23 maio 2009

Rodenbach Grand Cru


A história da cervejaria Rodenbach começou em 1821 quando os quatro irmãos Rodenbach (Pedro, Alexander, Ferdinand e Constantijn) investiram em uma pequena cervejaria em Roeselare na província do Flandres Ocidental na Bélgica. Após 15 anos, Pedro e sua esposa, Regina Wauters, compraram a cervejaria dos outros irmãos. Regina passou a comandar os negócios enquanto Pedro teve que servir como militar. O filho do casal, Edward, tomou a frente na cervejaria a partir de 1864. Durante este período houve um grande crescimento dos negócios. Em 1878 o filho de Edward, Eugene, passou a comandar os negócios. Ele viajou à Inglaterra para aprender o processo de maturação de cervejas Porter em barris de carvalho e depois misturar diferentes cervejas para se conseguir um resultado melhor. Este processo é o que diferenciou a Rodenbach das outras cervejarias, produzindo cervejas únicas e marcantes.

As cervejas na Rodenbach passam por um método de fabricação bem diferente. A cerveja passa por uma dupla fermentação em fermentadores de aço inoxidável onde são utilizadas leveduras de alta fermentação junto com bactérias láticas, os lactobacilos (os mesmos daquele iogurte azedinho). Estas bactérias não contribuem com o teor alcoólico da cerveja pois não produzem álcool e sim o ácido lático, que dá à cerveja um sabor ácido marcante.


A fase de maturação da cerveja ocorre em 294 enormes barris de carvalho, chamados de foeders. Cada um deles tem capacidade para até 180 hl de cerveja. Os barris são feitos sem parafusos ou pregos, sendo montados somente por encaixe. Existe uma equipe para realizar a manutenção destes barris, pois alguns deles chegam a ter mais de 150 anos de uso. A madeira é muito importante na maturação da cerveja, pois é nesta fase que se desenvolvem sabores frutados. Outra contribuição importante do carvalho é a incorporação de sabores e aromas característicos desta madeira, como por exemplo de baunilha. O processo de maturação pode durar até dois anos e cada barril desenvolve uma cerveja diferente das outras. É o conhecimento do mestre-cervejeiro para misturar a cerveja de diferentes barris que cria a magia da Rodenbach.

Barris de carvalho, ou foeders, utilizados para a maturação da Rodenbach.

As cervejas produzidas por lá são:

Rodenbach: A cerveja clássica que provavelmente introduziu um novo estilo, o Flanders Red Ale, que é conhecido como o estilo de cerveja que mais se parece com vinho. É resultado da mistura de 25% de uma cerveja maturada por pelo menos 2 anos com 75% de uma cerveja mais jovem, maturada por apenas alguns meses. Classificada pelo falecido Michael Jackson como uma das cervejas mais refrescantes do mundo!

Rodenbach Grand Cru: Uma versão mais ácida resultante da mistura de vários barris, sendo 1/3 de cerveja mais jovem e 2/3 de cerveja com pelo menos 2 anos de maturação, fazendo uma média de 18 meses de maturação. A maior proporção de cerveja maturada por mais tempo contribui para sua maior complexidade e seu sabor frutado.

Rodenbach Foederbier: Resultado da mistura de 3 a 5 barris com a média de maturação de 2 anos. Esta é uma cerveja ainda mais ácida e somente é oferecida "on-tap" em alguns cafés na Bélgica.
Rodenbach Foederbier.
Foto: Danny Van Tricht.

Vin de Céréale: Maturada por três anos em um dos foeders mais antigos, o Nº132. Classificada como uma barley wine e com 10% de teor alcoólico.
Vin de Céréale.
Foto: Filip Geerts (Belgiam Beer Board).

Tive a oportunidade de degustar a Rodenbach Grand Cru, uma cerveja que confesso já fazer parte da minha lista de desejos já há algum tempo, pois tratava-se de um clássico em um estilo bem particular e ainda não conhecido por mim.


Rodenbach Grand Cru - Flanders Red Ale, Ale, 6%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Marrom, reflexos vermelho alaranjados, turva.
Espuma: Boa formação e média/baixa duração, de cor bege escura, deixa leves marcas pelo copo.
Aroma: Ácido destacado, doce, vinagre, frutado, cerejas, maracujá, vinho, madeira, baunilha.
Paladar: Ácido destacado, vinagre, frutado, cerejas, maracujá, vinho, madeira, baunilha, final ácido, seco e adstringente intenso e de longa duração.

Ótima cerveja. Mais uma daquelas que podem provocar reações de amor e ódio, como algumas Lambics e a Orval. Para quem gosta de sabores ácidos em cervejas é um prato cheio! Lembrou demais a acidez extrema encontrada em produções da Cantillon. O aroma desta cerveja é um delícia. Ao primeiro contato lembra muito o aroma de vinho, excetuando-se pela acidez extrema que não é comum em vinhos, pelo menos não desta forma. Frutado delicioso lembrando frutas vermelhas (cerejas) e até mesmo maracujá, pela provável contribuição do aroma ácido. Amadeirado e baunilha advindos da maturação em carvalho. Muito seca e adstringente. Ela trava no final e pode ser consequência de taninos provenientes do carvalho. Com certeza uma cerveja extrema, adorei!

6 comentários:

Roberto disse...

Olá!
Gostaria de saber se é possível encontrar esta cerveja disponível no Brasil. Obrigado e parabéns pelo blog.Abraço.

Rodrigo Campos disse...

Olá Roberto,

Como disse no texto do post, esta era uma cerveja que fazia parte da minha lista de desejos e este desejo era prolongando por não ser possível comprá-la aqui no Brasil.

Infelizmente ela ainda não chegou, mas já tem importador que traz a cerveja Palm para o Brasil e a cervejaria Palm hoje é dona da Rodenbach. Eu mesmo já fiz a sugestão ao importador para trazer a Rodenbach e a Rodenbach Grand Cru também.

Uma sugestão: você poderia fazer o mesmo e entrar em contato com o importador (Nono Bier). Quem sabe assim ela chega mais fácil!

Obrigado pelo elogio. Um abraço.

Roberto disse...

Ótimo, Rodrigo. Fiz o contato, vamos torcer agora rs. Abraços, e valeu pela dica.

Rodrigo Campos disse...

Roberto,

Não sei se você poderá ver esta menssagem, mas cometi um erro ao dizer que quem importa a Palm para o Brasil é a Nono Bier. Na realidade quem importa é a BUW. Desculpe pelo erro, mas agora está consertado. Antes tarde do que nunca.

Não se preocupa por ter sugerido ao Nono Bier a importação da Rodenbach, é uma possibilidade a mais para ter ela por aqui um dia. Faça a mesma sugestão ao pessoal da BUW.

Um abraço.

Gil Lebre Abbade Franco disse...

Rodrigo,
Sempre acompanho seu blog, apenas como observador, sendo um excelente aprendizado cervejeiro, mas confesso nunca ter feito antes uma postagem.
Embora esta seja uma postagem bem antiga, apenas agora, felizmente, as cervejas da Rodenbach encontram-se disponíveis no Brasil, via BUW.
Me responda uma dívda: a Rodenbach e a Grand Cru são cervejas de guarda?
Abraços!
cerfeijaoamigo.blogspot.com

Rodrigo Campos disse...

Gil,

As cervejas do estilo Fladers Red Ale já se caracterizam por maturar durante cerca de 2 anos em barris de madeira. Quando você bebe ela ainda recém lançada no mercado ela tem pelo menos um pouco mais de 2 anos. Apesar de ter bom potencial de guarda, ou seja, ela não vai ficar ruim rápido, eu não acredito que o tempo poderá acrescentar muito a elas. Já que ela nova já é uma cerveja bem complexa, principalmente a Grand Cru.

Se você tiver curiosidade, e força de vontade também, pode até guardar uma para ver como se comporta. Eu nunca fiz, mas se fosse fazer arriscaria com uma mais alcoólica, nesse caso a Grand Cru.

Obrigado por acompanhar o blog.

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