23 abril 2012

Turismo Cervejeiro na Bélgica (Bruxelas) - Delirium Café



O Delirium Café fica localizado bem próximo da Grand Place, no centro de Bruxelas. Este bar é de propriedade dos mesmos donos da cervejaria Huyghe, produtora da famosa cerveja do elefante cor de rosa, a Delirium Tremens. O que tornou esse bar famoso foi sua impressionante carta com 2400 cervejas diferentes, a maior do mundo, merecendo até reconhecimento do Guinness Book. Em Bruxelas existem inúmeros locais para se beber uma boa cerveja e o Delirium Café se destaca mais pela variedade. Infelizmente lá não é o melhor ambiente para se degustar uma cerveja. O ambiente lembra mais uma balada. Cheio de jovens, música alta e casa quase sempre lotada não facilitam uma degustação atenciosa, mas pode ser uma boa opção se você quiser se divertir. O local vale uma visita e caso não encontre uma cerveja rara nos outros bares e lojas de Bruxelas, não deixe de procurar no Delirium.



Elefante de pelúcia vendido no local e a carta de cerveja.

Delirium Village.

Hoje o Delirium Café faz parte de um pequeno complexo, o Delirium Village, onde podem ser encontrados também outros bares. Além do Delirium Café podem ser visitados o Delirium Taphouse com 27 cervejas on tap; Delirium Monasterium com 100 cervejas de abadia e trapistas, sendo 10 on tap; o Delirium Hoppy Loft com cervejas mais amargas e intensas; o Floris Bar especializado em absinto (mais de 400) e uísques;  O Floris Garden com mais de 800 runs, cachaças, piscos e coquetéis e o Floris Tequila com mais de 500 diferentes. 


Delirium Tremens - Belgian Golden Strong Ale, 8.5%, Keg.

Não podia deixar de beber uma Delirium on tap no próprio bar da marca.


Vapeur Cochonne (Cochonnette) - Belgian Dark Strong Ale, 9%, garrafa 330ml.
Cerveja de cor cobre, levíssima turbidez, aroma e sabor mais maltado, frutado e condimentado. 

Cerveja boa mas sem grandes destaques. Ela é feita pela Brasserie a Vapeur, uma cervejaria pequena e bem artesanal que costuma usar ervas e temperos nas receitas. Residual mais adocicado. A Cochonnette leva sementes de coentro, casca de laranja e chicória. Da mesma cervejaria recomedo a Saison de Pipaix.

05 abril 2012

Chocolate harmoniza com cerveja?


Semana passada o Caderno Guia do Sabor do jornal Diário do Nordeste publicou matéria sobre harmonização de chocolate com cervejas. Infelizmente o espaço no caderno não foi suficiente para  todas as minhas dicas. Abaixo leia o texto completo, incluindo as cervejas encontradas em Fortaleza:


As pessoas não costumam pensar na harmonização de cerveja com chocolate. Mas também não adianta tentar harmonizar chocolate com as cervejas comuns que o brasileiro está mais acostumado a consumir. Com as cervejas certas a combinação pode ser uma prazerosa surpresa mesmo para quem diz não gostar de cerveja.

Cerveja e chocolate têm muitos pontos em comum. Ambos são fermentados. As sementes de cacau são fermentadas antes de passarem por processo de secagem e torra. Tradicionalmente no Brasil, cervejas escuras tem sua cor somente pela adição de corante. A mais conhecida delas é a Malzbier, uma cerveja muito doce, sem notas de torrefação e que parte de uma cerveja clara que pode não ter dado certo na fabrica. As cervejas escuras verdadeiras e tradicionais tem sua cor escura devido ao processo de torra dos grãos de cevada, mesmo processo usando nos grãos de cacau e café. Por isso cervejas que usam maltes escuros possuem sabores e aromas de torrefação que lembram café e chocolate. Existe até um tipo de malte usado pelas cervejarias que é chamado de malte chocolate. O último ponto em comum entre os dois é o balanço entre os sabores doce e amargo. O malte de cevada é naturalmente doce e essa doçura é balanceada pela adição do lúpulo que confere amargor. No chocolate a pasta de cacau feita com os grãos é amarga e esse amargor é balanceado pela adição de açúcar e leite em diferentes proporções. O chocolate amargo tem maior proporção enquanto o chocolate ao leite tem menor proporção de pasta de cacau. Existem até cervejas que tem chocolate na receita, que pode ser adicionado durante a fervura ou após a fermentação, aumentando ainda mais a percepção do ingrediente.

Existem princípios técnicos para a harmonização de bebidas com comidas. No caso da cerveja podemos seguir esses princípios. Os quatro mais importantes são semelhança, contraste, intensidade e carbonatação.

Semelhança: Existem sabores semelhantes entre cervejas e chocolates, ambos podem apresentar torrefação, café, caramelo, doce e amargo.

Contraste: Também existem sabores contrastantes entre cervejas e chocolates, como o doce de uma sobremesa com o amargo na cerveja. Existem cervejas ácidas que podem contrastar com o doce do chocolate.

Intensidade: Devemos procurar combinar chocolates mais intensos e ricos com cervejas mais intensas.

Carbonatação: O gás presente na cerveja permite limpar a língua e preparar o paladar para uma nova garfada, mesmo quando ingerimos alimentos gordurosos que cobrem a língua, como o chocolate.
Apesar de existirem princípios para guiar uma harmonização, na realidade não existe o certo e errado. Harmonizar com cervejas é um jogo de tentativa e erro prazeroso e divertido. Você pode descobrir as diferentes combinações que mais te agradem. Outras simplesmente não serão bem sucedidas.

Como degustar: Começar com uma mordida no chocolate, mastigar, deixar derreter na boca e tomar um gole da cerveja. Dar outra mordida no chocolate em seguida.


Chocolate amargo – A intensidade do chocolate amargo e meio amargo pede cervejas com perfil de torrefação mais intenso. Porters (Old Engine Oil, Meatime Coffee Porter, Meantime London Porter, Colorado Demoiselle) e Souts (Baden Baden Stout) combinam bem com chocolate amargo e meio amargo, mas uma Imperial Stout (Brooklyn Black Chocolate Stout), mais alcoólica e intensa vai combinar melhor com o chocolate com alto teor de cacau. Essa harmonização é a mais fácil e provavelmente mais prazerosa entre chocolate e cerveja.

Chocolate ao leite – O chocolate ao leite tem maior doçura e por isso vai combinar melhor com cervejas com menor intensidade de torrefação e mais adocicadas. Munich Dunkel e Schwarzbiers (Eisenbahn Dunkel), Belgian Dark Strong Ales (Chimay Bleue, Waterloo Double Dark 8) e Dubbels (Chimay Rouge, La Trappe Dubbel). Barley Wines (Brooklyn Monster Ale) e Old Ales (Ola Dubh) são cervejas mais adocicadas e alcoólicas e podem combinar com um chocolate ao leite de boa qualidade.

Chocolate branco – Essa é uma combinação menos óbvia, pois o chocolate branco não apresenta notas de torrefação. A tentativa é de harmonizar com as notas adocicadas do chocolate branco. Cervejas claras mais alcoólicas e adocicadas, como Belgian Strong Golden Ales (Brooklyn Local 1, Eisenbahn Strong Golden Ale) podem funcionar. Cervejas com frutas, como Fruit Lambics mais adocicadas (Boon Kriek), harmonizam por contraste entre a leve acidez da cerveja com o doce do chocolate.

Chocolate com frutas – Da mesma forma que encontramos chocolate com frutas, as cervejas com frutas podem brincar com o chocolate pelo mesmo princípio, tanto com o escuro como o branco.

Chocolate com laranja – Geralmente o chocolate usado nessas combinações é o de alto teor de cacau, portanto as cervejas que harmonizam com ele também o farão aqui. Imperial Stout, Stout e Porter.

Chocolate com passas – As Belgian Dark Strong Ales (Chimay Bleue, Waterloo Double Dark) e Dubbels (Chimay Rouge, La Trappe Dubbel) possuem notas adocicadas, de chocolate e de frutas escuras como ameixa e uva passa para harmonizar com o chocolate ao leite com frutas secas.

Chocolate com amêndoas – Bock, Doppel Bock (Paulaner Salvator) e Brown Ales (Brooklyn Brown Ale) possuem notas amendoadas e podem combinar com cervejas com castanhas e amêndoas em geral. As Brown Ales possuem também leves notas de chocolate, facilitando a harmonização por semelhança.

Para tortas, bolos, brownies e trufas de chocolate podemos seguir as regras anteriores, escolhendo a cerveja de acordo com a intensidade do chocolate encontrado em cada sobremesa.

15 março 2012

Turismo Cervejeiro na Bélgica (Bruxelas) - Poechenellekelder



Não posso dizer qual a pronuncia correta do nome desse bar mas sei que é uma dos muitos com boa carta de cerveja na Bélgica. Também não é tão difícil assim montar uma boa carta, já que a oferta de cervejas é muito grande. O Poechenellekelder fica na região da Grande Place bem no centro de Bruxelas, em frente da estátua do Manneken Pis, o menino mijão conhecido como maneco aqui no Brasil. 


Como foi o primeiro bar que fui na Bélgica, foi lá que também vi pela primeira vez o cuidado no serviço da cada cerveja. Os garçons dão um show ao despejar as cervejas em suas respectivas taças. Você pode escolher ficar no ambiente externo vendo o movimento da rua ou no interno, mais reservado e com uma decoração bem pitoresca. A dica é que fora você precisa pagar a cada cerveja pedida e dentro eles abrem uma conta para pagar só no final.

Bebi algumas ótimas cervejas por lá.




Taras Boulba - Belgian Pale Ale, 4.5% ABV, garrafa 330ml.

Cerveja de cor dourada, levemente turva, aroma de lúpulo (herbáceo, cítrico), frutado (laranja, limão). No sabor o perfil de malte é bem simples e leve, com notas mais intensas de lúpulo herbáceo e cítrico e bom amargor.

Muito boa. Leve, refrescante e com ótimo aroma e sabor de lúpulo. Lembrou muito uma Belgian IPA.

Taras Boulba e queijo Maredsous.


St Feuillien Grand Cru - Belgian Strong Golden Ale, 9.5% ABV, garrafa 330ml.

Cerveja de cor dourada, límpida, aroma de lúpulo (herbáceo, frutado, picante, cítrico), fenólico condimentado. No sabor aparecem um perfil mais simples de malte, o lúpulo (herbáceo, cítrico, picante), frutado que lembra frutas cítricas, um bom amargor e leve álcool.

Muito boa. Depois de beber a Taras Boula e a Grand Cru da St Feuillien fico com a boa impressão de que realmente a onda de cervejas amargas chegou definitivamente na Bélgica. Com certeza tem influência do forte mercado americano e a necessidade de exportar essas cervejas.


Grisette Fruits des bois - Fruit Beer (Wit bier com frutas), 3.5% ABV, garrafa 250ml.

Cerveja de cor belíssima, vermelha intensa/rosada, com aroma e sabor de frutas, paladar adocicado com leve acidez.

Boa fruit beer de frutas silvestres. Refrescante. Feita pela St Feuillien.


Oud Beersel Oud Gueuze Vieille - Gueuze, 6% ABV, garrafa 375ml.

Cerveja de cor âmbar, turva, aroma a sabor acético, de vinho, couro, madeira. Final azedo mas equilibrado, alta carbonatação, levemente seca.

Muito boa. Gueuze tradicional mas de paladar equilibrado, nada doce mas também sem acidez extrema e exagerada. Muito aromática.


13 março 2012

Turismo Cervejeiro em Paris - La Cave à Bulles



La Cave à Bulles é tida como a melhor loja de cerveja em Paris. Eles possuem uma boa variedade com muitas artesanais francesas mas também uma boa seleção de cervejas belgas, inglesas, italianas, holandesas e até americanas. Apesar de ser localizada em uma área de fácil acesso por metrô e perto de vários pontos turísticos, a Cave à Bulles pode ser bem difícil de encontrar. A loja é comandada pessoalmente por Simon, proprietário e claramente apaixonado por cerveja. Algumas podem ser encontradas geladas, mas o foco é a venda para consumo fora da loja mesmo. Da dúvida do que comprar pode perguntar ao Simon que ele conhece bem o que vende.




Ao dizer que era brasileiro, Simon perguntou se não tinha levado alguma Colorado comigo. Quando for visitar a Cave à Bulles, não deixe de levar uma Colorado ou qualquer outra cerveja artesanal brasileira que ele faz escambo com alguma que ele tem à venda.

Algumas das cervejas importadas disponíveis na loja.

Comprei três cervejas na loja e divido com vocês as minhas impressões.


La Belle en Goguette - Pale Ale, 4.5% ABV, garrafa 330ml.

Cerveja de cor dourada, levemente turva, aroma de lúpulo (herbáceo, cítrico), frutado (limão, laranja) e de malte. No sabor aparecem o lúpulo (herbáceo, frutado, limão), leve malte, pão e bom amargor final.

Boa cerveja, leve, bem aromática e com bom amargor. 


Cuvée des Jonquilles - Saison, 7% ABV, garrafa 750ml.

Cerveja de cor dourada, levemente turva, aroma de lúpulo (floral intenso, leve cítrico), frutado (limão) e malte. No sabor aparecem malte, leve adocicado, lúpulo (floral, herbáceo, leve cítrico), frutado (laranja, limão), amargor final de média intensidade, corpo leve/médio, alta carbonatação e sensação final bem seca.

Ótima cerveja. Refrescante, aroma fantástico de lúpulo floral, bem seca, fácil de beber. Ela é feita em pequenas quantidades na fronteira com a Bélgica pela cervejaria Brasserie Au Baron da família belga Bailleux, a provável origem da influência para fazer dessa artesanal francesa algo tão próximo das Saisons belgas. Dizem que antigamente a diferença entre Saisons e as Bières de Garde estava mais no nome, pois as cerveja se assemelhavam. Jonquilles é o nome em francês para Narciso, a flor.


St Rieul Brune - Stout, 7% ABV, garrafa 330ml.

Cerveja de cor marrom bem escura, turva, aroma de malte, torrefação, café, frutada (ameixa), fermento, leve álcool. No sabor aparecem malte, torrefação, café, leve acidez, frutado (ameixa), picante, leve álcool, amargor, torrefação final com leve acidez, bem seca, corpo médio.

Mais uma artesanal francesa. Classificada como Stout pela cervejaria, ela tem muita influência belga, provavelmente no fermento, que traz notas frutadas e fenólicas típicas de Belgian Dark Strong Ales.

09 março 2012

Turismo Cervejeiro em Paris - Brewberry



Encontrar bares especializados em cerveja em Paris não é tão fácil quanto em outras cidades como Nova Iorque ou Bruxelas. Mesmo assim existem bons locais como já mostramos nos outros posts. Um dos melhores que encontrei é o Brewberry (18, rue du pot de fer). Comandado pessoalmente pela proprietária Cécile, uma apaixonada e conhecedora de cerveja. Cécile é o diferencial da casa. Como bar, foi o único local onde encontrei uma pessoa que realmente conhecia o que estava vendendo. O outro local é uma loja que será assunto do próximo post. Como resultado desse diferencial, foi lá o único local em Paris que consegui beber cervejas francesas muito boas em sequência, já que geralmente não gosto muito da unicidade dos franceses em fazer o seu tradicional estilo Bière de Garde. 





O Brewberry fica um pouco afastado dos principais pontos turísticos de Paris (fica perto do Phanteon). O acesso pode ser feito através de metrô. Na carta, como em todos os locais que visitei na cidade, a variedade de cervejas belgas é grande, mas também há uma boa seleção de cervejas de outros países europeus e até americanas. As artesanais francesas aparecem com boa variedade.

Cave onde as cervejas ficam armazenadas no Brewberry.

O bar é como uma caverna pois fica um um nível abaixo da calçada, as paredes são revestidas de pedra, o que ajuda a manter uma boa temperatura, e para fechar a conta as cervejas ficam armazenadas em uma cave no nível mais baixo ainda, ajudando a manter as cervejas em temperatura constante e ideal para guarda, mesmo no calor horrível que estava em Paris no dia que estive lá.


Oubliette Ambreé - Amber Ale, 6% ABV, garrafa 330ml.

Cerveja de cor âmbar, com leve turbidez, aroma de lúpulo (herbáceo e picante) com leve aroma de malte e frutado. No sabor aparecem malte, mel, leve picante e frutado, lúpulo (herbáceo, picante), leve amargor, corpo leve e alta carbonatação.

Boa cerveja. Artesanal francesa da Petite Brasserie Ardennaise mas feita sob licença na cervejaria belga De Proef. Bem equilibrada com bom aroma e sabor de lúpulo, frutada e com amargor agradável.


Cuvée D'Oscar - Specialty (Cerveja de trigo escura com dry hopping de Nelson Sauvin), 7.5% ABV, garrafa 375ml.

Cerveja de cor âmbar escura, turva, aroma de lúpulo (frutado, herbáceo, cítrico), leve malte. No sabor aparecem o lúpulo novamente (frutado, herbáceo), malte, caramelo, adocicado, leve amargor equilibrado, bem seca, corpo médio.

Muito boa. Essa também é feita na cervejaria belga De Proef mas dessa vez para a francesa Graig Allan.  Aroma delicioso de lúpulo, refrescante, tem amargor equilibrado mas bem presente e bem seca também. Outra cerveja dessa mesma cervejaria que provei e gostei foi a Agent Provocateur. A Cuvée D'Oscar tem uma proposta bem parecida com a Schneider Tap X Nelson Sauvin, também uma cerveja de trigo com dry hoppping de Nelson Sauvin. Não provei a alemã mas essa aqui é bem gostosa.


Fleurac La Triple Brune IPA - American Dark Ale (Black IPA), 8% ABV, garrafa 330ml.

Cdrveja de cor marrom, turva, aroma de lúpulo (cítrico, herbáceo, frutado, laranja, grapefruit), leve torrefação. No sabor aparecem o lúpulo (cítrico, frutado, laranja, grapefruit), malte, caramelo, leve adocicado, leve torrefação, bom amargor final, corpo médio.

Ótima cerveja, Não esperava uma Black IPA francesa. 

07 março 2012

Turismo Cervejeiro em Paris - La Grande Epicerie de Paris



Conhecida como uma espécie de templo gourmet dos parisienses, a Grande Epicerie de Paris é um mercado especializado em produtos gourmet, de alta qualidade e com muita variedade. Seria o mesmo que um supermercado conceito. Não sabia nem de sua existência antes de sair do Brasil mas o encontrei por acaso andando pela cidade. Fica na 38, Rue de Sèvres, logo ao lado da capela da medalha milagrosa em Paris, local muito visitado pelos católicos. 

Entrei na loja para conhecer e fiquei encantado com tudo que vi por lá, desde as águas, doces, pratos, sorvetes, frutas e até mesmo as cervejas, pois foi um dos locais que encontrei a maior variedade em Paris. Como em todos os locais que visitei na cidade, a maior variedade é de cervejas belgas, mas encontrei também algumas boas alemãs, tchecas, inglesas e uma boa variedade de francesas artesanais. Os preços eram compatíveis com os de outros mercados e lojas, talvez alguns centavos mais caro. 








06 março 2012

Mont des Cats - A cerveja trapista francesa



A história da comunidade de Mont des Cats inicia por volta de 1650. Em 1826, o pintor Joseph Ruyssen financiou a criação do priorado. Em 1847 o priorado virou abadia. No mesmo ano foi construída a primeira cervejaria. Em 1870 a capacidade de produção foi aumentada. Em 1907 a cervejaria foi fechada pois os monges tiveram que se exilar devido às leis anticlericais. 

A primeira cerveja produzida na abadia parecia ser e cor escura e baixo teor alcoólico mas depois a receita foi modificada para ser clara e mais alcoólica, a fim de não competir com as pequenas cervejarias locais. A cerveja era envasada em barris de madeira e foi vendida até em Paris. Em 1918, durante a I Grande Guerra, a abadia foi destruída por um bombardeio. A cervejaria não foi mais reconstruída. 

Publicidade da cerveja em 1900. 

Monges carregando barris de cerveja em Mont des Cats (1898).

A comunidade passou a viver da produção de queijo até o ano passado. Com intenção de melhorar o financiamento da abadia, os monges de Mont des Cats entraram em acordo com os monges da abadia de Scourmont, da já famosa Chimay, para produzir uma nova cerveja. Como não possuem há cervejaria em Mont des Cats e o investimento inicial para construir uma seria muito grande, a solução foi produzir a nova cerveja na Bélgica mesmo. O acordo previa a criação de uma nova cerveja com identidade própria e nova receita mas ainda existem planos de construir uma cervejaria em Mont des Cats. No dia 9 de junho de 2011, a nova cerveja foi apresentada em uma conferência de imprensa, assim como anunciado aqui no blog.

Uma polêmica até hoje não resolvida é a questão da falta do selo de produto autêntico trapista. Segundo os monges de Mot des Cats, a cerveja ainda é muito nova para ter o selo. A produção deve ser auditada pela Associação Internacional Trapista, que avaliará se está de acordo com as regras. A verdade é que o selo ainda não pode ser utilizado pela cerveja francesa. Parece ser necessário produzir dentro dos limites da abadia para ter direito de usar o selo.


Mont des Cats - Dubbel, Ale, 7.6% ABV, garrafa 330ml.

Cor: Cobre escura/marrom, levemente turva.
Espuma: Alta formação e boa duração, cor marfim.
Aroma: Malte, caramelo, fermento, frutado (passas), picante, fenólico condimentado.
Paladar: Malte, doce, caramelo, fermento, picante, fenólico, condimentado, frutado (passas, figo?), amargor bem leve, final equilibrado, com leve dulçor, corpo médio e levemente seca. 

Cerveja boa e equilibrada. Por ser feita pela Chimay, existe uma forte sugestão sobre a semelhança entre ela e as cervejas produzidas pelos monges belgas. Dizem até que ela foi baseada na receita da Chimay Red e que usa o mesmo tipo de levedura. O estilo é claramente belga, com notas de fermentação, como o frutado que lembra passas e talvez figo e o fenólico condimentado e picante. Fica difícil dizer que se trata da mesma cerveja sem fazer uma degustação comparativa. 

Uma curiosidade é que o nome Cats da abadia não tem relação nenhuma com gatos. O nome vem de uma tribo germânica que habitou o local durante o século V d.C., os Catos (Chatti em latin).

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