12 fevereiro 2009

Cantillon Lou Pepe Kriek - As Lambics


A Brasserie Cantillon é uma empresa familiar e foi fundada no ano de 1900 na cidade de Bruxelas na Bélgica. Apesar da grande maioria das cervejarias no mundo se concentrar na fabricação de Ales e Lagers, ou seja, cervejas de alta e baixa fermentação, na Cantillon o único foco da produção está em cervejas tradicionais e únicas onde o fermento não é adicionado de forma intencional pelo fabricante. Estas cervejas são conhecidas como Lambics e podem ser consideradas uma terceira categoria de fermentação de cervejas. O nome Lambic provavelmente derivou da cidade de Lembeek, onde acredita-se que a família Cantillon fabicava cervejas nos idos de 1700.

As Lambics são feitas com cerca de 70% de cervada malteada e 30% de trigo não malteado. O lúpulo também faz parte da receita, mas de forma bem incomum. Enquanto a maioria das cervejarias procura utilizar lúpulo fresco para fabricar cervejas, nas Lambics é utilizado lúpulo seco e velho, com pelo menos 3 anos. A função do lúpulo nestas cervejas não está em adicionar amargor e aroma, mas em aproveitar suas características conservantes. Os microorganismos responsáveis pela fermentação deste tipo de cerveja estão presentes no ar da região de 25Km² no entorno de Bruxelas, o vale do rio Senne. Após a fervura, a cerveja é resfriada em uma espécie de piscina aberta permitindo o contato dos fungos e bactéria selvagens presentes no ar com a cerveja, que fermenta de forma espontânea. Foram identificados em torno de 86 microorganismos diferentes em cervejas Lambics, mas os mais significativos são o Brettanomyces Bruxelliensis e o Brettanomyces Lambicus. Após o início da fermentação, a cerveja é acondicionada em barris de carvalho, alguns até mesmo já usados para vinhos, que permanecem não selados. A partir daí a cerveja é maturada por 1, 2 ou 3 anos, para depois ser utilizada na fabricação dos variados tipos de Lambic. São cervejas bem ácidas e únicas devido aos microorganismos responsáveis pela sua fermentação.

Além da Cantillon, existem outras tradicionais cervejarias belgas que produzem cervejas Lambic como Boon, 3 Fontaine, Girardin, Belle-Vue, Lindemans, Timmermans e De Troch. Os pricipais tipos de Lambics são a Gueuze, uma mistura de Lambics novas e envelhecidas, a Lambic pura, que não é misturada, a Faro, que é adoçicada e mais leve, e as Fruit Lambics, que são uma mistura com frutas ou xarope de frutas como cereja, framboesa, pêssego, damasco, cassis, uva, morango, banana, maçã, abacaxi e outras.

As cervejas da Cantillon pode ser encontradas em garrafas do tipo champanhe de 375 ou 750ml curiosamente fechadas com uma tampa do tipo coroa e uma rolha de cortiça por baixo.

A tampa metálica.

A rolha logo abaixo.

A rolha removida.

A Cantillon é conhecida por fabricar as Lambics mais tradicionais e assertivas. Lá podemos encontrar os seguintes tipos de Lambic:

Gueuze: Blend de Lambics com 1, 2 e 3 anos. A Lambic nova contém açúcares necessários para a refermentação na garrafa. Esta cerveja tem a aparência de um espumante.
Kriek: Uma fruit Lambic com adição de cerejas ácidas. As cervejas são adicionadas nos barris junto com Labics e o açúcar das cerejas inicia uma nova fermentação. A cor rosada das cerejas é incorporada na bebida.
Rosé de Gambrinus: Leva o mesmo processo de fabricação da Kriek mas com adição de framboesas.
Grand Cru Bruocsella: É a lambic pura, sem ser misturada.
Iris: Feita somente com malte Pale Ale e metade do lúpulo utilizado é fresco. Após dois anos a cerveja leva uma nova carga de lúpulo. Ela é diferente das outras Lambics por ter o sabor mais caramelado e amargo.
Vigneronne: Com adição de uvas moscatel.
Saint Lamvinus: Com adição de uvas merlot e carbenet-franc em barris de vinho bordeaux.
Fou'Foune: Com adição de damascos.
Lou Pepe: Nestas cervejas são escolhidas as melhores produções e são utilizadas normalmente Lambics de 2 anos onde podem ser adicionadas cerejas (Kriek) ou framboesas (Framboise) ou podem ainda permanecer como uma Gueuze. A adição de frutas é 50% maior nestas cervejas.

Curiosamente, o nome Lou Pepe significa vovô no sudoeste da França, região muito visitada pela família Cantillon.


Cantillon Lou Pepe Kriek 2002 - Fruit Lambic, Lambic, 5%ABV, garrafa 750ml.

Cor: Cor vermelha/rosada, reflexos alaranjados, turva, presença de sedimentos. Lembra um vinho rosê turvo.
Espuma: Baixa formação e duração, cor rosada, fino perlage, lembrando um champanhe.
Aroma: Ácido, avinagrado, cerejas, leve salgado.
Paladar: Ácido predominante, avinagrado, cerejas, leve salgado, final azedo e prolongado, carbonatação evidente, seca.

Boa cerveja. Diferente de tudo que já tive oportunidade de provar. Ocorre uma explosão de sabores ácidos por todos os cantos da boca. O aroma não é tão extremo, é fino e bem agradável. O paladar é extremo, muito bom. Provoca cada célula das minhas glândulas salivares. A boca enche de saliva após cada gole. Esta é uma bebida que pode assustar muitos. Parece ser um daqueles casos de amor ou ódio. Eu gostei muito e não vejo a hora de degustar outras produções desta cervejaria. Recomendo que seja tomada em pequenas quantidades, pois sua acidez extrema pode dificultar a ingestão em grandes quantidades. Uma garrafa de 750ml pode ser dividida entre 3 ou 4 pessoas tranquilamente. Como uma curiosidade, depois de 5 dias a rolha ainda possui o aroma delicioso desta cerveja.

Nas próximas postagens devo descrever a Belle-Vue Kriek, uma Lambic com apelo mais comercial outrora encontrada no Brasil.

Veja outras Labics, incluindo a Belle-Vue Kriek, clicando aqui.

4 comentários:

Pedro Fraga disse...

Ainda não experimentei uma Lou Pepe, mas adoro todas as outras Cantillons que já provei.

Preciso retornar a Bruxelas, pelo visto... rs

Rodrigo Campos disse...

Olá Pedro,

Ainda não consegui esquecer o relato que você fez da visita na Cantillon. Que inveja de você (no bom sentido)!

Esta foi minha primeira Cantillon. Antes só Belle Vue mesmo. São cervejas bem peculiares mesmo e podem não agradar muita gente. Eu gostei muito e estou louco para conseguir mais algumas. Quem sabe não faço uma visita à Cantillon também. Aí seria o nirvana!

Grande abraço.

Daniel Correa disse...

Hoje provei a Iris. Muito diferente de tudo que ja bebi. Eh a primeira lambic que eu provo. Nao me assustei com a acidez, porém o gosto estava com forte presença de couro molhado. Nao senti o caramelo.

Vou seguir provando outras Cantillon.
um abraço

Rodrigo Campos disse...

Olá Daniel,

Parabéns por ter conseguido degustar uma cerveja tão especial. Eu ainda não degustei a Iris. O que escrevi sobre ela foi tirado do site da cervejaria Cantillon. A presença de sabores e aromas animais, como você descreveu o couro molhado, é característico das Lambics, pricipalmente as mais tradicionais como as Cantillon.
Essa você conseguiu aqui no Brasil mesmo?

Um abraço.

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