05 agosto 2011

Westvleteren



A história da abadia de Saint Sixtus começa em 1814, quando Jan-Baptist Victoor se estabeleceu como hermitão na floresta onde hoje fica a abadia, a 4 kilômetros da vila de Westvleteren, extremo oeste belga na fronteira com a França. Ele queria fundar um mosteiro no local em homenagem a virgem Maria. Em 1831 a abadia foi fundada com a ajuda de alguns monges da abadia de Mont des Cats (Catsberg em holandês) da França. Os monges de Saint Sixtus fazem parte da Ordem Trapista, uma congregação religiosa católica que segue a regra beneditina. Uma das atividades dos monges trapistas é a fabricação de produtos destinados à venda para o sustento das abadias, entre eles a cerveja. 


O primeiro registro de fabricação de cerveja em St Sixtus data de 1839. Somente em 1931 a cerveja começou a ser vendida ao público em geral. Antes disso ela era servida somente para convidados. Durante as duas Guerras Mundiais a cervejaria de St Sixtus foi uma das poucas a manter atividade, apesar de ter diminuído a capacidade de produção. Entre 1946 e 1992, as cervejas Westvleteren foram produzidas sob licensa pela cervejaria St Bernardus, localizada a poucos kilômetros na cidade de Watou. Hoje são fabricadas em St Sixtus as cervejas Westvleteren Blond, 8 (já foi chamada de Extra) e 12 (já foi chamada de Abt). 


As cervejas Westvleteren são as mais difíceis de conseguir entre as trapistas e com certeza estão entre as mais difíceis no mundo também. A única forma oficial de comprá-las é na porta da abadia. Você precisa telefonar para um número, o beer phone (www.sintsixtus.be/eng/brouwerij.htm), agendar um dia e dar o número da placa do seu automóvel. No dia agendado você terá direito de comprar somente 24 garrafas da cerveja que estiver disponível no dia. Se não tiver agendado sua visita você poderá beber a cerveja no café In de Vrede, inaugurado em 1999, em frente a abadia. Também é possível conseguir comprar no "mercado negro". Elas podem ser encontradas em lojas na Bélgica e países vizinhos por preços ainda reais ou em sites dos EUA e mesmo no Brasil por preços proibitivos. O fato da Westvleterem 12 frequentemente ser considerada a melhor cerveja do mundo nos dois principais rankings cervejeiros (beer advocate e rate beer) provocou uma corrida de seguidores atrás dela, aumentando ainda mais o mito e também os preços cobrados para conseguir prová-la. A resposta dos monges a essa procura é que eles não pretendem aumentar a produção  pois não são cervejeiros. Eles só fazem cerveja para conseguirem continuar a ser monges.


Westvleteren Blond - Belgian Blond Ale, 5.8% ABV, garrafa 330ml.

Cor: Amarela, turva.
Espuma:  Boa formação, média duração, cor branca, bem consistente, deixa marcas no copo.
Aroma: Leve malte, pão, lúpulo (herbáceo, grama), fermento, frutado (maçã, pêra, laranja), leve cítrico, leve condimentado.
Paladar: Leve malte, fermento, frutado (maçã, pêra), leve cítrico, lúpulo (herbáceo, grama), condimentado, final amargo com boa intensidade e duração, corpo médio, alta carbonatação.

Boa cerveja. O perfil de malte é bem simples. Aroma e sabor de fermento. Os sabores da fermetação aparecem com um frutado que lembra maçã e pêra, além de um condimentado que lembra pimenta. O lúpulo com certeza é o destaque dessa cerveja. Ela foi lançada em 1999 aproveitando o fato de existir vasta produção de lúpulo perto da cervejaria na região de Popering. A cerveja tem notas herbáceas intensas que lembram grama recém cortada e levemente cítricas. Tem um amargor de boa intensidade mas equilibrado e limpo.



Westvleterem 8 - Belgian Dark Strong Ale, 8% ABV, garrafa 330ml.

Cor Marrom, levemente turva.
Espuma: Alta formação e boa duração, cor bege, deixa algumas marcas no copo.
Aroma: Malte, adocicado, fermento, vinho, frutado intenso (uvas, frutas vermelhas), lúpulo (herbáceo, condimentado), álcool.
Paladar: Malte, doce, caramelo, fermento, terroso, vinho, frutado (uvas, frutas vermelhas, ameixa), lúpulo, picante, álcool, bom corpo, amargor presente, final alcoólico e doce, levemente seca.

Ótima cerveja. Aroma inicialmente bem adocicado, vinificado e frutado, com notas de frutas vermelhas, como amora. O lúpulo aparece de forma equilibrada com notas herbáceas e um bom amargor. Apesar de doce ela tem o final levemente seco. Notas de fermento aparecem intensas e deixam uma percepção terrosa na cerveja. O curiosos é que são utilizados somente maltes claros nessa cerveja. A cor vem exclusivamente do uso de "candy sugar" escuro.



Westvleteren 12 - Belgian Quadrupel, 10.2% ABV, garrafa 330ml.

Cor: Marrom, levemente turva. 
Espuma: Boa formação, média duração, cor bege, boa consistência, deixa marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, leve caramelo, frutado (ameixa, passas), fenólico picante, condimentado (pimenta do reino) fermento, álcool.
Paladar: Malte, doce intenso, leve caramelo, toffee, melaço, frutado (ameixa), fenólico, picante, condimentado (pimenta do reino), álcool, amargor imperceptível, residual doce bem presente, ótimo corpo, sedosa, licorosa.

Ótima cerveja. Menos aromática que a 8 mas com uma intensidade de sabor bem maior. Ela é bem doce com notas de caramelo, toffee, melaço e até do candy sugar. Assim como a 8, ela também só tem maltes claros na composição e sua cor vem do uso do candy sugar escuro. O amargor é inexistente e a doçura toma conta do conjunto. Ela tem um teor alcoólico bem alto e uma textura extremamente sedosa e licorosa mas é impressionante como fica equilibrada e fácil de beber. Fica fácil perceber porque ela é tão bem cotata pelos apaixonados por cervejas. Uma cerveja realmente especial. A melhor do mundo? Deixo para cada um tirar suas próprias conclusões.

6 comentários:

Claudinei disse...

Parabéns, Rodrigo, por esta importante aquisição e degustação. Não deve mesmo ser fácil ter a oportunidade de provar estas "mitológicas" cervejas. Notei que você não mencionou o lúpulo na suposta "melhor do mundo". Será que este ingrediente não é utilizado na mesma, ou será que a abundância dos demais aromas/sabores o encobrem totalmente?

Continue contribuindo na promoção da nossa cultura cervejeira!

Um abraço.

Claudinei

Eduardo Deleuze disse...

Hola Rodrigo, excelente post!!
Mi primer Westvleteren la compré en Brasil y recientemente también compre en Bélgica. Una excelente cerveza, la mejor en la categoría Quadrupel.

Saludos!!

Rodrigo Campos disse...

Oi Claudinei,

Realmente é bem difícil para conseguir mesmo! Demorei muito tempo para conseguir porque não queria pagar o que pediam por ela aqui no Brasil.

A West 12 com certeza deve ter lúpulo, só não aparece mesmo, ficando em segundo plano.

Rodrigo Campos disse...

Oi Eduardo,

Realmente é uma bela cerveja mas já provei muitas que também me deixaram bem impressionado. A que provei ainda estava bem nova. Vou agora tentar alguma com mais tempo de guarda para ver a diferença.

Anônimo disse...

Oi Rodrigo, muito bacana o post, parabéns!!!
Estou com uma Westvleterem 8 em casa mais estou enrolando pra tomar rs!

Bjss
Natty

Rodrigo Campos disse...

Olá Natty,

Obrigado pelo elogio ao post. Eu também tenho esse mesmo problema de demorar para abrir algumas cervejas. Tem algumas que até esqueço! Quanto à Westvleteren 8, a guarda pode até fazer bem a ela por uns 2 ou 3 anos.

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