetivo.

Quanto à adega para cervejas, eu não conheço nenhuma. Talvez o mehor seja reservar um espaço na geladeira, o que pode ser difícil dependendo da quantidade, ou reservar um local sem luz e com a temperatura mais amena possível, como por exemplo na despensa.

Um abraço.

Erick T disse...

Sem duvida, toda trapista tem personalidade forte. Estou provando pela primeira vez a Chimay Red e depois quero experimentar a la trappe bockbeer. Excelente post, a história das trapistas são é tão boa quanto as cervejas.

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