30 dezembro 2009

Melograno Uno



Melograno, em italiano, significa pé de romã. Há cerca de um ano, em parceria com alguns sócios, o cervejólogo e gastrônomo Eduardo Passarelli abriu uma casa especializada em cervejas em pleno corredor bohemio da cidade de São Paulo, a rua Aspicuelta na Vila Madalena. Lá você vai encontar pratos feitos no forno à lenha e uma carta com cerca de 150 cervejas escolhidas pelo próprio Edu. No jardim localizado nos fundos do Restaurante existe um pé de romã, e por isso este nome foi escolhido para batizar a casa.

Neste final de ano foi lançada uma cerveja para comemorar o primeiro ano da casa: a Melograno Uno. Nas palavras Passarelli: "quando surgiu a idéia de fazer uma cerveja para comemorar 1 ano da casa (UNO), logo pensei na fruta, até porque no Brasil não existia nenhuma fruit beer. Fizemos o investimento em um tanque de fermentação e tocamos a idéia adiante."

A Melograno Uno foi fabricada pela cervejaria Bamberg de Votorantim (SP). Ela é considerada uma fruit beer: uma mistura de uma cerveja em particular com frutas ou extratos de frutas. No caso da Uno, a cerveja base foi uma Belgian Blond Ale e foi utilizado extrato 100% natural de romã.

No contra rótulo na Uno podemos ler seguinte:
"Romã no Ano Novo. Quem nunca usou esta mítica fruta, que é símbolo do amor, prosperidade e mutiplicação, para comemorar a entrada de um ano novo? Nós, da Melograno, começamos nosso primeiro ano batizando a casa com o nome do pé da fruta e depois de um ano cheio de alegrias mais uma vez utilizamos a romã, desta vez como ingrediente da cerveja Uno, que criamos para comemorar o nosso primeiro aniversário. Portanto, um brinde e FELIZ ANO NOVO!!!"

Passarelli  ainda recomenda a degustação da cerveja em torno de 2 e 3 ºC em uma taça tipo tulipa.



Melograno Uno - Fruit Beer, Ale, 5.5%ABV, garrafa 355ml.

Cor: Âmbar escura/cobre, turva.
Espuma: Média formação, média/baixa duração.
Aroma: Malte, adocicado, lúpulo, caramelo, frutado, cítrico.
Paladar: Malte, doce, caramelo, frutado, cítrico, acidez, azeda, elve amargor final, corpo médio/baixo, seca.

Boa cerveja. Leve e de alto drinkability. Não provei nenhuma cerveja que tivesse um padrão parecido com o dela. Apesar da cerveja base ser uma Belgian Blond Ale, na minha opinião, o resultado ficou próximo de uma Belgian Pale Ale, que é mais leve, só que uma presença marcante do frutado cítrico, do maravilhoso aroma de lúpulo e da acidez também destacada no sabor. Esta acidez apesar de ser destacada, não chega a ser parecida com o que encontramos em Lambics. Além do que a acidez no paladar é acompanhada pelo amargor, que não aparece nas cervejas do tradicional estilo belga de fermentação espontânea.


Belíssimo conjunto: rótulo e cerveja.


27 dezembro 2009

Os melhores de 2009 - Blog do BOB no Estadão



Nestes últimos dias de 2009, o jornalista Roberto Fonseca, editor do blog BOB no Caderno Paladar no Estadão resolveu fazer uma enquete bem interessante. Ele convidou várias pessoas envolvidas com o universo da cerveja e pediu que cada uma respondesse algumas perguntas.

Para quem não sabe, Roberto Fonseca, mais conhecido como Bob, é uma das pessoas mais envolvidas com o meio cervejeiro no Brasil e autor de um dos blogs mais antigos sobre cerveja no país, o latinhas do bob, o qual foi substituído pelo novo blog do BOB no Estadão. O objetivo do BOB foi fazer uma coletânea de opiniões de modo a formar um concenso sobre as melhores cervejas e fatos mais importantes do ano de 2009.

Até hoje já foram 10 convidados a  responder a enquete: Paulo Feijão do site Obiercevando, Pedro Braga do blog Trinktmehr, Alexandre Bazzo da cervejaria Bamberg, Ivan Steinbach e Diogo Zugë (ganhadores do II Concurso Mestre Cervejeiro com a Joinvile Porter), Cilene Saorin (mestre cervejeira e beer somelier), Ricardo Amorim do blog Cerveja Só, as meninas da Fem Ale Carioca, Maurício Beltramelli do Brejas, Marco Zimmermann (cervejeiro caseiro das deliciosas Opus), além de mim.

Transcrevo aqui as minhas repostas:

1) A 'top das tops' de 2009
Rochefort 10, com outras bem perto!

2) Melhor ale
Gouden Carolus Cuveé van de Keizer Blauw.

3) Melhor lager
Wäls Pilsen.

4) Destaque nacional
Eisenbahn Dunkel. Dois bronzes seguidos em 2007/08 e o ouro este ano na categoria Schwarzbier no European Beer Star são prova de qualidade e consistência. Além disso, depois da aquisição da Eisenbahn pelo grupo Schincariol, a distribuição desta cerveja melhorou consideravelmente, podendo ser encontrada em quase todo o país e por um preço justo! Ela é a prova de que cerveja escura no Brasil pode ir muito além da famigerada Malzbier.

5) Destaque importado
As cervejas Ola Dubh que chegaram ao Brasil. Impressionante mistura de sensações de uma ale forte com os aromas e sabores vindos dos barris de uísque. A utilização de barris que serviram para guardar variados tipos de bebidas (como vinhos, uísque e bourbon) para maturar cerveja e dar a ela maior complexidade é algo já bastante utilizado fora do Brasil, principalmente nos EUA. Quem sabe os produtores brasileiros se animem com isso!

6) Novidade cervejeira
Colocaria pelo menos duas cervejas brasileiras neste tópico: Wäls Quadruppel e Colorado Vintage Black Rapadura. A primeira mostra mais uma vez a ousadia que esta cervejaria mineira sempre teve. Desta vez fizeram uma cerveja que maturou com chips de carvalho previamente embebidos em cachaça. Bem que poderiam apostar agora em fazer o processo diretamente em barris utilizados para envelhecer cachaça! Já a Colorado, apesar de ainda não ter sido lançada no mercado por problemas com o registro no Ministério da Agricultura, já se revelou uma senhora cerveja, de padrão elevadíssimo! Espero que chegue ao mercado com um preço praticável!

7) Fato cervejeiro
Brasil Brau 2009. Apesar da feira ser voltada para o publico especializado (fechada ao público) foi uma vitrine para mostrar a evolução do mercado brasileiro de cervejas especiais: novas cervejas brasileiras foram apresentadas, várias novas microcervejarias brasileiras estavam presentes e as cervejas americanas foram apresentadas pela primeira vez ao público brasileiro, o que gerou grande expectativa pela comercialização delas por aqui. Esta edição da maior feira de tecnologia cervejeira da América Latina mostrou que estamos em pleno crescimento e com possibilidade de crescer muito mais!

8) Pior momento cervejeiro
Pilsner Urquel a 40 Reais no Brasil! Impossível entender como uma cerveja que custa 1 EURO na Europa chegue por aqui a este preço. Com certeza não foi por causa dos impostos. Infelizmente este é somente um exemplo do que tem ocorrido com muitas cervejas que chegam ao Brasil, incluindo algumas que coloquei como destaque nesta matéria. Quando será que veremos uma realidade diferente? Preços mais reais? Este ano os preços aumentaram muito, destacando-se negativamente.

Você pode ler o post completo, incluindo comentários, acessando o blog do BOB neste link.
Veja também as respostas dos outros entrevistados clicando aqui.


Foi um prazer participar deste projeto junto com pessoas tão atuantes na cultura cervejeira do Brasil. Espero que os leitores tenham gostado das minhas escolhas. Seria muito interessante se cada um pudesse colocar suas escolhas nos comentários aqui. Você concorda, discorda, mudaria alguma cerveja ou fato? Não perca tempo e deixe sua opinião nos comentários!

26 dezembro 2009

A Ronda #19: Se é somente Cerveja...




A Ronda é um post coletivo feito por vários colegas blogueiros que gostam de cerveja e escolhem um tema específico para escrever. Desta vez, a idéia para a Ronda foi do colega Chela do blog Sursun & Corda. A idéia de Chela foi a seguinte:

"Vou propor a vocês um pouco de reflexão que se bem entendida pode servir como um exercicio de autocrítica. Blogues sobre cerveja, fóruns sobre cerveja, paginas criadas para pontuar e classificar. Se é somente cerveja, por que tanta excitação? Por que tanto esforço em escrever sobre ela e por que tanta obcessão desmedida e demagógica, em muitos casos, em querer fazer chegar a outras pessoas as nossas experiências com a cerveja. Não estamos tornando a cena cervejeira um pouco esnobe?"

O mundo inteiro está passando por uma onda de renascimento das cervejas artesanais. São em sua maioria cervejas de estilos tradicionais do continente Europeu, principalmente dos países de maior tradição como Bélgica, Alemanha, Reino Unido e República Tcheca. Depois que grandes companhias cervejeiras dominaram o mercado, estas cervejas foram sendo esquecidas em favor de cervejas cada vez mais leves e sem sabor. Depois de uma revolução (Craft Beer Renaissance - Renascimento da Cerveja Artesanal) ocorrer nos Estados Unidos durante a década de 80, novas cervejarias foram surgindo e reproduzindo os tradicionais estilos europeus esquecidos. Esta onda se espalhou pelo mundo e no Brasil deve ter começado de forma bem tímida no início da década de 90, com a abertura do mercado brasileiro para os importados, mas somente veio pegar corpo neste início de milênio, com o surgimento da maioria das microcervejarias brasileiras que hoje atuam no mercado.

Minha história com estas cervejas começou há três anos. Exatamente há um ano comecei a escrever meu blog com a intenção de compartilhar minhas experiências com outras pessoas. Nunca quis tornar o assunto esnobe, apesar de reconher a possibilidade de que algumas pessoas interpretem dessa forma a degustação de cerveja, considerada uma bebida popular e de baixo valor em países de pouca tradição cervejeira, como o Brasil por exemplo.


A intenção sempre foi de tentar contagiar outras pessoas com a paixão que tenho por estas cervejas tão saborosas, diversas e surpreendentes. Como consumidor destas maravilhas, sempre tive a necessidade de poder encontrar uma boa variedade nas lojas perto de minha casa, mas devido ao desconhecimento da maioria das pessoas sobre a existência destas cervejas, raramente encontro algo bom e vejo que ainda há muito espaço para crescer. O blog serve como uma ferramenta de propagação de conhecimento cervejeiro e de educação dos novos consumidores. Acho importante que as pessoas saibam que a cerveja não precisa ser sempre aquela bebida para ser consumida em grandes quantidades durante os dias de calor. A riqueza de estilos e variedades é muito grande. Tudo depende de qual estilo de cerveja você escolheu para aquele dia: uma Bohemian Pilsner ou uma Witbier para refrescar, uma English Bitter para abrir o apetite, uma Stout para acompanhar uma sobremesa à base de chocolate, uma Biére Brut para comemorar ou mesmo uma Barley Wine para ser apreciada com calma depois de uma refeição.

Você já imaginou como seria passar a vida inteira sem conhecer uma comida bem temperada e de repente conhecer o sal, a pimenta e todos os outros temperos que dão muito mais sabor e aroma às nossas refeições. Esta é exatamente a sensação que tenho desde que conheci as cervejas artesanais. A minha vontade é de que outras pessoas tenham a curiosidade de também experimentar e conhecer estas maravilhas e desta maneira fomentar o mercado brasileiro de cervejas especiais. Mas também tenho muita vontade de que apareçam cada vez mais cervejas de boa qualidade, tanto fabricadas dentro do país como também importadas, a preços que não dêem a falsa impressão de que elas sejam produtos para poucos privilegiados economicamente, especialistas ou até mesmo para esnobes.

A cerveja é uma bebida milenar e que acompanha a humanidade em todos os seus passos. Ela conseguiu espaço em todos os cantos do mundo e uma grande quantidade de consumidores, tornando-se a bebida alcoólica mais popular de todas. A cerveja é uma bebida democrática que reúne as pessoas e deixa o ambiente mais alegre. Mas ela também é versátil. Espero que muitos possam ainda conhecer o sabor da verdadeira cerveja e todo o prazer que ela pode nos proporcionar.

23 dezembro 2009

Samichlaus Helles




Esta é a versão clara da cerveja Samichlaus, descrita no último post. A versão clássica já é uma rarirade devido à pequena produção, pois é feita somente uma vez ao ano no dia de São Nicolau, 6 de dezembro. A versão clara é mais rara ainda. No contra rótulo da cerveja que chegou ao Brasil, a versão 2007, é possível ler a informação de que esta é a primeira vez que ela é produzida desde 1986. Foram  quase 20 anos sem contar com novas produções desta cervejinha.

A Samichlaus Helles também foi produzida no dia 6 de dezembro, assim como a versão tradicional e possui os mesmos 14% de álcool por volume (ABV). Esta também é uma cerveja Vintage e pode ser adegada por anos para desenvolver seus aromas e sabores. Não existe nem mesmo prazo de validade no rótulo desta cerveja, mas o importador brasileiro estabeleceu um prazo em sua etiqueta colada na garrafa. Esta ação muito provavelmente foi uma adaptação á legislação corrente em nosso país que exige esta determinação.



Samichlaus Helles 2007 - Doppelbock, Lager, 14%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Âmbar, límpida.
Espuma: Média/baixa formação e baixa duração, cor marfim.
Aroma: Malte, doce, frutado, cítrico, lúpulo, picante, álcool.
Paladar: Malte, doce marcante, frutado, cítrico, picante, álcool, bom corpo, amargor final de média duração acompanhado de sensação doce e alcoólica..

Boa cerveja. Pessoalmente me agradou mais que a versão clássica. O aroma é frutado e delicioso. Ela é picante e alcoólica, mas acredito que nela o álcool ficou melhor inserido combinando de forma mais harmoniosa com o restante das sensações. O doce está bem presente e serve para balancear o alto teor alcoólico.

20 dezembro 2009

Samichlaus - A cerveja de São Nicolau




Fabricada pela primeira vez no ano de 1980, a Samichlaus talvez seja a cerveja de Natal mais famosa da Europa. Naquela época a cerveja era fabricada todo dia 6 de dezembro em Zurique pela cervejaria suíça Hürlimann. Depois do cozimento, a cerveja passava por um lento processo de fermentação e maturação que durava 10 meses. Este processo permitia que ela pudesse alcançar seu altíssimo teor alcoólico, que na maioria das vezes ficava em 14% por volume mas eventualmente chegava a 15. Somente depois desse tempo de maturação é que a cerveja era engarrafada e lançada no mercado, quase um ano depois do início do processo. O nome Samichlaus (em alemão) significa São Nicolau, o mesmo Santo que deu origem à figura do Papai Noel, e o dia de São Nicolau é comemorado todo 6 de dezembro, a mesma data da fabricação da cerveja.

O mais interessante sobre o teor alcoólico em bebidas fermentadas é que as leveduras utilizadas têm um determinado limite até onde ela consegue trabalhar. À medida que o processo de fermentação evolui, o álcool produzido a partir de açúcares disponíveis vai lentamente inibindo o processo e até mesmo matando as leveduras, já que o álcool tem propriedades esterilizantes. No caso das cervejas, a maioria das leveduras utilizadas têm seu limite de trabalho quando se alcança níveis de 9% de álcool por volume (ABV). Para fabricar uma cerveja com o teor de álcool da Samichlaus deve ser utilizada uma levedura especial que consiga trabalhar em um ambiente pouco favorável.


Duas versões Vintage da Samichlaus: 2007 e 2008.
Note a inscrição "Strongest Lager Beer in the World", 
ou Lager mais forte do mundo, no rótulo da versão 2007.


A produção da Samichlaus ocorreu normalmente até o ano de 1996, quando a cervejaria Hürlimann foi adquirida pela cervejaria Feldschlösschen, também da Suíça, e a produção foi interrompida. Por quatro anos consecutivos não houve fabricação da Samichlaus até que no ano 2000, através de um acordo com a cervejaria austríaca Castle Eggenberg, a cerveja foi novamente lançada no mercado. Para produzir a Samichlaus novamente, os mestres cervejeiros das duas cervejarias, da nova Eggenberg e da antiga Hürlimann, se reuniram e mantiveram o tradicional processo que era utilizado na produção em Zurique.

A Samichlaus é uma cerveja Vintage e segundo a cervejaria não tem data de validade específica. Eles garantem que a cerveja pode ser adegada por muitos anos e evolui com o tempo, tornando-se mais complexa e com um paladar quente e uma textura cremosa.

Os 14% de álcool por volume da Samichlaus já foram motivo de grande repercussão para a cerveja. Ela já foi considerada a cerveja Lager de maior teor alcoólico do mundo, estando inclusive presente no Livro dos Records. Até o ano de 2007, o rótulo da Samichlaus ostentava a marca de Lager mais forte do mundo. Acredito que a repercussão de uma cerveja dessas com certeza foi um dos motivos do interesse da Castle Eggenberg em fabricar a Samichlaus. Nos últimos anos temos visto uma corrida para o desenvolvimento de cervejas com teores alcoólicos absurdos. Para isso as cervejarias têm trabalhado no desenvolvimento de técnicas e leveduras especiais para conseguir um produto que atraia a atenção do publico e promova sua marca.

No rótulo da versão 2008 a cerveja é chamada de Malt Liquor, apesar de que a maioria dos rankings cervejeiros a classificam como uma Doppelbock. A possível explicação para este fato está na lei americana que controla o teor de álcool em cervejas. Esta lei proíbe o alto teor de álcool em cervejas e para burlar a lei, o rótulo da cerveja exportada para o mercado americano foi adaptado com a inscrição de Malt Liquor. Nos Estados Unidos um Malt Liquor pode ter maior teor de álcool. Apesar de ser um estilo de cerveja, naquele país o Malt Liquor é considerado quase que um tipo diferente de bebida.



Samichlaus 2008 - Doppelbock, Lager, 14%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Cobre alaranjada, límpida.
Espuma: Média formação e baixa duração, de cor marfim.
Aroma: Malte, doce, toffee, álcool.
Paladar: Malte, doce destacado, picante, álcool, amargor final seguido de sensação doce.

Cerveja extrema. A sensação na boca é comparável com a de um destilado. O álcool dá uma pancada em cada gole. Quando mais gelada, a sensação alcoólica é menos evidente, mas à medida que esquenta ela vai ficando cada vez mais presente, a ponto de quase dominar o conjunto no final da taça. A presença de malte nesta cerveja é evidente com sua doçura destacada e me pergunto se não há açúcar na composição, até mesmo para conseguir o seu teor alcoólico. O aroma me agradou muito, delicioso. Na boca a potência  alcoólica prejudica o dinkability da cerveja, tornando ela difícil em alguns momentos. Realmente parece muito com outras Malt Liquors já que provei. Geralmente tenho essa sensação quando bebo Malt Liquors, mesmo assim acho que vou tentar guardar algumas para avaliar sua evolução com o tempo.

12 dezembro 2009

Eisenbahn Weihnachts Ale




Dando continuidade ao posts com cervejas natalinas, desta vez queria falar da cerveja comemorativa da cervejaria blumenauense Eisenbahn. Esta cervejaria é a micro brasileira que mais tem se destacado em concursos internacionais. Depois da aquisição da empresa pelo Grupo Schincariol em 2008 muitos entusiastas da boa cerveja e fãs das cervejaria ficaram preocupados com a qualidade das cervejas. Verdade seja dita, as cervejas continuaram sendo fabricadas, com uma rede de distribuição muito mais eficiente e abrangente e a qualidade não mudou , ou pelo menos eu não percebi mudanças.

Quanto ao novo setor de marketing da companhia, o Concurso Mestre-Cervejeiro, que premia a melhor receita de cervejeiros caseiros e também originou-se antes da aquisição, teve sua segunda edição em 2009. A terceira chegou a ser ameaçada, mas após protestos foi devidamente mantida para 2010. Mas a cerveja comemorativa de Natal, a Weihnachts Ale, não foi produzida neste final de ano. O motivo não sei dizer qual foi, mas como disse no último post, até mesmo a Baden Baden Christmas Beer, também do Grupo Schincariol, não foi lançada este ano!



Para quem não sabe, Weihnachts significa Natal em alemão. A escolha no idioma alemão se justifica pela origem das principais cervejas produzidas por eles e até mesmo o nome da cervejaria. Leia mais sobre a história da Eisenbahn clicando aqui.

A Eisenbahn Weihnachts Ale é atualmente classificada como uma Amber Ale no site da cervejaria, mas em outras épocas já foi classsificada como Belgian Dubbel nas garrafas. Ela é considerada por muitas pessoas como uma das melhores cervejas produzidas pela Eisenbahn. Alguns dizem ter notado diferenças na última edição, que foi lançada em 2008. Tive a oportunidade de de conseguir uma garrafa e vou dividir a minhas impressões com vocês. Espero que desta forma possamos matar um pouco das saudades que teremos pela falta dela este ano e que no próximo ano ela possa voltar com toda força às nossas mesas durante a ceia de Natal.



Eisenbahn Weihnachts Ale - Amber Ale (?), 6.3%ABV, garrafa 355ml.

Cor: Cobre, leve turbidez.
Espuma: Boa formação e duração, cor marfim, bolhas bem pequenas, boa consistência.
Aroma: Malte, adocicado, caramelo, condimentado, leve citrico, leve fenólico, lúpulo.
Paladar: Malte, doce, caramelo, condimentado, leve cítrico, leve fenólico, leve picante, bom amargor final, corpo médio.

Boa cerveja. Com certeza uma das melhores da linha Eisenbahn. Lembra bem algumas ales belgas com um condimentado e fenólico picante, além de um bom corpo. A questão da classificação poderia ser revisada pela companhia. Quem sabe voltem a produzí-la para que possamos definir melhor esta questão!

09 dezembro 2009

St Feuillien Cuvée de Noel




A tradição de fabricar cervejas especiais para a época do Natal é grande na Europa. Durante as festas é inverno no velho continente e por isso as cervejas fabricadas para o Natal são elaboradas para o clima frio. Elas têm maior graduação alcoólica, mais corpo e complexidade também. Várias cervejarias fabricam suas cervejas de Natal ou Christmas Beer. Na Bélgica, via de regra o que encontramos são versões elaboradas a a partir de outras cervejas que já fazem parte da produção da cervejaria e podemos encontrar semelhança entre a cerveja base e a versão especial de Natal. O que sempre chama minha atenção nas garrafas das cervejas de Natal belgas é o cuidado com os rótulos. Sempre são bem bonitos e trazem imagens que remetem às comemorações, como árvores de Natal, Papai Noel com seu trenó e a neve, obviamente.


Neve e uma árvore de Natal no belo rótulo da St Feuillien Cuvée de Noel.

Ao contrário do que acontece na Europa, no Brasil estamos em pleno verão durante o Natal, época de muito calor. Não existe grande tradição de fabricação de cervejas de Natal em nosso país. Duas delas são a Eisenbahn Weihnachts Ale, a qual não será produzida para 2009, e a Baden Baden Christmas Beer, que ainda não encontrei também este ano. As duas são cervejas mais leves do que encontramos normalmente nas versões européias, provavelmente devido a uma adaptação para o nosso clima.

Outra cerveja de Natal que já pudemos encontrar foi a Saint Nicholas. Esta infelizmente foi uma versão limitada, feita uma única vez pela Biertruppe. Pude degustar as duas versões da Saint Nicholas exatamente há um ano atrás para o Natal de 2008. Você pode ler o post publicado sobre as duas vesões clicando aqui.

Como estamos em dezembro e já bem perto do Natal, resolvi fazer alguns posts com algumas destas cervejas especiais. A primeira delas será a St Feuillien Cuvée de Noel. A história da cervejaria St Feuillien já foi publicada aqui no blog, junto com minhas impressões sobre outras três cervejas feitas por eles. Leia o post clicando aqui.



St Feuillien Cuvée de Noel - Belgian Dark Strong Ale, 9%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Cobre escura/marrom, turva.
Espuma: Média formação e duração, cor bege, boa consistência, deixa marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, frutado (ameixa, passas), caramelo, toffee, melaço, vinho do porto, fenólico, leve picante.
Paladar: Malte, doce, frutado (ameixa, passas), caramelo, toffee, melaço, vinho do porto, chocolate, fenólico, leve picante, leve álcool, amargor presente, sensação final alcoólica, picante e doce, ótimo corpo, licoroso.

Ótima cerveja. Ela é ao mesmo tempo muito complexa e extremamente harmoniosa. Malte, lúpulo, frutado, fenóico, picante, alcoólica, tudo está presente e perfeitamente balanceado. Como destaque coloco o frutado que lembra frutas escuras, melaço, vinho do porto e a sensação fenólica picante que aquece a garganta, deixando um longo final. Deliciosa!

03 dezembro 2009

Poperings Hommel Bier




A história desta cervejaria familiar e indepedente tem início já por volta do ano de 1629. A família Van Yedegem tornou-se moradora da cidade de Watou na Bélgica (perto da fronteira com a França) e proprietária de um castelo. Anexo ao castelo eles construíram uma cervejaria. Durante a revolução francesa o castelo e a cervejaria foram destruídos e a família fugiu para a Inglaterra. No mesmo ano da destruição, a cervejaria foi reconstruída por um morador da região.

Em 1862, a cervejaria virou propriedade da família Van Eecke e recebeu um novo nome, Gouden Leeuw (leão dourado em português). Hoje a cervejaria recebe o mesmo nome da família, Van Eecke. Nesta época a cervejaria era conhecida somente na região, mas ganhou projeção depois da II Guerra Mundial. Após a Guerra eles começaram a produzir uma cerveja de abadia, a Het Kapittel. A Het Kapittel é produzida até hoje, mas a cerveja mais popular e que melhor representa a cervejaria é a Poperings Hommel Bier.

Poperinge é uma pequena cidade bem próxima de Watou e é conhecida como a capital do lúpulo na Bélgica. É uma das poucas regiões onde ainda se planta lúpulo na Bélgica e a importância desta planta é tão grande na região que eles têm até um festival de lúpulo que ocorre em setembro, na mesma época da colheita. As férias escolares coincidem com a época da colheita para que as crianças também possam ajudar. As principais variedades de lúpulo plantadas em Poperinge são Wye Target, Northern Brewer, Challenger e Hallertau. Hommel significa humulus no dialeto local e humulus é a denominação botânica do lúpulo, mais especificamente humulus lupulus.

Com esse nome dá para saber que esta é uma cerveja com um perfil lupulado bem assertivo. A Poperings Hommel Bier é uma Belgiam IPA, estilo belga que mistura as reações proporcionadas pelas cepas de fermento belgas com os maravilhosos aroma e amargor porporcionados por uma carga de lúpulo acima do que normalmente encontramos em cervejas belgas. Nesta são utilizados os lúpulos Brewers Gold e Challenger para amargor e Hallertau para aroma. A cerveja ainda recebe uma refermentação na garrafa que contribui para uma maior complexidade.


Poperings Hommel Bier - Belgian IPA, Ale, 7.5%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Âmbar, levemente turva.
Espuma: Boa formação e duração, cor marfim, consistente, formando picos, deixa marcas pelo copo.
Aroma: Lúpulo, cítrico, herbáceo, malte, adocicado, frutado (laranja, limão, maçã), leve picante, condimentado.
Paladar: Lúpulo, cítrico, malte, frutado (limão), leve picante, condimentado, amargor final destacado, com alta intensidade e duração, alta carbonatação, corpo médio, seca.

Ótima cerveja. Tem as características de uma boa Belgian Ale com o toque nada discreto de lúpulo. No aroma, o lúpulo é a primeira sensação que aparece, com notas cítricas mais destacadas, além de herbáceo e condimentado. No sabor, o lúpulo também é bem presente, principalmente cítrico. O amargor é intenso e delicioso com uma sensação residual prolongada. Sou suspeito ao falar, pois adoro cervejas lupuladas. Esta aqui eu adorei.


28 novembro 2009

Novidade no mercado: Cerveja Paulistânia


A importadora Bier & Wein atua desde 1993 com cervejas especiais. Algumas ótimas cervejas chegam ao Brasil através deles, como La Trappe, Urthel, Unibroue, Palm, Boon, Hofbrau e a cerveja de trigo mais vendida no país, a Erdinger. Neste mês de novembro foi anunciado na cidade de São Paulo o mais novo lançamento da BUW, a sua própria marca de cerveja.

Chamada de Paulistânia, esta nova cerveja tem um belo trabalho de marketing. Ela será encontrada com 12 rótulos diferentes, reproduzindo fotos antigas de locais importantes na cidade de São Paulo. Segundo a empresa, esta é uma forma de celebrar as tradições e a diversidade cultural comum a todas as metrópoles do Brasil e do mundo. A intenção, em futuras edições, é de homenagear outras cidades e povos brasileiros que fazem de São Paulo a cidade de todos. As bolachas da Paulistânia trazem textos com curiosidades e dicas sobre a cidade.

O conjunto com todos os rótulos desta primeira edição da Paulistânia pode ser visto acessando o site da cerveja: www.cervejapaulistania.com.br.

Kit da Paulistânia com duas garrafas de 600ml e uma taça.

Apesas de gostar muito destas estratégias de trabalhar a imagem de um produto, o que mais interessa a um apreciador de boas cervejas é a qualidade da bebida. Não fosse assim, uma cerveja belga sem rótulo não seria considerada a melhor do mundo! A BUW não é uma cervejaria e por isso eles terceirizaram a produção da sua cerveja. A Paulistânia é produzida sob licença pela Casa Di Conti Ltda, que fica em Cândido Mota (SP) e produz a cerveja Conti Beer. A receita utilizou dois tipos de malte e dois tipos de lúpulo. A empresa a classifica como uma Pale Lager e disponibiliza a cervejas em garrafas de 600ml. O preço anunciado para a Paulistânia é de R$7.90 em bares e restaurantes e R$4.90 em pontos de auto-serviço e lojas. A previsão é de que esteja disponível também em versão chope a partir de dezembro.

Consegui um kit contendo duas garrafas e uma taça. Aliás, belíssima taça. Tenho certeza de que vai chamar atenção dos colecionadores.


Paulistânia - Premium American Lager, 4.8%ABV, garrafa 600ml.

Cor: Dourada, límpida e brilhante.
Espuma: Média formação, média/baixa duração, cor branca, bolhas bem pequenas, boa consistência.
Aroma: Malte, lúpulo, leve cítrico (?), floral.
Paladar: Malte, biscoito, pão, leve doce, leve acidez, amargor final equilibrado, de boa duração, seca, corpo leve, refrescante.

Cerveja leve, refrescante e equilibrada. As carcterísticas principais de aroma e sabor dela remetem a malte e lúpulo. Eles estão lá, são facilmente identificáveis e estão muito bem equilibrados. O amargor dela é uma boa surpresa. No início dá a impressão de ser um amargor tímido, mas em poucos segundos ele fica mais evidente, toma a boca e deixa uma sensação gostosa na boca. Claro que a temperatura de serviço influencia muito o potencial de amargor. Se você gosta de cerveja mais amarga, recomendo não degustar muito gelada. Está muito boa para o que se propõe: uma Lager leve e refrescante para brigar com as outras que temos no mercado. Pessoalmente gostei mais do sabor que do aroma, que poderia ser mais limpo, principalmente o de lúpulo.

22 novembro 2009

Cervejas brasileiras premiadas no European Beer Star 2009

O European Beer Star é um dos concursos internacionais de cerveja mais respeitados do mundo. O concurso é realizado na Alemanha anualmente desde 2004. Nesta sexta versão foram avaliadas 836 cervejas de mais de 30 países. As cervejas são avaliadas por juízes de vários países através de testes cegos dentro de categorias pré-estabelecidas. Neste ano foram 78 juízes e 41 categorias diferentes. As melhores cervejas em cada categoria recebem medalhas de ouro, prata e bronze.

O Brasil está fazendo bonito no European Beer Star. Este já é o terceiro ano em que temos cervejas brasileiras premiadas no concurso. Desta vez timevos as seguintes premiadas:


Eisenbahn Dunkel - Ouro na categoria German Style Schwarzbier.
Eisenbahn Weizenbock - Prata na categoria South German Style Weizenbock dark/dunkel.
Bamberg Rauchbier - Prata na categoria Smoked beer/Rauchbier.
Baden Baden Stout - Bronze na categoria Dry Stout.

Destaque para o primeiro Ouro da Eisenbahn Dunkel que já faturara o bronze em 2008 e 2007. Destaque também para a Eisenbahn Weizenbock, que já ganhara o bronze em 2007, agora ficou uma posição melhor. A Baden Baden Stout era a atual campeã na categoria Dry Stout. Apesar de ter ficado com a medalha de Bronze este ano, não podemos achar que ela deixou de ser uma boa cerveja. Estar entre as premiadas já é um grande resultado. A Bamberg é novata no European Beer Star e estreou de forma sublime, abocanhando uma prata com sua deliciosa Rauchbier. Meus parabéns a todos os premiados e que venham muito mais prêmios pela frente!

Veja os resultados em todas as categorias clicando aqui.

Equipe de jurados do concurso de 2009.
Olha a nossa representante brasileira: a Cilene Saorin (destaque vermelho).
Correção de última hora: também na foto a nossa outra representante, a beer sommelier Kátia Zanatta (destaque verde).


Clique no mapa e veja a distribuição de medalhas por país.

Veja as cervejas brasileiras premiadas em anos anteriores:

2008:
Baden Baden Stout - Ouro na categoria Dry Stout.
Colorado Demoiselle - Ouro na categoria Porter.
Eisenbahn Dunkel - Bronze na categoria German Style Schwarzbier.
Eisenbahn Pilsen - Bronze na categoria Mild Beer.

2007:
Eisenbahn Dunkel - Bronze
na categoria German Style Schwarzbier.
Eisenbahn Weizenbock - Bronze na categoria South German Style Weizenbock dark.

Visite o site oficial do concurso e os resultados de anos anteriores clicando aqui.

17 novembro 2009

Hoegaarden Verboden Vrucht/ Le Fruit Défendu


A história da Hoegaarden já foi descrita neste blog em outro momento, assim como também a saborosíssima Hoegaarden Grand Cru. Para deixar esta família um pouco mais completa, desta vez vou falar de uma das irmãs mais prestigiadas: a Hoegaarden Verboden Vrucht (em neerlandês, uma das línguas oficiais da Bélgica). Esta cerveja também é conhecida como Le Fruit Défendu em francês, Forbidden Fruit em inglês ou, como diríamos em português, simplesmente Fruto Proibido.


O nome da cerveja tem um porquê. Ela foi criada entre os anos de 1980/82 pelo pai da Hoegaarden, Pierre Celis, e nasceu com outro nome, Diesters, por ter sido criada para as festividades anuais da cidade de Diest, localizada no Brabante Flamenco belga. No início ela era produzida pela cervejaria Cerckel. Quando a Cerckel foi comprada pela cervejaria Haacht, Celis foi proibido de utilizar o nome Diesters. Desta proibição ele teve a idéia de usar o nome Fruto Proibido para a cerveja.

Um dos pontos mais marcantes da Hoegaarden Verboden Vrucht/ Le Fruit Défendu é o seu belíssimo rótulo. Nele podemos ver uma ilustração de Adão e Eva no paraíso, cada um com uma taça de cerveja na mão. Com certeza estas taças estão repletas da deliciosa cerveja criada por Celis! Idéia genial retratar a cerveja como o fruto proibido no paraíso!

Adão e Eva - Pintura original de Peter Paul Rubens.

Na realidade, esta ilustração foi baseada na pintura original Adão e Eva do artista barroco Peter Paul Rubens (1577-1640). Rubens nasceu na cidade de Siegen, que fica hoje na Alemanha, mas viveu a maior parte de sua vida e desenvolveu seu trabalho em Flandres na Bélgica. No rótulo da cerveja, assim como na pintura, Adão e Eva estão seminus ( se é que uma folhinha pequena pode elevar a classificação de nudez para a seminudez).

Quando a Hoegaarden Fruto Proibido chegou pela primeira vez nos Estados Unidos ela foi banida pelo American Bureau of Alcool, Tobacco and Firearms. A cervejaria protestou na época dizendo que não se tratava de pornografia, mas de uma obra de arte de um pintor do país. A resposta do órgão americano foi que Eva deveria então segurar uma maçã e não um copo de cerveja!


Hoegaarden Verboden Vrucht/ Le Fruit Défendu - Belgiam Dark Strong Ale, Ale, 8,5%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Cobre escura, turva.
Espuma: Boa formação, média duração, cor bege, bolhas bem pequenas, boa consistência.
Aroma: Malte, adocicado, caramelo, toffee, frutado (passas), fenólico, picante, álcool, condimentado.
Paladar: Malte, doce, caramelo, toffee, frutado (passas), fenólico, picante, álcool, bom amargor final, com boa intensidade, bom corpo, boa textuta, carbonatação evidente, seca.

Ótima cerveja. O aroma infelizmente não é desprendido com muita facilidade. Melhora à medida que a bebida esquenta mas mesmo assim não é claro e limpo como já senti em outras cervejas. O sabor é bem perceptível e complexo desde o começo até o final do copo. O que mais marca é o fenólico picante, corroborado pela presença do álcool que esquenta na boca mas combina muito bem com a força da cerveja.

Belo conjunto!

14 novembro 2009

Jenlain


A Duyck é a segunda maior cervejaria independente da França, sendo até hoje controlada pela mesma família. Eles são os maiores produtores de Bières de Garde, um tradicional estilo de cerveja nascido na França.

O primeiro membro da família a fabricar cervejas foi Léon Duyck, por volta dos anos de 1900/ 1910. Léon passou sua paixão pelas cervejas ao seu filho Félix. Em 1922, Félix abriu a sua farmhouse brewery (expressão em inglês que descreve uma pequena cervejaria no campo ou na fazenda) na localidade de Jenlain, no norte da França. No início as cervejas eram vendidas em barris de madeira, abastecendo as tarbenas locais. Depois da Segunda Guerra Mundial os hábitos mudaram e as pessoas começaram beber cerveja em casa. Em 1950, Félix teve a idéia de reutilizar garrafas de champanhe já vazias para envasar suas cervejas e permitir que as pessoas pudessem desfrutar de seus produtos em casa. O uso de garrafas de champanhe para envasar cervejas pelo que li começou neste momento e até hoje é muito utilizado por várias cervejarias no mundo todo, principalmente na Bélgica.

Em 1950, o filho de Félix, Robert Duick, assumiu o comando da cervejaria. Em 1968, a cerveja fabricada pela Duyck recebeu o nove do vilarejo onde ficava: Jenlain. Na década de 70, a cervejaria passou por um grande processo de modernização. Em 1990, Raymond Duick, bisneto de Léon, assumiu o comando da cervejaria. Ele introduziu várias novas cervejas ao portfólio da empresa. Em 2005, nasceu a Jenlain Blonde, irmã mais nova da já famosa Jenlain Ambrée.

O nome Biére de Garde, que em português significa cerveja de guarda, surgiu pela forma como eram fabricadas as cervejas em pequenas cervejarias no norte da França. A fabricação ocorria durante os meses frios e esta cervejas ficavam guardadas, maturando até os meses quentes do verão, quando as altas temperaturas e leveduras selvagens poderiam atrapalhar o processo de fabricação. Com a industrialização, as Biéres de Garde praticamente desapareceram. Pequenas cervejarias foram responsáveis por manter a tradição de fabricar este estilo de cerveja de alta fermentação, caráter forte e refermentadas na garrafa (muitas vezes de champanhe) e fechadas com rolha.

Apesar da tradição das garrafas de champanhe, as Jenlain que adquiri são apresentadas em garrafas longneck. Divido com vocês as minhas impressões das duas Biére de Garde da Brasserie Duyck.


Jenlain Ambrée - Bière de Garde, Ale, 7.5%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Âmbar escura/ cobre, levemente turva.
Espuma: Média formação e média/baixa duração, cor bege clara, deixa marcas.
Aroma: Malte, adocicado, mel, caramelo, lúpulo.
Paladar: Malte, adocicado, caramelo, picante, álcool, leve amargor final, corpo médio.

Boa cerveja. Não é das mais complexas mas apresenta um aroma muito fino de malte e lúpulo. Na boca ela se mostra potente com a presença do álcool, a sensação picante e um corpo médio.


Jenlain Blonde - Biére de Garde, Ale, 7.5%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Âmbar, levemente turva.
Espuma: Boa formação, média/baixa duração, cor branca, deixa marcas pelo copo.
Aroma: Malte, doce, mel, pão, lúpulo.
Paladar: Malte, doce destacado, picante, álcool, amargor final de boa duração, corpo médio.

Boa cerveja. Apesar de ser Ale, ela não é muito frutada e as sensações que ela proporciona são muito mais relacionadas com o malte e o lúpulo, do que com produtos da reação de fermentação, a não ser pela sensação picante. O álcool é bem presenta e se faz notar. Parece muito com a sua irmã mais famosa e tradicional com a diferença da sensação caramelada que percebi na Ambrée.

07 novembro 2009

Visita à Cervejaria Baden Baden

Imagem em frente à cervejaria Baden Baden.

No final do mês de setembro tive a oportunidade de tirar merecidas férias. Já tinha ido à São Paulo diversas vezes mas nunca conhecera a cidade de Campos do Jordão, a 167 quilômetros da capital. A cidade é turística e atrai muita gente, principalmente casais, pelo seu clima frio e de romantismo. Outra grande atração para quem visita Campos do Jordão, principalmente para os apaixonados por boas cervejas, é a Baden Baden.

A cervejaria Baden Baden nasceu do sonho de quatro amigos que tinham uma paixão em comum, a cerveja, e queriam produzir cervejas especiais no Brasil. Aldo Bergamasco, Alberto Ferreira, Marcelo Moss e José Vasconcelos colocaram em prática este sonho e fundaram a cervejaria no ano de 1999. O nome da cervejaria foi inspirado no bar e restaurante de mesmo nome que fica no bairro mais famoso de Campos do Jordão, Capivari, e já faz sucesso desde 1985. Aliás Baden Baden também é o nome de uma estação de águas termais, que fica na cidade de Baden na Alemanha, e significa "banhos banhos". Um dos motivos para escolher a cidade de Campos do Jordão foi a fonte de água natural que existe nas montanhas do local. Até hoje esta água é utilizada para a fabricação das cervejas Baden Baden.

O primeiro chope lançado pela Baden Baden foi o Red Ale em abril do ano 2000. Em 2001 foi desenvolvida a cerveja Red Ale. Aliás considero esta uma grande ousadia dos sócios da Baden Baden, pois a cerveja Red Ale tem muita personalidade e um teor alcoólico mais alto, o que poderia assustar o consumidor brasileiro ainda pouco acostumado com cervejas diferentes. A aposta foi alta e deu certo. Até hoje a Red Ale é considerada por conhecedores uma das melhores cervejas da Baden Baden e durante um tempo já foi considerada a melhor cerveja feita no Brasil. Depois da Red Ale, ainda no ano de 2001 surgiram as cervejas Pilsen Cristal, Bock e Stout.

Quadro com histórico da Baden Baden.
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Quadro com histórico da Baden Baden.
Clique na imagem para visualizar.


Em 2004 foram lançadas as cervejas Golden e as edições limitadas Celebration Verão, Celebration Inverno e Christmas Beer. Em 2005, em comemoração aos 5 anos da cervejaria, foi lançada a cervaja 1999. Em janeiro de 2007 a Baden Baden foi adquirida pelo Grupo Schincariol. Em julho de 2008 foi lançada a Baden Baden Weiss, uma autêntica cerveja de trigo alemã. No final do mesmo mês foi lançada a Baden Baden Tripel, uma cerveja com edição limitada, envasada em garrafas de cerâmica e que passou por três etapas de fermentação. Em outubro de 2008 aconteceu um dos momentos mais marcantes para a Baden Baden, quando sua Stout ganhou a medalha de ouro no European Beer Star na Alemhanha, sendo escolhida como a melhor Dry Stout do concurso.

Quadro com histórico da Baden Baden.
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Quadro com prêmios conquistados pelas cervejas da Baden Baden.
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Visitar a cervejaria Baden Baden já é um dos principais programas turísticos para quem vai a Campos do Jordão. O programa é obrigatório mesmo para aqueles que não são conhecedores de cervejas especiais. Por este motivo eles montaram uma boa estrutura para receber os turistas. A visitação é guiada e durante ela é possível conhecer a história da cervejaria, os ingredientes utilizados para a fabricação da cerveja, as instalações da cervejaria e ainda degustar dois chopes, o Pilsen Cristal e o Bock, dentro de uma sala preparada para receber os visitantes. A visita custam 10 Reais por pessoa e com certeza é um ótimo programa. Depois de tudo, antes de sair da cervejaria, você pode comprar diversos artigos e souvenirs da Baden Baden na lojinha da fábrica. Lá você encontra desde camisetas, copos e até mesmo as cervejas do portifólio da Baden Baden.

Antes de ir à cervejaria tenha o cuidado de marcar a sua visita através do site www.badenbaden.com.br.

A guia fala sobre o processo de fabricação das cervejas em frente à sala de cozimento da Baden Baden.

Tanques de fermentação e maturação.

Sala de degustação.

Mais uma imagem da sala de degustação que passou por uma reforma este ano.

A cervejaria Baden Baden já foi tema de outro post por aqui. Você pode ler o post e ver fotos de todas as cervejas da Baden Baden clicando aqui.

23 outubro 2009

Voll-Damm


A cervejaria Damm nasceu no ano 1876 na cidade de Barcelona, na Espanha, a partir de uma parceria entre o cervejeiro August Kuentzmann Damm e seu primo também cervejeiro Joseph Damm. A família Damm é originária da Alsácia, região leste da França que faz fronteira com a Alemanha e a Suíça. Hoje a cervejaria é uma das mais populares na Espanha e alguns de seus produtos podem ser encontrados no Brasil. Entre eles temos a Estrella Damm (a mais popular da cervejaria e outrora chamada de Estrella Dorada), a Estrella Damm Inedit (parceria entre a cervejaria e o renomado chef de cozinha Ferran Adrià), a Bock Damm, a Estrella Damm Daura (uma cerveja sem glúten especialmente feita para celíacos), a AK Damm (homenagem ao fundador August Kuentzmann Damm) e a Voll-Damm Doble Malta.

Neste post vou descrever somente aquela que mais me encantou: a Voll-Damm Doble Malta. Esta cerveja foi criada no ano de 1953 e pode ser classificada como uma Oktoberfest/Märzen, mesmo estilo feito para a famosa festa alemã. Em alemão Voll significa cheio ou completo e seu nome combina bem com a cerveja, que tem um sabor mais pronunciado. A expressão Doble Malta descreve a maior proporção de maltes utilizados na receita desta cerveja.

A Voll-Damm já recebeu prêmios internacionais importantes. Em 2007 foi escolhida como a melhor Strong Lager pelo World Beer Award e em 2009 recebeu 3 estrelas (a mais alta pontuação) pelo iTQi (International Taste & Quality Institute) de Bruxelas.


Voll-Damm Doble Malta - Oktoberfest/Märzen, Lager, 7.2%ABV, garrafa 330ml.

Cor: Âmbar escura, límpida, brilhante.
Espuma: Boa formação e média/baixa duração, de cor branca, boa consistência, deixando marcas pelo copo.
Aroma: Malte, lúpulo, biscoito.
Paladar: Malte, caramelo, bom amargor final, de boa intensidade e duração, corpo médio/baixo, alta carbonatação.

Ótima Lager. Boa presença de malte, mas principalmente de lúpulo. Bem destacado no aroma e no sabor com um belo amargor final. Do jeito que eu gosto! Apesar de não ser muito complexa, o que não é próprio do estilo mesmo, a Voll-Damm foi uma grata surpresa para mim. Depois que começamos a conhecer um pouco mais cervejas diferenciadas ficamos mais adeptos de Ales mais complexas e encorpadas mas de vez em quando dá uma vontade de beber uma Lager gostosa. A Voll-Damm seria esta cerveja. Repetirei sempre que puder. Se tivesse um preço mais baixo (algo em torno de 5 Reais) poderia ser uma das cervejas de melhor custo benefício no país.

21 outubro 2009

Importadora Casa da Cerveja tem novo espaço para degustação

Fachada do novo espaço da Casa da Cerveja.

A Casa da Cerveja é uma importadora especializada em cervejas especiais. As sócias Káthia Borges Crescenti e Letícia Borges começaram mesmo sem conhecer muito sobre cervejas mas estão no ramo há cinco anos e têm com certeza uma das melhores variedades de cervejas importadas. Hoje contam com aproximadamente 30 cervejas diferentes vindas principalmete des países com grande tradição em fabricação de cervejas especiais: Bélgica, Alemanha, Escócia e Inglaterra. A intenção é de ainda aumentar a variedade de cervejas importadas e trazer também produtos de outros países.

Entrada do espaço decorado com placas e quadros das cervejas importadas.

Somente vendo a lista de cervejas disponíveis é que temos uma idéia no cuidado que tiveram ao escolher os produtos. Entre as cervejas comercializadas pela Casa da Cerveja estão as belgas trapistas Chimay (Tripel, Rouge e Bleu), Orval, Rochefort (6, 8 e 10), Achel (Blond e Brune) e Westmalle (Dubbel e Tripel). Se parasse por aí já seria de ótimo tamanho, mas há ainda outras excelentes belgas na variedade, entre elas La Chouffe e Mc Chouffe, Waterloo Tripel e Dubbel, Palm, Blanche de Bruxeles, Tripel Karmeliet e Pauwel Kwak. Da Inglaterra tem a deliciosa Thomas Hardy's Ale e a Black Sheep Ale e da escócia tem a Traquair House Ale.

Além das cervejas ainda podemos encontrar os respectivos copos e taças que são itens obrigatórios para os amantes da boa bebida, principalmente colecionadores.

Espaço reservado para degustação.

Detalhe do balcão que tem um mostruário das cervejas.
Nas gavetas estão as cervejas não refrigeradas.

Taças e copos disponíveis para compra inseridos na decoração do espaço.

Ontem a Casa da Cerveja inaugurou um novo espaço para receber seus clientes que queiram degustar as cervejas in loco. Eu estive lá antes da inauguração e posso dizer que o espaço é de muito bom gosto e bem agradável, permitindo que a experiência de degustar uma boa cerveja seja ainda mais saborosa.

Casa da Cerveja
Rua Lisboa, 502 - Pinheiros
São Paulo - SP
(11) 2538 5136
www.casadacerveja.com.br
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